1. Em Portugal, acumulam-se os anglicismos na promoção das mais variadas iniciativas. A Câmara Municipal do Porto apoia um festival de música com um nome luso-inglês Primavera Sound – «som de... primavera» –, onde até haverá uma área de street food, expressão da moda que substitui a mais prosaica «comida vendida na rua». Noutro quadrante, anunciam-se incentivos fiscais nas chamadas startups (num encontro que contou até com a presença do primeiro-ministro português) e uma Road 2 Web Summit, «concurso destinado a startups portuguesas que se queiram apresentar naquele que é considerado o maior evento de empreendedorismo e tecnologia da Europa» (ler – com paciência – aqui, aqui e aqui). Não faltando à língua portuguesa recursos e engenho para nomear qualquer tipo de atividade ou empreendimento, vale a pena lembrar que start-up é uma «empresa emergente»*, e uma web summit, uma «cimeira na rede».
* Nesta matéria, justifica-se sempre acompanhar o que se faz nas outras línguas românicas. É o caso do espanhol – e o sentido estratégico que no país vizinho de Portugal se dá às questões do idioma nacional e, em particular, ao seu abastardamento pelo uso desregulado dos estrangeirismos, seja na comunicação social ou no espaço público em geral. Vale por isso a pena acompanhar as sempre tão oportunas recomendações diárias promovidas pela Fundación del Español Urgente (Fundéu BBVA). Quanto ao que, aqui no Ciberdúvidas, se tem abordado sobre o tema na língua portuguesa, (re)vejam-se, entre outros, os seguintes apontamentos: Anglicismos desenfreados; A vuvuzela dos anglicismos; Anglicismos escusados e sem tradução; Desamor pela língua portuguesa; Reflexões sobre a linguagem hodierna; Web Summit, start-up e feature: como usar em português?; Por uma campanha de alfabetização de economistas, gestores e deputados; Acerca dos estrangeirismos; Lisbon South Bay; É o lifestyle, stupid; Estrangeirismos sem freio; O recurso desnecessário aos estrangeirismos e o tremendismo verbo «arrasar»; Estrangeirismos, neologismos, tecnicismos e vulgarismos na linguagem do jornal; Campeão português. Logo, em inglês.; Excessiva utilização de anglicismos; E o humor foi também em inglês?; Estrangeirismos nos jornais; Modas & Ignorância; Em português... macarrónico; E falar em português, vai desejar?; Porquê Panama Papers... em Portugal?; Falar português – uma língua que une pátrias; Estrangeirismos; «Em bom português?»: Défice de conhecimento da sua própria língua; Um cool nada fixe; My Bus porquê?; E se pensassem, antes, nos leitores... portugueses?; Porquê Dunkirk, em vez de Dunquerque?; A mania de se pronunciar à inglesa tudo e nada; A Champions de José Mourinho; Welcome!?; Contra a "ditadura" do inglês na produção científica.
2. Na rubrica O Nosso Idioma, ainda a respeito de bife, usado no calão de Portugal como sinónimo de inglês, Isabel Casanova conta breves aspetos da história da palavra. No Pelourinho, um apontamento da mesma autora alerta para a ameaça de o verbo pôr ser suplantado pelo verbo colocar com resultados duvidosos.
3. Qual é a estrutura de um soneto? «Lume dos olhos» – é, ou não, uma metáfora? E que é o «arroz pica-no-chão»? São estas as novas questões disponíveis no consultório.
4. Sobre os programas produzidos pelo Ciberdúvidas na rádio pública portuguesa, salientam-se:
– No Língua de Todos de sexta-feira, 10 de junho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 11 de junho, depois do noticiário das 9h00*), dá-se relevo a alguns brasileirismos: qual o significado de cafuné? A resposta de Sandra Duarte Tavares.
– No Páginas de Português de domingo, 12 de junho (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), o tema em foco é a situação da língua portuguesa no Luxemburgo, numa entrevista a António Callixto, ex-professor de português e ex-chefe da unidade de tradução portuguesa do Tribunal de Contas Europeu neste país.
* Hora de Portugal continental.
5. Para garantir a sustentação do serviço gracioso e sem fins comerciais aqui prestado há quase 20 anos, chamamos a atenção para a campanha SOS Ciberdúvidas. Desde já, o nosso obrigado pelos contributos de quantos, por esse mundo fora, visitam e utilizam este espaço de esclarecimento e debate das regras e dos usos diversificados da língua portuguesa.