A variação no tempo e no espaço é inerente ao funcionamento de qualquer língua. Quando procuramos explicar a origem de uma forma linguística, somos constantemente confrontados com a variação. É assim que se considera a existência de quatro grandes tipos de variação (ver Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, pág. 3):
– variação histórica ou diacrónica;
– variação geográfica, diatópica ou dialectal;
– variação sociolinguística, diastrática ou “sociolectal” [relativa ao sociolecto, isto é, à modalidade linguística de um dado grupo social];
– variação situacional, diafásica ou de registo.
Neste contexto, e do ponto de vista histórico (ou diacrónico), só podemos, por exemplo, explicar que a primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo ser, sou, surgiu como uma variante de som, que era a forma correspondente ao latim ‘sum’. A emergência da forma sou deve-se à provável analogia com formas como estou e vou, primeiras pessoas do singular no referido tempo verbal de verbos como estar e ir. Sabemos também que outra forma da primeira pessoa do singular era possível no presente do indicativo: refiro-me a “sejo”, que se relaciona com a formação do presente do conjuntivo – seja, sejas…
Em termos espaciais, o reconhecimento da variação geográfica do português permite, por seu lado, identificar a existência de, pelo menos, duas normas, a brasileira e a portuguesa, embora outras estejam em elaboração em Angola e Moçambique (ver Ivo Castro, Introdução à História do Português, Lisboa, Edições Colibri, 2004, págs. 15 e 33/39). Se reconhecer e valorizar este tipo de variação é, para alguns, confirmar a divisão na consciência linguística dos falantes em diferentes zonas geográficas, para muitos, poderá ser o diagnóstico de uma identidade local que não é incompatível com a definição de uma comunidade linguística.
Além disso, o estudo da variação geográfica, social e estilística dentro de cada país lusófono facultará certamente dados que poderão ser utilizados em contexto pedagógico. A compreensão das modalidades linguísticas usadas pelos alunos poderá contribuir para definir estratégias mais adequadas de ensino da norma-padrão na disciplina de língua materna.