Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

Acerca da linguagem relativa ao trânsito automóvel em Portugal, o escritor Miguel Esteves Cardoso critica a falta de economia e a artificialidade do "pretensês", ou seja, da pretensão de falar bem.

Nas auto-estradas vem o aviso: «Com chuva/Modere velocidade.» Porque é que estes sinais não conseguem falar português? Português é a língua como se fala ou como se escreve, quando se quer ser entendido.

A versão online do Diário Económico (de 18/02/2011), na notícia Ministério do Trabalho em risco de extinção, apresenta a seguinte frase:

«O Bloco de Esquerda organiza uma pantomina em torno de uma pertença moção de censura ao Governo do PS […]»

Tenho reparado que começa a ser preocupantemente corriqueira, na língua portuguesa, a utilização de conjunções e locuções subordinativas concessivas — como embora, ainda que, mesmo que — com o modo verbal indicativo, e não com o conjuntivo, como o seu uso, na maior parte das vezes, exige.

Para provar o que acabo de referir, aqui transcrevo dois exemplos recentes da autoria de dois jornalistas bastante conhecidos e de quem tenho, aliás, a melhor opinião.

Uma notícia publicada no caderno Economia do Expresso (n.º 1998, de 12 de Fevereiro de 2011) aborda a questão dos rótulos e instruções que constam nos produtos de origem chinesa comercializados em Portugal, dando alguns exemplos grosseiramente caricatos.

Assim, numa lanterna pode ler-se:

Pode-se até aceitar que empresas multinacionais estabelecidas em Portugal, empresas estrangeiras a operar em Portugal ou empresas portuguesas a operar no estrangeiro, que recrutem em Portugal quadros para trabalhar maioritariamente em/com mercados externos, coloquem anúncios de emprego bilingues, em inglês/português! Mas fará algum sentido que, em Portugal, num jornal português, dirigido sobretudo a portugueses, se redijam anúncios de emprego exclusivamente em inglês?! Ou se redijam em portug...

«Estado não sabe o que fazer aos veículos do BPN»
«O Governo já decidiu dar uma nova imagem e gestão ao BPN. Mas ainda estuda com as instâncias europeias onde parquear os veículos.» ( Expresso, caderno Economia, 15 de Janeiro de 2011, p. 3)

 

«Por motivos de ordem técnica, encontra-se interrompida a exploração na Linha Azul. Não é possível prever a duração da interrupção.»

Num dia destes entrei no Metropolitano de Lisboa, e nos painéis luminosos da estação e pelos altifalantes era esta a mensagem que passava! Cito de memória, pelo que pode haver pequenas diferenças, mas nada que comprometa o sentido da frase e o que quero dizer.

A propósito da peça teatral Garrett no Coração, voltou a ouvir-se a pronúncia /Garré/ – como se se tratasse de um nome francês terminado em -t. Nada mais errado: o nome Garrett é inglês, e o -t deve ser pronunciado, tal como acontece no inglês e como o próprio Almeida Garrett fazia questão que se dissesse em português: /Garréte/.

Todos quantos lêem jornais e revistas, e até mesmo livros, se habituaram a usar de uma imensa tolerância para com o erro em matéria de língua portuguesa. Não há, neste particular, jornais, revistas ou editoras de referência.

Pessoalmente, há muito que baixei as guardas e as expectativas. Mas, apesar disso, ainda consigo ser surpreendido.

A RTP 1 saúda diariamente os seus telespectadores com um “Bom dia Portugal”, através de um  programa informativo que ocupa as manhãs da televisão pública.

Fá-lo, contudo, de forma displicente, insatisfatória. Refiro-me à ausência de vírgula entre a saudação matinal e Portugal, a qual pode passar despercebida ao olho menos atento, mas que, na verdade, dá origem a um erro sintáctico crasso: estando em posição de vocativo, o nome Portugal deverá ser obrigatoriamente separado por vírgula.