Os 30 anos do 25 de Abril, que se comemoram em Portugal, assinalam, jubilosamente, o colapso de uma ditadura de meio século e o fim de uma guerra colonial injusta e anacrónica. E não só.
A “Revolução dos Cravos”, como ficou para a História essa madrugada libertadora de 1974, não trouxe apenas a democracia para os portugueses e a outorga da independência para Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe (Timor, desgraçadamente, teve de suportar a invasão e a ocupação indonésia até 1999). Representou também uma outra liberdade para a língua portuguesa, deixando-lhe marcas profundíssimas, como assinalou no ano passado para o Ciberdúvidas a linguista Margarita Correia, no texto O 25 de Abril no léxico português, cuja (re)leitura aconselhamos vivamente.
Com o 25 de Abril, há 30 anos, a censura foi abolida em Portugal e extinta a PIDE/DGS, a polícia política que perseguia, prendia, torturava e matava os portugueses e africanos que pensavam politicamente de forma diferente. A torrente caudalosa que brotou do 25 de Abril desagrilhoou também a língua. Novas palavras, novas expressões, novas siglas e novos conceitos irromperam por todo o lado e em toda a parte. As livrarias encheram-se de traduções de grandes escritores até aí lidos apenas por uma elite mais viajada, tendo passado a ser traduzidos livremente em português autores tão distintos como Paul Celan, Henry Miller, Vladimir Nobokov, Simone de Beauvoir ou Jean-Paul Sartre.
Muitos e novos escritores, de Portugal a Timor, de Mário de Carvalho a Pepetela ou Mia Couto, enriqueceram ainda mais a «chama plural» que é esta nossa «língua de oito pátrias», na feliz expressão de João Carreira Bom.
Graças ao 25 de Abril, partilhamos hoje uma língua em oito países independentes, mais pujante que nunca. Esta é a língua de trabalho de doze organizações internacionais, elo de ligação de 200 milhões de seres humanos, espalhados pelos cinco continentes.
Por tudo isto, festejemos os 30 anos do 25 de Abril.