«O Governo já decidiu dar uma nova imagem e gestão ao BPN. Mas ainda estuda com as instâncias europeias onde parquear os veículos.» (Expresso, caderno Economia, 15 de Janeiro de 2011, p. 3)
O que está escrito em cima é o título e o lead de uma notícia. Obviamente que a notícia é de um suplemento de economia, obviamente que é escrita por uma jornalista especializada em assuntos económicos, obviamente — ou se calhar nem tanto — que o público-alvo daquele caderno é minimamente conhecedor do jargão da arte. Mas será que não ocorreu à jornalista, que assina o texto, que pelo menos pode haver veículos (meios de transporte) no BPN e que o texto permite essa dupla leitura? E que, fora do economês, a leitura mais comum daquele título, daquele lead, é mesmo a desses outros veículos. E que poderá haver quem não perceba de todo de que veículos e de que parqueamento se está a falar? É que nada daquilo está sequer em itálico ou entre aspas assinalando a metáfora especializada. Temendo estar desactualizado, ainda consultei vários dicionários em papel e em linha actualizados, e nem um sequer apresenta os sentidos especializados de veículo financeiro e de parqueamento desses ditos veículos que o jornal lhe deu.
O problema da utilização do jargão profissional neste caso não é sequer apenas o da menor compreensão do texto, ou o da menor adesão dos leitores, porque não entendem o que lêem, é, sim, o da dupla leitura que o texto permite: a do senso comum, e maioritária, e a especializada, para os mais versados em assuntos económicos.