A língua é feita por quem a fala, e ilude-se quem julga possível despojar o discurso e as palavras da história social que nelas se inscreve.
Há 40 anos, em 25 de Abril de 1974, desencadeava-se em Portugal uma revolução ideológica, política e social com enorme impacto linguístico (na imagem, à esquerda, o conhecido cartaz de Maria Helena Vieira da Silva, A poesia está na rua, 1975, Centro de Arte Moderna, Lisboa). Palavras e expressões como povo, democracia, igualdade, revolução, socialismo, capitalismo, sociedade sem classes, reforma agrária, nacionalizações, descolonização, reação, manifestação, greve e outras eram recorrentes na comunicação oral e escrita, espelhando preocupações centradas na busca ou na reivindicação de um modelo de sociedade capaz de promover a liberdade de expressão, a participação democrática e a justiça social.
O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa associa-se também às comemorações desta data, sugerindo a consulta de dois artigos da rubrica O Nosso Idioma, com os quais se documenta a maneira como se foi fazendo depois a história linguística do 25 de Abril. Trata-se de Palavras que nasceram com a década [1974-1984], texto escrito por José Mário Costa para assinalar o 10.º aniversário da Revolução dos Cravos, e O 25 de Abril no léxico português, um estudo proposto por Margarita Correia em 2003.
Quatro décadas volvidas, que eco ainda têm neste dia as palavras e expressões mencionadas? Umas não se ouvem ou não se leem; outras parecem ter encontrado novos enquadramentos e novos sentidos, muitas vezes até em contradição com o seu passado semântico, como observa Daniela Cordeiro, em A (falsa) reforma da palavra reforma (também disponível em O Nosso Idioma). E, à semelhança de reforma, que dizer de liberdade, democracia, cidadania, empreendedorismo ou do tão insistente ajustamento? A resposta merece certamente um estudo linguístico atento, porque as palavras e os discursos que elas tecem são como caixas negras (ou caixas-pretas no Brasil) destas nossas viagens coletivas pela História.
A Ciberescola da Língua Portuguesa participa na conferência internacional Português Língua não Materna no Sistema Educativo: Avaliação de Impacto e Medidas Prospetivas, organizada pela Direção-Geral da Educação (DGE) no dia 6 de maio de 2014, no Centro Cultural de Belém. Esta iniciativa visa apresentar o estudo Avaliação de impacto e medidas prospetivas para a oferta do Português Língua não Materna no Sistema Educativo Português, o qual foi elaborado por uma equipa de investigação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (aceder ao programa provisório e ao formulário eletrónico para inscrição).
Entretanto, foram atualizadas as nossas rubricas. Em O Nosso Idioma, Edno Pimentel fala da pronúncia popular de Angola, em especial da tendência para fazer a adição de uma vogal entre consoantes (epêntese): por exemplo, "peneu", em vez de pneu. No Pelourinho, Paulo J. S. Barata comenta um caso de provável confusão entre augúrio e agoiro. No consultório, salientam-se as respostas sobre etimologia e provérbios.
O programa Língua de Todos de sexta-feira, 25 de abril (às 13h15* na RDP África, com repetição aos sábados, depois do noticiário das 9h00*), entrevista Ângelo Cristóvão, membro da Academia Galega da Língua Portuguesa, sobre a publicação, no Diário Oficial da Galiza, da Lei 1/2014 para o aproveitamento da língua portuguesa e vínculos com a lusofonia. No Páginas de Português de domingo, 27 de abril (na Antena 2, às 17h00*), Edite Estrela fala sobre a (falta de) importância da língua portuguesa nas instituições da União Europeia; o programa inclui uma crónica de Ana Sousa Martins, sobre tradução, e a rubrica Ciberdúvidas Responde, conduzida por Sandra Duarte Tavares.
O Ciberdúvidas pede-lhe ajuda para a viabilização deste espaço gracioso e sem fins lucrativos, onde se esclarecem, divulgam e debatem os mais variados temas da língua portuguesa. O nosso obrigado pelos contributos que forem generosamente enviados.