Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Português na 1.ª pessoa Pelourinho
Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

O erro – ou, antes, o desleixo – na grafia dos números ordinais espalhou-se como o óleo despejado por um petroleiro no mar alto. É nos jornais, nas legendas da televisão e do cinema1, em romances de nomeada, até em manuais escolares – e de Português, inclusive. Não se esperava, convenhamos, é que a contaminação atingisse também os organizadores de mais uma edição do Camp...

Uma confusão recorrente

Demais ou de mais? é uma das dúvidas – e confusões – mais frequentes no português corrente, razão, de resto, de permanentes perguntas de quem consulta o Ciberdúvidas. Vejamos esta dúvida de um leitor do jornal 24 Horas1: «Nenhuma vida é demais» ou «Nenhuma vida é de mais»?

«Quem o atacou sabia onde morava e fizeram-lhe uma espera»,  escrevia-se no jornal 24 Horas de 15 de Fevereiro p. p., numa notícia sobre a agressão a um sargento da GNR.

Escrevia-se mal: o sujeito quem leva o verbo para a 3.ª pessoa do singular: «Quem o atacou sabia onde morava e fez-lhe uma espera.»

«Começa agora a desenhar-se os contornos da nova lei: período de reflexão curto, não há aconselhamento obrigatório e esta tónica de que o ministro da Saúde, pelo menos, quer que os abortos sejam feitos, prioritariamente, no Serviço Nacional de Saúde.»

Nesta frase1, o verbo começar deverá ir para a 3.ª pessoa do plural, concordando com o seu sujeito, que está no plural («os contornos da nova lei»): «Começam agora a desenhar-se os contornos da nova lei.»

TVI

«O título provisório da história, que está prevista estrear em Novembro na Globo.»

Errada esta construção.1 Trata-se de uma história, melhor dizendo, de uma «telenovela, cuja estreia está prevista para Novembro, na Globo».

Atordoada = Adormecida, Estonteada, Entontecida, Insensibilizada, Maravilhada, Pasmada

Atoarda = Boato, Rumor, Toada, Galga

O ex-presidente do Benfica João Vale e Azevedo utilizou uma vez, numa entrevista televisiva, a palavra atordoada com o sentido de atoarda e veio mais tarde penitenciar-se pelo erro, mera dislexia pontual no calor da argumentação.

Dar um título a um texto não é tarefa fácil. Se esse texto for um texto de jornal, ainda menos.

O título da notícia balança-se entre duas funções antagónicas: por um lado, deve servir de resumo do texto; por outro, deve esconder parte do seu conteúdo, criando no leitor a necessidade da leitura integral. Neste equilíbrio há um factor que é coadjuvante: a forma gramatical do título, sempre lacunar, ao dispensar artigos, preposições e reduzindo os verbos às formas de presente ou de partic...

«O que eu tenho que exigir a esta câmara é exactamente igual que tenho que exigir a todas as outras câmaras.»*

Dois aspectos a considerar nesta declaração do líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, a propósito da investigação da Polícia Judiciária feita na Câmara Municipal de Salvaterra de Magos: o emprego de “ter que” em vez de ter de e a ausência da contracção da preposição a com o pronome o (ao).

A notícia referia o vídeo dado à estampa pelo jornal inglês The Sun, que retrata o  erro de dois pilotos norte-americanos, em 2003, no Iraque, provocando a morte de um soldado britânico:
«O vídeo mostra também o profundo desespero dos pilotos ao perceberem do erro cometido.»1

Perceber de significa «ser perito em», «ter bons conhecimentos sobre» (ex.: «Ele percebe de computadores»).

Aperceber-se de significa «dar-se conta de», «notar» (ex.: «Ele apercebeu-se de que o carro não tinha travões»).

Morreu Sérgio Vilarigues no passado dia 8 e quase toda a comunicação social noticiou a sua morte sem dispensar o aposto: tarrafalista.

O sufixo -ista participa na formação de nomes agentivos, ou seja, de nomes designativos de entidades que agem ou fazem algo. Este sufixo acarreta o sentido de ocupação ou ofício, ao qual se pode juntar a ideia de especialidade: alfarrabista...