Morreu Sérgio Vilarigues no passado dia 8 e quase toda a comunicação social noticiou a sua morte sem dispensar o aposto: tarrafalista.
O sufixo -ista participa na formação de nomes agentivos, ou seja, de nomes designativos de entidades que agem ou fazem algo. Este sufixo acarreta o sentido de ocupação ou ofício, ao qual se pode juntar a ideia de especialidade: alfarrabista, romancista, florista, foneticista, anestesista… O mesmo sufixo pode formar nomes que designam partidários de doutrinas religiosas, filosóficas, políticas, artísticas: budista (Budismo); cubista (Cubismo); positivista (Positivismo).
Conclui-se, portanto, que a gramática não ajuda à compreensão do sentido de tarrafalista. Precisamos do contexto: Sérgio Vilarigues foi um dos primeiros a ir para o campo prisional do Tarrafal, numa fase particularmente violenta e integrou o núcleo de sobreviventes do Tarrafal que reorganizou o PCP, em 1941.
Mas se lermos a nota do Secretariado do Comité Central do PCP do dia 8 ainda percebemos melhor. Aí se diz que «na sua condição de resistente antifascista e tarrafalista» Sérgio Vilarigues «participou nas comemorações que assinalaram os 70 anos da abertura do Campo do Tarrafal». Ou seja, o termo foi transferido do seu habitat político directamente para as páginas dos jornais.
Porém, a expressão ex-tarrafalista, usada pela RTP online e SIC online, pelo menos, vem baralhar tudo outra vez. O prefixo ex- tem o sentido de «estado anterior», o que sugere que Sérgio Vilarigues foi tarrafalista e deixou de o ser em alguma fase da sua vida. Mas então temos de rever o que afinal se entende por tarrafalista.
Ou talvez não valha a pena, baste-nos o facto de Sérgio Vilarigues ter estado preso no Tarrafal.