«O Livro de Estilo do Público é peremptório ("anglicismos – deve-se evitá-los quando há o termo equivalente em português: antecedentes ou enquadramento, em vez de background; finta, em vez de dribbling; meios de comunicação social, em vez de mass media..."), mas a língua de William Shakespeare (e do prosaico George W. Bush) está a invadir as páginas do jornal.
FEEDBACK
"Alguns portugueses queriam ser americanos, mas o Tio Sam ainda não pôs mais uma estrela na sua bandeira. Limitam-se a imitá-los. Até o Público tem uma secção chamada feedback.
Não basta o Zé dos Santos com o seu NEW YORK. É triste que uma língua tão rica seja ultrapassada. É a minha convicção", escreve o leitor cibernauta zevintem@...fr.
O reparo é pertinente.
A denominação (feedback) adoptada pelo Público on-line (http://www.publico.pt/ – secção COMUNIDADE, na parte inferior da coluna dos CANAIS) é infeliz. Existem alternativas em português: reacções é uma delas...
BULLYING
"Acho lamentável que, na notícia com o título `DREN propõe mandar professores a casa de criança de Rio Tinto vítima de bullying´, publicada no vosso serviço Última hora [e na edição impressa de 24 de Maio, página 8, nota do provedor], tenham tido a necessidade de recorrer ao estrangeirismo bullying. O recurso a estrangeirismos é justificável quando não existe uma expressão equivalente em português, embora nesse caso sugira que seja explicado esse estrangeirismo em português. Mas neste caso em particular não me parece ser esse caso, acho que se poderá falar em `vítima de intimidação´", escreve Manuel Costa, um leitor da Damaia.
O reparo é pertinente.
O provedor considera a opção do Público infeliz.
BILLIONS
"No Público de 22 de Maio de 2007 surgiu uma notícia denominada `Biliões de cigarras vão voltar a atacar nos EUA´. Encontrei na Internet uma notícia da Associated Press que me elucidou melhor sobre este assunto. O que me chamou a atenção foram os biliões presentes no título e na notícia do jornal, traduzido directamente do billion americano como pude comprovar.
Mais uma vez existe falta de rigor por parte do Público: um milhar de milhões é muito diferente do milhão de milhões.
Eis o que diz o Livro de Estilo do Público sobre este assunto: `bilião – Um milhão de milhões, em português. N. B. — Atenção que, nos EUA, no Brasil e outros países americanos, um bilião são mil milhões, e ao que na Europa ocidental é bilião chamam eles trilião. Na Europa, pôs-se fim à anarquia que reinou durante décadas, com bilião a significar indistintamente mil milhões ou um milhão de milhões, na 9.ª Conferência Internacional de Pesos e Medidas, em 1948. Nas línguas francesa, inglesa, italiana, alemã e neerlandesa, pelo menos, existe mesmo um vocábulo que designa os milhares de milhões (milliard, fr. e ing.; miliardo, it.; milliarde, al.; miljard, neerl.). Cf. números.´", escreve José Paulo Andrade.
O reparo do leitor do Porto é pertinente.
O despacho da agência noticiosa norte-americana Associated Press foi mal traduzido.
"O que o leitor escreveu, citando o Livro de Estilo do Público, está certíssimo. O billion nos EUA (como no Brasil) não tem o mesmo valor que em Portugal (bilião = um milhão de milhões)", confirmou Maria Regina Rocha, professora de Português e consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
O Público errou.
Há, por outro lado, jornalistas que revelam uma notória falta de cultura.
BRITTANY
"Na edição em papel de 5 de Maio de 2007 do jornal do qual V. Exa. é Provedor, na página 17 em caixa relativa à candidata à presidência da República Francesa Ségolène Royal refere-se a uma afirmação desta efectuada na região (presume-se francesa) de Brittany (Noroeste).
Brittany (ou French Brittany) é o nome (e a grafia) da região francesa da Bretanha (em francês Bretagne). Ou seja, o jornal Público referiu-se num texto em português a uma região francesa usando uma grafia inglesa.
Assim, só posso concluir que:
1. foi utilizado um texto original de agência escrito em inglês, não tendo sido traduzido para português o nome de uma região francesa.
2. que quem escreveu o texto em caixa em questão não sabe quais são as regiões de França, qual o seu nome em português, nomeadamente uma das regiões mais históricas, como é o caso da Bretanha.
3. que quem escreveu o texto em caixa em questão acha normal que uma região francesa tenha a mesma grafia em inglês, francês e português (o que não é o caso da Bretanha).
4. que quem escreveu o texto em caixa em questão possui um nível muito fraco de conhecimento de língua e cultura francesa, bem como um nível muito fraco de conhecimento de geografia internacional em língua portuguesa.
5. que para um jornal de referência como o de V. Exa. é estranho que alguém com tais deficiências culturais escreva o texto de um artigo com a importância do mencionado.
6. que ninguém efectuou um mínimo trabalho de edição do artigo em questão (ou que então possui as mesmas deficiências culturais do autor do artigo).
Creio que se tratou apenas de um infeliz lapso. Mas este tipo de lapsos permite conclusões como as anteriores que um jornal com o de V. Exa. (o qual leio desde o primeiro número) não se pode permitir", escreve Nélson Manuel Ferreira Fernandes Rosa.
Os reparos do leitor são pertinentes.
Eis o artigo em causa: "`Escolher Nicolas Sarkozy será uma escolha perigosa´, afirmou Royal à rádio RTL. `É minha responsabilidade hoje alertar as pessoas para o risco desta candidatura e relação à violência e brutalidade que cairá sobre o país´ se Nicolas Sarkozy vencer as presidenciais. Royal fez esta afirmação na última visita de campanha à região de Brittany (Noroeste)."
Brittany corresponde a Bretanha.
A notícia de 12 linhas contém ainda uma gralha: «(...) alertar as pessoas para o risco desta candidatura e relação»... A formulação correcta era em relação, obviamente.
É desnecessário questionar o resto da prosa (sem assinatura)...»
in Público, 3 de Junho de 2007