Dar um título a um texto não é tarefa fácil. Se esse texto for um texto de jornal, ainda menos.
O título da notícia balança-se entre duas funções antagónicas: por um lado, deve servir de resumo do texto; por outro, deve esconder parte do seu conteúdo, criando no leitor a necessidade da leitura integral. Neste equilíbrio há um factor que é coadjuvante: a forma gramatical do título, sempre lacunar, ao dispensar artigos, preposições e reduzindo os verbos às formas de presente ou de particípio passado.
É nesta dupla função do título que entram em acção as aspas. Num contexto geral de escrita, este sinal indica que a palavra ou expressão está a ser usada num sentido figurado. As aspas sinalizam também que o autor do texto não assume a responsabilidade por aquela palavra ou expressão, pois ela foi ou é dita por outra pessoa.
Encontramos, na imprensa, exemplos diversificados das aspas em títulos.
1 – «O "não" suavizou-se e o "sim" perdeu radicalismo» (Diário de Notícias, 6/2/07): as aspas marcam os advérbios "sim" e "não" como indicadores de uma ideia que, sem esta estratégia, teria de ser expressa muito mais prolixamente: «aqueles que defendem/apoiam/fazem campanha/votam a favor/contra da despenalização do aborto».
2 – «José Sócrates volta para Portugal... "a correr"» (Expresso, 3/2/07). As aspas sinalizam o jogo entre o sentido figurado da expressão (o primeiro-ministro veio mais cedo da China) e o seu sentido próprio (o primeiro-ministro deu uma corrida em Pequim, para se manter em forma).
3 – «"Furacão" envolve mais um advogado» (DN.pt, 1/2/07). As aspas, aqui, assinalam que a palavra não é a adequada, porque se abusa da relação de cumplicidade com o leitor, mas que o jornalista não teve tempo para arranjar outra melhor.
in Sol de 9 de Fevereiro de 2007