A linguagem expõe-nos, e por isso as palavras podem ser reveladoras da origem, da educação e da idade de quem fala. Perante tal variação, a comunidade define explícita ou implicitamente um padrão de uso. É assim que surgem perguntas a focar a questão da pronúncia correcta no português europeu: como pronunciar haxixe e golo? A par disto, as hesitações de sempre nesta actualização: a concordância, a atestação de palavras e o significado delas.
1. Neste regresso após a Páscoa, falemos de viagens. Ana Martins assinala erros de linguagem que ameaçam desviar-nos dos rumos de sonho que a imprensa nos propõe. A Montra de Livros sugere a leitura de duas obras, da autoria de Ernesto d´Andrade, para explorar o que tem sido essa outra viagem, a da história da língua portuguesa — desde o longínquo passado indo-europeu ao contacto com as línguas de África.
2. Nas Controvérsias, divulgamos um texto de Isabel Pires de Lima, ex-ministra da Cultura de Portugal, sobre o novo Acordo Ortográfico.
3. Além dos tópicos em destaque, as respostas deste dia abrangem ainda: a estilística, por exemplo, a propósito de metáforas; a formação de termos especializados; a avaliação de modelos de análise gramatical.
1. Durante a Semana Santa faremos uma pequena pausa, mas estaremos de volta já no próximo dia 24 de Março. Pedimos, por isso, aos nossos prezados consulentes o favor de não nos enviarem perguntas até regressarmos.
2. Algumas convenções gráficas são tratadas nesta actualização, a par de outros tópicos nas respostas em destaque. A etimologia e os regionalismos não são esquecidos. E evocamos José Neves Henriques com uma das suas obras.
3. Uma escassa semana após o governo de Portugal ter ratificado o novo Acordo Ortográfico, o mercado editorial português acolhe o aparecimento talvez inesperado e até mesmo surpreendente de um guia e dois dicionários que já põem em prática a nova grafia. Sabe-se que é necessário um Vocabulário comum que fixe a forma de cada palavra; porém, as obras agora publicadas parecem não ter a mesma finalidade. Aguardemos, pois, que se percebam um pouco melhor os objectivos deste lançamento.
Boa Páscoa!
1. Portugal afirma-se cada vez mais como país de acolhimento de imigrantes cuja língua materna não é o português. Neste contexto, realizar-se-á nos próximos dias 11 e 12 de Abril, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o Encontro sobre Português Língua não Materna — uma iniciativa da Associação Portuguesa de Linguística (APL).
2. As mudanças trazidas pelo novo Acordo Ortográfico começam a suscitar perguntas: profiláctico vai escrever-se sem <c>? Não necessariamente. Mas parece que continuaremos a ter dúvidas sobre o grupo <gui>: porquê linguiça com o som [u]? E já que passamos à pronúncia, qual é a primeira pessoa do presente do indicativo do verbo pilotar? Vamos então às respostas deste dia...
1. O tema sugerido pode não ser dos mais agradáveis, mas a resposta Eutanásia e "eutanasiar", recentemente em linha, permitiu ao Ciberdúvidas alcançar as 23 000 respostas disponíveis. Mais se seguirão, com certeza, graças ao apoio e ao interesse constantes dos nossos consulentes.
2. Os tópicos desta actualização não se limitam aos destaques. Abordamos ainda a ambiguidade de certas orações de gerúndio, a questão do acento diferencial e os infinitivos substantivados.
1. O Brasil está em foco nesta actualização, por duas razões: primeiro, porque a visita do Presidente da República português a este país terá sido um bom pretexto para acelerar o processo de ratificação do novo Acordo Ortográfico em Portugal; depois, para compreendermos melhor a variação linguística no território brasileiro com a ajuda da nossa consultora Ida Rebelo.
2. Entretanto, saiba que:
1. São tantas as armadilhas de expressão! No Pelourinho, Ana Martins detecta palavras vazias (coisa, ideia, matéria, elemento) no discurso político; João Alferes Gonçalves encontra associações absurdas na imprensa portuguesa.
2. Em certos casos, algum significa «nenhum». A formação de um vocábulo (por exemplo, desconfiança) pode ser vista de duas maneiras. São poucas as palavras graves que terminam em ditongo oral. Às vezes, a divisão silábica é muito fácil.
Estas são algumas conclusões das respostas deste dia.
1. O Governo português aprovou finalmente uma proposta de resolução sobre o II Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, comprometendo-se a adoptar medidas para a transição, que terá um prazo de seis anos. [Ver ainda: ABL elogia aprovação de Acordo Ortográfico em Portugal + «Importante e gratificante» (Malaca Casteleiro)+ Portugal já ratificou Acordo Ortográfico + Governo português ratificou Acordo Ortográfico na véspera da partida de Cavaco Silva para o Brasil]
2. A emissão de 8 de Março do programa Língua de Todos, na RDP-África, será dedicada ao projecto «Salve, Língua de Camões», um programa de intercâmbio dramatúrgico entre Portugal, Brasil e Cabo Verde. No dia seguinte, domingo, dia 9, o programa Páginas de Português, na Antena 2, homenageia o professor José Neves Henriques, que nos deixou esta semana.
3. Além de retomarmos a questão do verbo despoletar, as respostas em destaque desta actualização incidem sobre destrinças e casos-fronteira, como, por exemplo, o uso da vírgula com as orações adverbiais. Mas há mais: a expressão «ser objecto»; a noção de aposto circunstancial; o antónimo de inteligente.
Fala-se da palavra tristeza, mas logo a vida, sem se deter, nos distrai com estrangeirismos ocos ("rangeabilidade") e designações arrepiantes ("europid"), ao mesmo tempo que avança mais séria com neologismos úteis (domótica). Mas as velhas questões, essas, felizmente, permanecem: a hifenização, a colocação do pronome átono, o sujeito subentendido, os regionalismos. Assim é uma língua viva na sua poética.
Faleceu nesta terça-feira, 4 de Março de 2008, o professor José Neves Henriques, membro do Conselho Científico da Sociedade da Língua Portuguesa e consultor do Ciberdúvidas desde a sua fundação.
Licenciado em Filologia Clássica pela Universidade de Coimbra, exerceu funções docentes no Colégio Militar durante perto de 30 anos.
Autor de várias obras de referência sobre o ensino do português, escreveu (alguns deles em parceria com a sua colega e amiga Cristina de Mello) Gramática de hoje (ed. O Livro), A Regra, a Língua e a Norma (Básica Editora), A Regra (ibidem), Comunicação e Língua Portuguesa (ibidem), Minha Terra e Minha Gente (ibidem) e A Língua e a Norma (ed. Plátano), entre outros.
Estudioso e profundo conhecedor da língua portuguesa, por que nutria uma verdadeira paixão, assegurou durante décadas o consultório do Boletim da Sociedade da Língua Portuguesa, onde foi dos seus mais solicitados e respeitados conferencistas.
No Ciberdúvidas, as suas respostas e os textos de grande clareza e simplicidade de estilo — 2180 na sua totalidade, aqui permanentemente disponíveis, no arquivo — constituem uma fonte de aprofundado esclarecimento de quantos, por esse mundo fora, lhe reconheciam a sabedoria dos mestres.
A sabedoria dos mestres — e o gosto de ensinar — a que o professor José Neves Henriques acrescentava qualidades humanas de excepção.
Cf. Morreu José Neves Henriques + Expresso, 4/03/08 + Condolências por José Neves Henriques
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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