Fala-se da palavra tristeza, mas logo a vida, sem se deter, nos distrai com estrangeirismos ocos ("rangeabilidade") e designações arrepiantes ("europid"), ao mesmo tempo que avança mais séria com neologismos úteis (domótica). Mas as velhas questões, essas, felizmente, permanecem: a hifenização, a colocação do pronome átono, o sujeito subentendido, os regionalismos. Assim é uma língua viva na sua poética.
Faleceu nesta terça-feira, 4 de Março de 2008, o professor José Neves Henriques, membro do Conselho Científico da Sociedade da Língua Portuguesa e consultor do Ciberdúvidas desde a sua fundação.
Licenciado em Filologia Clássica pela Universidade de Coimbra, exerceu funções docentes no Colégio Militar durante perto de 30 anos.
Autor de várias obras de referência sobre o ensino do português, escreveu (alguns deles em parceria com a sua colega e amiga Cristina de Mello) Gramática de hoje (ed. O Livro), A Regra, a Língua e a Norma (Básica Editora), A Regra (ibidem), Comunicação e Língua Portuguesa (ibidem), Minha Terra e Minha Gente (ibidem) e A Língua e a Norma (ed. Plátano), entre outros.
Estudioso e profundo conhecedor da língua portuguesa, por que nutria uma verdadeira paixão, assegurou durante décadas o consultório do Boletim da Sociedade da Língua Portuguesa, onde foi dos seus mais solicitados e respeitados conferencistas.
No Ciberdúvidas, as suas respostas e os textos de grande clareza e simplicidade de estilo — 2180 na sua totalidade, aqui permanentemente disponíveis, no arquivo — constituem uma fonte de aprofundado esclarecimento de quantos, por esse mundo fora, lhe reconheciam a sabedoria dos mestres.
A sabedoria dos mestres — e o gosto de ensinar — a que o professor José Neves Henriques acrescentava qualidades humanas de excepção.
Cf. Morreu José Neves Henriques + Expresso, 4/03/08 + Condolências por José Neves Henriques
1. Durante o estudo de Os Lusíadas na sala de aula, é inevitável o encontro com as figuras de estilo. Muitas remetem para uma visão do mundo povoada de referências à Antiguidade Clássica, dificultando a compreensão do texto. Por isso, espreitemos, com Ana Martins, como a comunicação social portuguesa do século XXI se apropria de um velho artifício de linguagem, a antonomásia, para chutar êxitos e soltar feras.
2. Além dos tópicos em destaque, esta actualização dá relevo à toponímia, a propósito da vila de Mesão Frio (Portugal), ao léxico, a respeito do feminino de periquito, e à semântica histórica, procurando datar o valor causal de «posto que».
Falar e escrever são processos que implicam juízos e opções, como mostram as respostas deste dia. Eis alguns exemplos:
Posso dizer adequo, ou apenas adequamos e adequais? As opiniões dividem-se, e dicionários recentes apresentam a flexão completa de adequar.
O «"estado-da-arte" constitui um avanço»? Obviamente... mas o melhor é ter cuidado com estrangeirismos e redundâncias.
«O número de respostas que chegou...» ou «o número de respostas que chegaram...»? Ambas as sequências estão certas, porque tudo depende da interpretação do pronome que.
1. O Prémio Crónica João Carreira Bom, iniciativa da Sociedade da Língua Portuguesa e do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, patrocinado pela Fundação Vodafone, contemplou neste ano o trabalho de João Bénard da Costa. Actualmente director da Cinemateca Portuguesa, o percurso de Bénard da Costa estende-se ao longo de 50 anos, desde a revista O Tempo e o Modo até às crónicas que semanalmente assina no jornal Público. O júri, constituído, entre outros, pelos escritores Urbano Tavares Rodrigues e Fernando Dacosta, foi presidido por Elsa Rodrigues dos Santos, presidente da Sociedade da Língua Portuguesa.
Ler:
apassivante.
3. Uma chamada de atenção para o programa Língua de Todos, a transmitir no sábado, dia 1 de Março, depois das 9h10 (hora de Portugal), na RDP-África: nele se abordarão as regras do hífen na língua portuguesa e o conceito de pronúncia-padrão.
1. Decorre de 27 a 29 de Fevereiro a 18.ª edição do Expolíngua Portugal — Salão Português de Línguas e Cultura, fórum dedicado ao ensino e à aprendizagem das línguas. Neste ano, o convidado de honra é o espanhol, havendo, como sempre, espaços de divulgação e debate para outros idiomas estrangeiros e para o português.
2. Ainda no âmbito da Expolíngua Portugal de 2008, a Associação Portuguesa de Tradutores organiza em 28 de Fevereiro, às 15 horas, uma mesa-redonda cujo tema é o novo Acordo Ortográfico. Nela participam os professores universitários João Malaca Casteleiro e Fernando Cristóvão, o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o embaixador Luís Fonseca e o escritor e jornalista José Jorge Letria.
3. Além dos tópicos abordados nas respostas em destaque, falamos de verbos modais, do prefixo para- e de como o plural não expande uma família de palavras.
Que é como quem diz «procurar esclarecer evitando erros»: é este, como sempre, o nosso propósito.
Saiba, por isso, que:
— o uso não aceita todos os aumentativos e superlativos sintéticos que é possível formar;
— o aspecto é inerente aos verbos, mas também é marcado por outros meios linguísticos;
— em Portugal, nos ensinos básico e secundário, a terminologia gramatical continua a causar perplexidade.
Como a história e as regras de uma língua nem sempre estão à frente do nariz, propomos nesta actualização:
— compreender melhor a colocação dos pronomes átonos nas orações de infinitivo;
— descobrir a evolução semântica de calmeirão;
— distinguir voz verbal de papel semântico;
— falar de variação, a propósito de... falar;
— e procurar uma alternativa ao galicismo "tranche".
1. Divulgamos, neste dia, o lançamento de um livro de consulta de emergência sobre os casos mais correntes de hesitação nas formas de escrita e pronúncia do português, da autoria das nossas consultoras Sara Leite e Sandra Tavares.
2. Em Controvérsias, reproduzimos uma reflexão sobre o comportamento dos vários intervenientes na tomada de decisão sobre o futuro do Acordo Ortográfico.
3. Do total de 20 respostas publicadas no Consultório, relevamos as dedicadas ao léxico e aos tempos e modos verbais em diferentes construções sintácticas.
1. Pusemos em linha neste dia mais uma análise do texto do Acordo Ortográfico, pelo nosso consultor D´Silvas Filho.
2. No consultório, o destaque vai também para a atestação de palavras, na sua forma e sentido. Será que as palavras bogomilo, desmate e reflectivo existem? E, se existem, o que significam?
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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