Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Português na 1.ª pessoa Pelourinho
Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

«Qualquer homem daria tudo para estar no seu lugar, mas Matt preferia não tê-lo feito1

Estando a construção verbal na negativa, o pronome o deve preceder a forma verbal: «Qualquer homem daria tudo para estar no seu lugar, mas Matt preferia não o ter feito

Exemplos: «Vi-o ontem» ≠ «não o vi ontem»; «dei-lhe o livro» ≠ «não lhe dei o livro»; «preferia levá-lo ao futebol» ≠ «preferia não o levar ao futebol».

1 in jornal 24 Horas de 21 de Fevereiro de 2007 p. p.

«Que é que hoje aprendestes? Lembras-te?», ouviu-se à jornalista da RTP-11, autora de um peça sobre o autismo, em diálogo com uma menina afectada pela doença.

O que a jornalista devia ter dito era «O que é que tu hoje aprendeste?», sem s a terminar a forma verbal, e não esse erro, frequente na linguagem oral, em que os falantes fazem analogia com a 2.ª pessoa do singular da generalidade dos tempos verbais. 

O erro – ou, antes, o desleixo – na grafia dos números ordinais espalhou-se como o óleo despejado por um petroleiro no mar alto. É nos jornais, nas legendas da televisão e do cinema1, em romances de nomeada, até em manuais escolares – e de Português, inclusive. Não se esperava, convenhamos, é que a contaminação atingisse também os organizadores de mais uma edição do Camp...

Uma confusão recorrente

Demais ou de mais? é uma das dúvidas – e confusões – mais frequentes no português corrente, razão, de resto, de permanentes perguntas de quem consulta o Ciberdúvidas. Vejamos esta dúvida de um leitor do jornal 24 Horas1: «Nenhuma vida é demais» ou «Nenhuma vida é de mais»?

«Quem o atacou sabia onde morava e fizeram-lhe uma espera»,  escrevia-se no jornal 24 Horas de 15 de Fevereiro p. p., numa notícia sobre a agressão a um sargento da GNR.

Escrevia-se mal: o sujeito quem leva o verbo para a 3.ª pessoa do singular: «Quem o atacou sabia onde morava e fez-lhe uma espera.»

«Começa agora a desenhar-se os contornos da nova lei: período de reflexão curto, não há aconselhamento obrigatório e esta tónica de que o ministro da Saúde, pelo menos, quer que os abortos sejam feitos, prioritariamente, no Serviço Nacional de Saúde.»

Nesta frase1, o verbo começar deverá ir para a 3.ª pessoa do plural, concordando com o seu sujeito, que está no plural («os contornos da nova lei»): «Começam agora a desenhar-se os contornos da nova lei.»

TVI

«O título provisório da história, que está prevista estrear em Novembro na Globo.»

Errada esta construção.1 Trata-se de uma história, melhor dizendo, de uma «telenovela, cuja estreia está prevista para Novembro, na Globo».

Atordoada = Adormecida, Estonteada, Entontecida, Insensibilizada, Maravilhada, Pasmada

Atoarda = Boato, Rumor, Toada, Galga

O ex-presidente do Benfica João Vale e Azevedo utilizou uma vez, numa entrevista televisiva, a palavra atordoada com o sentido de atoarda e veio mais tarde penitenciar-se pelo erro, mera dislexia pontual no calor da argumentação.

Dar um título a um texto não é tarefa fácil. Se esse texto for um texto de jornal, ainda menos.

O título da notícia balança-se entre duas funções antagónicas: por um lado, deve servir de resumo do texto; por outro, deve esconder parte do seu conteúdo, criando no leitor a necessidade da leitura integral. Neste equilíbrio há um factor que é coadjuvante: a forma gramatical do título, sempre lacunar, ao dispensar artigos, preposições e reduzindo os verbos às formas de presente ou de partic...

«O que eu tenho que exigir a esta câmara é exactamente igual que tenho que exigir a todas as outras câmaras.»*

Dois aspectos a considerar nesta declaração do líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, a propósito da investigação da Polícia Judiciária feita na Câmara Municipal de Salvaterra de Magos: o emprego de “ter que” em vez de ter de e a ausência da contracção da preposição a com o pronome o (ao).