As subordinadas completivas (chamadas integrantes, na tradição luso-brasileira) são basicamente orações introduzidas normalmente pelas conjunções integrantes que ou se (Cunha e Cintra, Nova Gramática do português Contemporâneo, p. 596).
Segundo Mateus e outros, Gramática da Língua Portuguesa, p. 595, «a subordinação completiva é um dos grandes tipos de subordinação, caraterizável pelo facto de a frase subordinada constituir um argumento de um dos núcleos lexicais da frase superior [subordinante], tendo, por isso, uma distribuição aproximada da das expressões nominais [sendo por esta razão que a tradição luso-brasileira a denomina subordinação substantiva, com base na etiqueta que utiliza para a classe dos nomes: substantivo]». Ainda de acordo com as citadas autoras, «a frase completiva é um argumento obrigatório, [sendo que] a sua supressão determina a agramaticalidade da frase superior, quando considerada isoladamente de um contexto discursivo. Deste modo, podemos portanto dizer que as completivas «são uma unidade sintática da frase superior. Assim, independentemente da função sintática que desempenham na frase superior, podem ser substituídas por pronomes demonstrativos invariáveis como isto, isso, aquilo.» (idem, p.598). Ex.:
«Os críticos disseram [que o filme ganhou o festival]»
«Os críticos disseram [isso]»
«*Os críticos disseram» (agramatical)
«O João prometeu [que telefonava logo à noite]»
«O João prometeu [isso]»
«*O João prometeu» (agramatical)
«Todos lhe perguntaram [se ele afinal vinha à festa]»
«Todos lhe perguntaram [isso]»
«*Todos lhe perguntaram»
Será importante referir que, de acordo com Cunha e Cintra (ob. cit., p. 597), «depois de certos verbos que exprimem uma ordem, um desejo ou uma súplica, a língua portuguesa permite a omissão da INTEGRANTE que:
Penso daria um sofrível monge, se não fossem estes nervos miseráveis. [...]
Queira Deus não voltes mais triste... [...]».
Das reflexões aqui tecidas, resulta claro que as completivas podem, por outro lado, exercer diferentes funções sintáticas. Assim, elas podem desempenhar a função sintática, por exemplo, de:
- sujeito (chamadas subjetivas, por Cunha e Cintra):
«É possível [que o João não venha à festa]»
«[Isso] é possível»
«É verdade [que o João é alérgico a morangos]»
«[Isso] é verdade»;
- de objeto direto (objetivas diretas, em Cunha e Cintra):
«O João sabe [que estamos à espera dele]»
«O João sabe [isso]/[-o]»
«O conselho lamentou [que não lhe tenha sido comunicada a decisão]»
«O conselho lamentou[-o]»
(nestes casos, como se pode verificar, as frases completivas com a relação gramatical de Objeto Direto podem ser igualmente substituídas pelo pronome demonstrativo átono invariável [-o];
- de oblíquo (objetivas indiretas, completivas nominais, em Cunha e Cintra):
«O João insistiu [em [que fôssemos à festa dele]]»
«*O João insistiu-o» (agramatical)
«Não me esqueço [de [que estavas doente quando ele nasceu]]»
«*Não mo esqueço» (agramatical)
«Durante a Idade Média, os geógrafos não defendiam a ideia [de [que a Terra é redonda]»
«*Durante a Idade Média, os geógrafos não o defendiam a ideia» (agramatical)
(como se pode constatar, as completivas que desempenham relações gramaticais oblíquas não podem ser substituídas pelo pronome demonstrativo átono invariável [-o]).
Por outro lado, ainda, julgo que é importante termos em conta que as orações completivas podem ser finitas ou não finitas (desenvolvidas ou reduzidas, na tradição gramatical luso-brasileira). Todos os exemplos vistos até ao momento pertencem ao primeiro grupo elencado; as não finitas (ou reduzidas) são as que não se iniciam por relativo nem por conjunção subordinativa, e que têm o verbo numa das formas nominais — Infinitivo (flexionado ou não flexionado), Gerúndio ou Particípio. Ex.:
«[O filme ter ganho o festival] foi surpreendente»
«[Isso] foi surpreendente»
«O João lamenta [os pedreiros não terem concluído a obra]»
«O João lamenta[-o]»
«Os pais disseram aos miúdos [para vir(em) para casa cedo]»
«Os pais disseram[-no] aos miúdos»
Finalmente, é de referir que, como se pode constatar, as orações completivas podem ser selecionadas por verbos (ex.: afirmar, alegar, assegurar, prometer, propor, sugerir, pedir, perguntar, detestar, gostar, lamentar, ...), por adjetivos (ex.: possível, ...), ou por nomes (ex.: verdade, ...).