Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Aberturas
Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Mesmo que, no início de 2015, a atualidade nos traga outro tipo de preocupações, a comunicação social portuguesa lá vai fazendo (algum) eco dos desafios que a língua portuguesa enfrenta no meio da impiedosa competição global entre idiomas. Assinalamos, por exemplo:

– com indisfarçável melancolia, a despedida da língua portuguesa da página oficial da FIFA desde o início do ano de 2015, para dar lugar ao russo, tendo em vista a realização do Mundial de 2018 na Federação Russa;

– como compensação (talvez) surpreendente*, o lançamento de um portal em português pela edição em linha do Diário do Povo, órgão central do Partido Comunista Chinês, para «promover a comunicação e o intercâmbio» com os países lusófonos;

– um texto publicado no jornal Público e da autoria de Renato Epifânio, presidente do Movimento Internacional Lusófono, a propósito de um estudo da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), segundo o qual a influência de uma língua se mede pela capacidade de ligar outras;

– um artigo do jornalista Virgílio Azevedo retirado do semanário Expresso, intitulado "Como tornar a língua portuguesa mais influente no mundo", no qual se sublinha a necessidade de o português aumentar a sua influência global e preparar-se melhor para a era digital.

* Tão surpreendente quanto a Guiné Equatorial, admitida em 2014 como 9.º membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), ainda não ter uma versão em português da página eletrónica governamental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Apesar de considerarmos que dizer muito em poucas palavras é uma arte, dificilmente resistimos ao pitoresco e à expressividade que frases feitas e outros idiomatismos conferem à fala e ao discurso, aparentemente  contrariando ideais de economia e eficiência sistémica. No consultório, ao encontro desse prazer, comentam-se duas expressões desse tipo: «estar/andar em panos de vinagre» e «empurrar com  a barriga». Nesta atualização, são igualmente abordados tópicos relacionados com a pragmática (atos ilocutórios), a toponímia (a etimologia de Isna) e a ortografia (alto-astral).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Como anunciado, o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa retoma neste dia as atualizações regulares do consultório e das demais rubricas. Assim, à volta das palavras que, em Portugal, mais marcaram as notícias de 2014, a rubrica O Nosso Idioma divulga dois artigos, mais precisamente, um apontamento da jornalista Rita Pimenta sobre o regionalismo xurdir e o texto "25 palavras que marcaram 2014", publicado na revista Visão. Um tema que vem a propósito da tradicional eleição da Palavra do Ano, um passatempo organizado pela Porto Editora –  que, desta feita, teve como mais votado o vocábulo  corrupção, selecionado entre um leque de candidatas como banco, basqueiro, cibervadiagem, ébola, gamificação, legionela, selfie e o já mencionado verbo xurdir. Também fez parte desta lista o termo jiadismo – sem h, que é como manda a norma portuguesa, a despeito da persistência da forma errada na imprensa portuguesa e até na entidade promotora da votação da "Palavra do Ano 2014". A (positiva) exceção é o semanário Expresso, que passou a grafar como deve ser a palavra referente ao seguidor desse movimento: jiadista.

Outros conteúdos que ficam igualmente em linha:

– ainda em O Nosso Idioma, um texto da autoria do linguista português Carlos A. M. Gouveia para apresentação do livro A Língua Portuguesa: Teoria, Aplicação e Investigação, da professora universitária Maria Helena Mira Mateus;

– as novas respostas sobre a formação de grafiteiro, o significado de carrinha e localidade, o uso frásico do pronome de tratamento você e a sintaxe do verbo parecer.

Uma última chamada de atenção para a rubrica Notícias, onde, no contexto da linguística portuguesa, se dá conta do impacto dos resultados da segunda fase do processo de avaliação das unidades de investigação e desenvolvimento (I&D) por parte da Fundação Europeia para a Ciência. O horizonte deste novo ano é preocupante porque algumas unidades veem comprometido o seu futuro;  assinala-se, contudo, a fusão do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) com o Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada (CELGA), entidades que a FCT distinguiu com boa nota, assim garantindo a continuidade de projetos que visam desenvolver recursos para a promoção da língua portuguesa.

A todos os nossos consulentes, os votos de um excelente 2015!

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

 

 

Fui ver ao dicionário de sinónimos
A palavra mais bela sem igual
Perfeita como a nave dos Jerónimos...
E o dicionário disse-me NATAL.
 
Perguntei aos poetas que releio:
Gabriela, Régio, Goethe, Poe, Quental,
Lorca, Olegário... e a resposta veio:
Christmas... Noël... Natividad...Natal...
 
Interroguei o firmamento todo!
Cobras, formigas, pássaros, chacal!
O aço em chispa, o «pipe-line», o lodo!
E a voz das coisas respondeu NATAL.
 
Cânticos, sinos, lágrimas e versos:
Um N, um A, um T, um A, um L...
 
Perguntei a mim próprio e fiquei mudo...
Qual a mais bela das palavras, qual?
Para que perguntar se tudo, tudo,
Diz Natal, diz Natal, e diz Natal?!

Com a Adoração dos Reis Magos, do pintor Vasco Fernandes, o Grão Vasco (c. 1474-c. 1542), e versos do poeta português Adolfo Simões Müller (1909-1989), o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa também assinala a chegada do Natal e de 2015, desejando festas felizes a todos os seus consulentes.

Contamos igualmente que o novo ano nos dê razão para confiar mais no futuro, porque 2014 não foi nada animador. Com efeito, condições financeiras precárias continuam a afetar este espaço, especialmente no tocante à sua capacidade de acompanhar o progresso dos meios de gestão de conteúdos em linha e de lançar projetos para a promoção da língua portuguesa, indo ao encontro de um público tão diversificado como é o da Lusofonia. Não obstante as respostas solidárias de muitos consulentes ao apelo SOS Ciberdúvidas – a quem renovamos os nossos agradecimentos –, a verdade é que, sem outros apoios, não vai ser possível garantir a viabiização do serviço que aqui se presta, gracioso e sem fins lucrativos, nem comerciais, de esclarecimento, informação e debate sobre tudo à volta da língua portuguesa em toda a sua diversidade histórica e geográfica.

Mesmo assim, depois da pausa tradicional desta época festiva, não deixaremos de retomar as atualizações do consultório e das demais rubricas no dia 5 de janeiro. Até lá, fica bloqueado o acesso ao formulário para envio de perguntas, embora continuemos a disponibilizar material que aguarde publicação ou cuja atualidade justifique divulgação. Para assuntos que não digam respeito a dúvidas linguísticas, os contactos estão disponíveis aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Sydney é a grafia a dar ao nome da cidade australiana que as notícias puseram em foco. Porquê Sydney, e não "Sidney"? E não haverá feição mais portuguesa? Começando pelo nome inglês, sabe-se que o topónimo tem origem num apelido grafado de duas maneiras – Sidney e Sydney –, derivado de uma antiga expressão anglo-saxónicasidan iege («ilha ampla»). A cidade, contudo, passou a ser conhecida como Sydney, em homenagem ao político britânico Thomas Townshend (1733-1800), visconde Sydney – ou seja, o topónimo fixou-se em inglês com dois yy. Em Portugal, o insigne filólogo Rebelo Gonçalves registou Sídnia como alternativa vernácula a Sydney no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), mas sem sucesso; e, não tendo a forma portuguesa alcançado popularidade, aceita-se e emprega-se hoje o topónimo Sydney (pronunciado "sídni") sem o adaptar à língua portuguesa.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Ninguém deve negar ao discurso especializado o direito a criar e usar termos que permitam referir com exatidão as realidades e as noções que definem um domínio de atividade técnica ou científica. Porém, quando chega o momento de falar para todos, incluindo os leigos na matéria, já a linguagem tem de ser outra, sem cedências ao pedantismo. Na rubrica Pelourinho transcreve-se o reparo que o comentador e político português Daniel Oliveira fez no semanário Expresso em 11/12/2014, a respeito dos anglicismos que, em Portugal, tornam incompreensíveis para a maioria dos cidadãos as sessões da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão do Banco Espírito Santo (BES) e do Grupo Espírito Santo (o chamado «caso BES»)1. No entanto, a sedução pelo estrangeirismo anglo-saxónico não é coisa dos nossos tempos, porque, como revela uma nova resposta do consultório, sabemos que já na primeira metade do século XIX o escritor Almeida Garrett (1799-1854) distorcia a morfologia latina com uma criação do idioma de Shakespeare. As dúvidas desta atualização abrangem ainda outros tópicos: os usos gramaticais do verbo ter; a classe de palavras de pouco; o significado de adicionalmente; e a associação de cada a uma expressão nominal no plural.

1 Sobre este mesmo assunto relacionado com as audições na Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão do BES e do GES – o excesso de anglicismos e a linguagem eivada de tecnicismos do chamado economês, inacessíveis ao cidadão comum –, como aqui já se chamou a atenção, a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua criou um blogue com este propósito específico: o de descodificar o que aí se vai dizendo em... português que se entenda.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Em Portugal, os pregões mantêm-se, talvez já não tão presentes nem expressivos como antigamente, mas ainda eficazes como propaganda. Um apontamento do canal TVI (emissão do Jornal das 8 de 6/12/2014) redescobre essa espécie de promoção comercial primeva, feita de voz e persuasão.

 Outros registos dos pregões portugueses mais castiços encontram-se acessíveis aqui + aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Em Portugal, os falares da região que vai do Minho ao Douro, ou que se estende mais a sul, até ao Vouga – estamos no chamado «berço da Nação» –, são vistos um tanto miticamente como os mais próximos do idioma medieval que os trovadores da Galiza e de Portugal aperfeiçoaram no século XIII e a linguística histórica hoje denomina galego-português. Ao tema, o Jornal das 8, da TVI, dedicou uma reportagem (emissão de 6/12/2014), propondo uma visita à cidade do Porto para escutar os traços típicos dessa maneira de falar o português*. Aqui fica o registo, com devida vénia:

* Sem negar a utilidade e o interesse da reportagem, parece exagero afirmar – como se faz na apresentação da peça – que o Norte de Portugal tem maior variedade de sotaques e dialetos do que o Centro ou o Sul do país. Quem conheça as regiões mais meridionais verifica que se encontra aí diversidade dialetal apreciável: basta lembrar o território entre Portalegre e Castelo Branco ou o Barlavento algarvio, para já não referir os falares dos Açores ou da Madeira. Sobre variedades geográficas no território português, leiam-se o estudo já clássico de L. F. Lindley Cintra, Nova proposta de classifciação dos dialetos galego-portugueses, de 1971 (Boletim de Filologia, Lisboa, Centro de Estudos Filológicos, 22, págs. 81-116), e a proposta mais atualizada de Luísa Segura, em Variedades dialetais do português europeu, capítulo da Gramática do Português, da Fundação Calouste Gulbenkian, publicada em 2013 (págs. 85-142). Vejam-se, ainda, as respostas Percepção da pronúncia do Norte de Portugal  e Sobre a aceitabilidade das pronúncias resgionais (Portugal)

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Falando da língua espanhola, acontece empregar-se o termo castelhano. Qual a denominação mais adequada? É um tema complexo (e polémico), que não se sintetiza facilmente. Com algum apoio no jornal madrileno ABC, recordemos que, historicamente, a língua geralmente conhecida como espanhola é o castelhano, um dialeto românico surgido na região de Castela. A formação do Estado espanhol nos finais do século XV, por ação dos Reis Católicos, determinou a difusão do castelhano em quase toda a Península Ibérica, mesmo em regiões que mantêm hoje forte individualidade linguística (a Catalunha, o País Basco com Navarra e a Galiza). Até em Portugal o castelhano se disseminou, principalmente nos séculos XVI e XVII. O idioma acabou por ser falado pela maioria dos súbditos dos reis de Espanha, ou seja, tornou-se o espanhol, como que por excelência. Isto apesar de, na primeira metade do século XIX, na América Central e do Sul, a independência das colónias espanholas ter visto reforçar o uso de castellano (isto é, castelhano), ao que parece, como sinal de rejeição de tudo o que se associava à antiga metrópole.O

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

A atualidade confronta-nos constantemente com a língua e os seus usos. Com efeito, em Portugal, o escândalo à volta do Banco Espírito Santo (BES) levou o parlamento português a constituir uma comissão de inquérito. Mas, para evitar os excessos do economês, a bem de uma discussão que todos os cidadãos possam acompanhar, a deputada Mariana Mortágua (Bloco de Esquerda) teve a iniciativa de criar o Disto Tudo, um blogue cujo propósito consiste em descodificar o discurso sobre finanças e economia: «O princípio deste blogue é bastante simples: acompanhar a comissão do BES em português que se entenda. Se, no fim disto tudo, mais duas ou três pessoas ficarem a perceber o que são ativos por impostos diferidos, provisões ou obrigações subordinadas, já terá valido a pena.» Um glossário muito útil completa este novo espaço da blogosfera.

No plano internacional, perante a grave situação política na Síria e no Iraque, é sem surpresa que ocorre o vocábulo jiadismo entre os que marcaram o ano de 2014 e fazem parte da lista "A Palavra do Ano 2014", um passatempo promovido pela Porto Editora. Porto Editora que, registando (bem) nos seus diversos suportes a forma correta em português, estranhamente, adotou aqui a grafia errónea "jihadismo"1, veiculada pela generalidade dos media portugueses.

1 Pelas razões já aqui expendidas, a ortografia do português não admite o h entre duas vogais há mais de cem anos.