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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

De burro – um derivado de burrico, conforme o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado –, passámos a ter burricada, burrical, burriqueiro e burriquete. E – foi a dúvida que nos fez chegar o consulente Rogério Monteiro, do Porto – qual poderá ser a explicação de se ter dado o nome do também chamado asno ou jumento ao termo tijolo burro*? A resposta, excelentemente fundamentada, fica disponível na rubrica O Nosso Idioma, com a assinatura do latinista nosso consultor Gonçalo Neves.

* «Chama-se tijolo burro a um tipo de tijolo maciço, de elevada resistência mecânica, com um volume de argila cozida superior a 85%, que normalmente apresenta medidas padronizadas (22 x 11 x 7 cm) e é utilizado sobretudo em trabalhos de alvenaria à vista (pilares, arcos de verga de portas e janelas, chaminés, churrasqueiras, etc.), onde pode ser disposto de diversas formas, dando origem a vários tipos de aparelho» (Gonçalo Neves).

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Confrontamo-nos diariamente com dúvidas sobre a escrita de palavras, especialmente os profissionais da comunicação social. No caso português, a verdade é que, ao alcance de todos, surgiram nos últimos anos diversos instrumentos de consulta, quer em papel, quer em formato eletrónico e em linha, geralmente motivados pela aplicação do novo Acordo Ortográfico*. A «total insegurança ortográfica» e «os erros de português frequentes em jornais e televisões» que muitos lhe atribuem diretamente – vide o que nesse ponto se refere na moção aprovada pelo fórum-colóquio Pela Língua Portuguesa, diga NÃO ao ‘Acordo Ortográfico’ de 1990!, realizado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 14 de abril p. p. (aqui noticiado)** – têm, pois, que ver, muito mais, com um generalizado descuido no bom uso do idioma nacional nos meios de comunicação portugueses. Basta ler e ouvir os recorrentes protestos de leitores e telespectadores nas colunas e nos espaços dos respetivos provedores. A começar nos reparos persistentes de quem vem ocupando o cargo no jornal mais ativamente discordante da adoção do Acordo Ortográfico em Portugal – onde, por isso mesmo, nem sequer se pode alegar, como noutros jornais, que esses erros decorram da má aplicação das novas regras ortográficas.

Alguns desses recursos de consulta rápida e cómoda (além do Ciberdúvidas, naturalmente):

– o Vocabulário Comum da Língua Portuguesa, do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, o qual abrange os vocábulos usados em Portugal e noutros países de língua portuguesa, bem como integra os diversos vocabulários nacionais já disponíveis;

– o Vocabulário Ortográfico do Português, alojado no Portal da Língua Portuguesa;

– para o público brasileiro, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras.

** Ler o texto "Adversários do Acordo Ortográfico reclamam referendo", saído neste dia no jornal Público (disponível também na rubrica Acordo Ortográfico).

** Em Portugal, facto continua a escrever-se com c, bem pronunciado e audível, ao contrário do que se sugere na formulação de certas críticas ao Acordo Ortográfico, agravando eventuais confusões, como aqui e aqui se assinalou anteriormente.

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O português compreende distintas variedades nacionais, cada qual com as suas tendências, mas nota-se grande convivência no quadrante literário: autores portugueses e angolanos vivem e escrevem no Brasil, do qual, por sua vez, saem escritores em visita por Portugal, Angola e outros países lusófonos. Terá todo este intercâmbio repercussão na língua portuguesa literária? Parece que sim, pelo menos, no caso da jornalista e escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho, que, em entrevista à revista brasileira Língua Portuguesa, a propósito do encontro Minha Pátria, Minha Língua (iniciativa já aqui noticiada), equaciona a possibilidade de um novo português literário, menos constrangido pelas fronteiras nacionais. E, já lhe tendo acontecido empregar nos seus livros o brasileirismo ônibus, em lugar de autocarro, palavra característica de Portugal, considera: «Há discursos que tentam nos reduzir, mas a vida é expansão. Entre Porto Alegre e Manaus há tantas possibilidades, digressões da língua portuguesa... Porque vou escrever autocarro se estou no Rio de Janeiro escrevendo sobre esse contexto?»

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«A República de Angola defende a elaboração de um vocabulário ortográfico nacional e a retificação de determinadas bases técnico-científicas, para validar o Acordo Ortográfico no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa», anunciou em Luanda a representante de Angola na Comissão Científica do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), Ana Paula Henriques.

A notícia, veiculada no blogue do Instituto Internacional da Língua Portuguesa – e que fica disponível também na rubrica Acordo Ortográfico – clarifica de algum modo a posição de Angola, renitente até aqui, quanto à adoção do Acordo Ortográfico. Ao mesmo tempo, os seus responsáveis reiteram a vontade de elaborarem também o seu vocabulário ortográfico, de cujos trabalhos têm estado alheados, no contexto do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa.

[Ver, ainda: Angola favorável ao Acordo Ortográfico, mas com melhorias + Angola propõe rectificações para aderir ao Acordo Ortográfico]

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Pode um uso, tido como incorreto, enraizar-se de tal modo, que os juízos em seu detrimento têm de ser revistos? Claro que sim, pelo menos, tendo em conta um exemplo que vem de Espanha. Apesar de a expressão castelhana «crisis humanitaria» (ou seja, «crise "humanitária"», já aqui muito criticada) não ter aprovação geral no país vizinho, a verdade é que a Fundación del Español Urgente (Fundéu) – entidade dinamizada pela agência Efe, que conta o apoio do BBVA e a assessoria da Real Academia Espanhola, promove o bom uso linguístico nos meios de comunicação de expressão castelhana – emitiu uma recomendação em que considera válida a associação de humanitario a substantivos como crisis (crise), catástrofe, desastre ou drama, em referência a uma situação que pressupunha a intervenção de organizações humanitárias: «En principio, la palabra humanitario significa ‘bondadoso y caritativo’ y ‘que busca el bien de todos los seres humanos’ y resulta un contrasentido en el contexto de un suceso que hay que lamentar, pero el giro puede considerarse una extensión válida por la falta de una expresión clara y concisa en español que aluda a este tipo de situaciones, generalmente asociadas a desastres naturales, conflictos o violencia generalizada y desplazamientos de población». Admitindo que «crise "humanitária"» configura um contrassenso – em espanhol, tal como em português, o adjetivo humanitário tem o mesmo sentido de «em prol da humanidade» – a Fundéu considera, porém, que se trata de uma extensão do emprego do adjetivo, a qual permite obviar à falta de uma fórmula mais económica. Além disso, acrescenta-se no referido parecer, trata-se de um uso consolidado no direito internacional humanitário.*

Os argumentos encontrados para o caso espanhol facilmente se transpõem para o português. Contudo, recorde-se que mesmo em inglês, língua em que humanitarian passou a andar associada a palavras de conotação negativa, nem sempre se considera que a nova aceção é marca de bom estilo. Teremos, mesmo assim, de habituar-nos à ideia de uma crise ser, afinal, humanitária? Fica aberta a discussão, mas, entretanto, voltamos a deixar as ligações às respostas e aos artigos que já dedicamos a este tema – unânimes a condenar tal uso:

HUMANITÁRIO; O inapropriado uso do adjectivo humanitário; Porque é incorreta a expressão «crise humanitária»?; Humanitáriohumano; Humanitário?; Errar também será "humanitário"?; Errar é humanitário?...; Como é que uma tragédia pode ser "humanitária"!?; Quando é que um drama pode ser "humanitário"?!; Caos "humanitário"?!; Humanitário e humano; A desumanidade e o humanitarismo.

* Posição contrária tinha há anos Fernando Lázaro Carreter (1923-2004), membro da Real Academia Espanhola, a propósito do massacre ocorrido em 1994 no Ruanda. O parecer então emitido por este académico espanhol pode ser lido no portal elcastellano.org.

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«Variante internacional da nossa língua» é como um jornal digital galego se refere ao português1, a propósito de um curso de iniciação ao nosso idioma que decorre em Santiago de Compostela até junho. O espírito da iniciativa, claramente favorável a uma aproximação à lusofonia, fica demonstrado através da frase promocional «a nossa língua é extensa e útil» (no cartaz reproduzido à esquerda), sugerindo, também com humor, que o galego é parte de um universo linguístico mais alargado. Do outro lado do Atlântico, as notícias dão conta de que o português é a língua que mais cresce nos Estados Unidos, em grande parte, graças às oportunidades que o Brasil ou Angola parecem por enquanto abrir aos norte-americanos. Não faltam, portanto, sinais de que a língua portuguesa está a ter reconhecimento internacional. Mas o tempo passa, e a sorte muda. Estará toda a comunidade lusófona consciente deste desafio?

1 Expressivo da atenção que o português recebe dos galegos é o memorando assinado em 19 de fevereiro p. p., entre a Junta da Galiza e o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, para a adoção do português como língua estrangeira de opção no ensino não universitário (mais informação aqui).

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A guerra civil na Síria – pontuada de acontecimentos gravíssimos como «a situação em Yarmouk [que] desceu aos mais baixos níveis de desumanidade», e que, até à data, provocou 220 mil mortos, quase quatro milhões de refugiados para os países limítrofes e cerca de, 6,7 milhões de deslocados no interior do dilacerado território sírio – é todo um cenário de incomensurável tragédia... humana. Como adequadamente se descreve numa notícia desenvolvida no jornal português Público deste dia e, depois, no respetivo Editorial – com a apropriada distinção nos qualificativos utilizados conforme o que tem conotação negativa (catástrofe, tragédia, caos, desgraça... humana) e o seu oposto (assistência, socorro, missões... humanitárias). Um excelente exemplo* que bem podia ser seguido por quantos, nos demais media nacionais, persistem no erro tantas vezes aqui assinalado.

[Vide, a este propósito: O inapropriado uso do adjectivo humanitário; Humanitáriohumano; Humanitário?; Errar também será "humanitário"?; Errar é humanitário?...; Como é que uma tragédia pode ser "humanitária"!?; Quando é que um drama pode ser "humanitário"?!; Caos "humanitário"?!; Humanitário e humano.]

* Um (acertado) rigor que não se vê noutras situações de mau uso da língua no mesmo jornal  – como é o caso da adoção da anómala grafia "jihadista", em vez da  forma jiadista, como acertadamente seguem o semanário Expresso e o diário Jornal de Notícias. Sobre as razões que fundamentam a rejeição da grafia "jihadista", leia-se Porquê jiadista, e não "jihadista", O anómalo "jihadista" e "Jihadistas" contra jiadistas.

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Porque será que temos o (mau) hábito de ir buscar certas palavras ao campo de diferentes patologias para criticar e até insultar quem é alvo do nosso desagrado ou da nossa irritação? Como é que as designações de uma afeção neurocomportamental e dos seus pacientes – deem-se os casos de autismo e autista – adquirem uma conotação depreciativa e não raro ofensiva, muito para além do sentido estrito da palavra em si? Não será tudo isto a projeção de preconceitos acerca de padrões de suposta normalidade? São estas algumas das questões levantadas pelas jornalistas Susana Venceslau e Gabriela Chagas, num trabalho difundido pela agência Lusa, assinalando o Dia Mundial de Consciencialização do Autismo, e que se disponibiliza em O Nosso Idioma. Igualmente nesta rubrica, e com a devida vénia também, transcreve-se uma crónica assinada pela jornalista Clara Ferreira Alves, publicada no semanário "Expresso" em 3/4/2015, à volta do uso do calão e dos eufemismos correspondentes no discurso produzido dentro e fora do vertiginoso mundo da comunicação digital.

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A presente atualização sublinha a importância da perspetiva histórica para a compreensão da língua portuguesa, dando relevo ao seu património de origem latina. Por exemplo, como se explica que, em linguagem mais corrente, o vocábulo prémio, a recompensa que se recebe, seja usado quase em sentido inverso, como pagamento feito por alguém, no âmbito da atividade seguradora? Em O Nosso Idioma, Gonçalo Neves, tradutor, latinista e especialista de interlinguística, dedica um estudo pormenorizado sobre as origens latinas desta palavra, traçando a sua evolução semântica no ramo dos seguros. Refira-se que o vastíssimo contributo do latim para a compreensão de várias facetas da língua portuguesa não tem recebido em Portugal a atenção devida. Antes pelo contrário. Como se dá conta, por exemplo, em Encómio ao latim + Da Matemática ao Latim + Ir ao dicionário e brincar com as palavras + Latim: língua (mais que) morta? + Vitam regit sapientia, non fortuna + Um país sem Latim.

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Uma velha questão: pode prever-se quando um nome de lugar se usa com artigo definido?* Há critérios, mas será que funcionam com o topónimo Samouco, nome de uma freguesia do concelho de Alcochete (Portugal)? E, no aportuguesamento de palavras de origem árabe, tanto faz usar ch ou x? E que significa «cavar pés-de-burro»? As respostas estão no consultório.

Lembramos que, durante a semana de celebração da Páscoa e até 6 de abril p. f., o Ciberdúvidas tem o seu consultório interrompido. Não obstante esta pausa de férias, não deixaremos de proceder a novas atualizações, como foi o caso presente – seja na colocação em linha de respostas atrasadas, seja por qualquer outro tema considerado relevante. Para assuntos que não sejam relativos a dúvidas linguísticas, continuamos disponíveis através dos contactos indicados aqui.

 

* Como assinala a nossa consultora Maria Regina Rocha no texto «Quarteira» ou «a Quarteira»? «Em Quarteira» ou «na Quarteira»?, existe um critério geral, o de considerar que são sempre precedidos de artigo definido os nomes de lugares, aldeias, vilas e cidades que têm origem em substantivos comuns. Por exemplo: «o Porto» (substantivo comum correspondente: porto), «a Figueira da Foz» (substantivo comum correspondente: figueira), «a Guarda» (substantivo comum correspondente: guarda), «a Cuba» (Alentejo; substantivo comum correspondente: a cuba = recipiente de madeira grande, onde se pisam uvas e onde se guarda o vinho ou o vinagre nas adegas; tonel grande, dorna para vinho), «o Rio de Janeiro» (susbtantivo comum correspondente: rio), «a Beira» (cidade moçambicana; correspondente ao substantivo comum beira = margem, orla, borda). Ocorrem sem artigo definido os topónimos não interpretáveis por substantivos comuns ou correspondentes a nomes próprios de pessoa (incluindo os nomes de santos): «venho de Lisboa», «visitei Macau», «vive em Luanda», «moro em São Paulo». Outro critério é ter em atenção o uso dos naturais e residentes do lugar em causa; por exemplo, embora muitos se referiram à localidade alentejana de Alvito, associando-lhe o artigo definido («vou ao Alvito»), a verdade é que quem lá vive emprega o topónimo sem essa marca de determinação: «moro em Alvito».

É de observar, porém, que nem sempre é possível prever o uso correto, porque há casos que contrariam  os critérios enunciados, os quais podem ser agrupados em dois tipos (informação e exemplos provenientes da Gramática do Português da Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, págs. 1021-1023):

a) topónimos que, apesar de coincidirem com substantivos comuns, se usam sem artigo definido (Albufeira, Espinho, Oleiros); estão também nestas condições muitos topónimos compostos em cuja constituição entram substantivos que definem tipos de lugar, como  cabo («em Cabo Delgado»), campo («de Campo Maior», «para Campo de Ourique»), castelo («em Castelo Branco», «por Castelo de Vide»), castro («de Castro Daire», «em Castro Laboreiro»), monte («para Monte Gordo»), paço («de Paço de Arcos»), ponta («em Ponta Delgada»), rio («por Rio de Mouro»), torres («em Torres Novas»), vila («de Vila de Rei», «sobre Vila Nova de Gaia»);

b) topónimos que não têm origem num substantivo comum conhecido, mas que, mesmo assim, se usam com artigo definido: «a Covilhã», «a Golegã», «o Cacém», «o Buçaco».

Sobre o uso ou não de artigo definido com nomes geográficos, sugerimos a consulta das respostas e textos seguintes: Uso do artigo definido com o artigo Ucanha; Em Alvito, e não "o" Alvito; Cuba (Alentejo)/Cubanos; Uso do artigo definido com Maputo; Na Anadia ou em Anadia?; Omissão de artigo definido com Espanha, França, Itália, Inglaterra; O uso de artigo definido com Mónaco e outros nomes de países; Topónimos com ou sem artigo; O artigo em topónimos estrangeiros; Sobre o género dos topónimos; A e à + topónimos; «Em África» ou «na África»?; [Nas] Caldas da Rainha; Hospital de Pombal; «Quarteira» ou «a Quarteira»? «Em Quarteira» ou «na Quarteira»?; Em/no Recife, de novo; Uso do artigo definido com Maputo (Moçambique)