«Por motivos de ordem técnica, encontra-se interrompida a exploração na Linha Azul. Não é possível prever a duração da interrupção.»
Num dia destes entrei no Metropolitano de Lisboa, e nos painéis luminosos da estação e pelos altifalantes era esta a mensagem que passava! Cito de memória, pelo que pode haver pequenas diferenças, mas nada que comprometa o sentido da frase e o que quero dizer.
Não sei quem foi o autor da mensagem, mas não será difícil conjecturar que tenha sido um tecnocrata a operar na retaguarda do negócio. E que não pareceu compreender que o destinatário da mensagem era o cliente, o utente do Metropolitano, e não um par seu, de departamento, de empresa, de ramo de negócio. É evidente que, do ponto de vista estritamente comercial, a exploração até pode estar interrompida. Mas do ponto de vista do cliente, e é para ele que aquela mensagem se dirige, o que se encontra interrompido é a circulação de comboios. Ademais, o conceito de exploração remete-nos exclusivamente para a dimensão comercial, para a questão da rendibilidade empresa. Ora, ao receptor da mensagem, o cliente/utente, é-lhe praticamente indiferente se há ou não anomalias de exploração com reflexos na obtenção de lucros da empresa. Curiosamente até, além dos bloqueios de comunicação que a palavra exploração introduz na frase, cujo sentido se percebe apenas pelo contexto, o seu uso, mesmo na sua dimensão específica, nem sequer é exacto. Porque é inteiramente rigoroso que a circulação de comboios se encontre interrompida. Mas não é inteiramente rigoroso que a exploração se encontre interrompida, já que o Estado continua a assegurar o financiamento à empresa, e quem pagou passe social ou bilhetes pré-comprados — a maioria dos clientes — continua a alimentar a exploração, com ou sem aquela interrupção.
O que mais surpreende na utilização da palavra exploração naquele contexto é a sua absoluta inadequação. Mais surpreende que, estando ela presente em todas as estações — escrita e dita —, não tenha havido ninguém que algures na cadeia, antes ou depois da sua aprovação, a tenha estranhado e diligenciado a sua mudança.
É que a utilização do jargão profissional fora do seu contexto de uso está no outro extremo, mas não é muito diferente, da utilização do calão no texto escrito. E se não toleramos o segundo, porque havemos de tolerar o primeiro?