A ocorrência de mais de um infinitivo [um flexionado — «deverem» — e outro composto — «ser salvaguardadas»], numa construção com uma locução verbal (com o auxiliar modal dever) que constitui o núcleo verbal — «deverem ser salvaguardadas» —, no enunciado em causa — «Alerta-se para o facto de deverem ser salvaguardadas as questões relativas à garantia» —, pode parecer estranha, mas a realidade é que a frase está correta.
Trata-se de um caso de uma completiva de infinitivo flexionado1 que ocorre como complemento do nome facto, realidade de que nos fala Inês Duarte na Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Caminho, 2003, p. 631), explicitando, sobre completivas deste tipo, que «não existe qualquer restrição sobre a ocorrência em posição pré-verbal de SN (sintagmas nominais) plenos com a relação gramatical de sujeito. Assim sendo, o sujeito poderia ocorrer também antes do verbo: «Alerta-se ainda para o facto de as questões relativas à garantia deverem ser salvaguardadas.»
Nota: Não haveria, decerto, dúvida sobre a correção/gramaticalidade do enunciado se se tratasse de uma outra forma possível da frase — «Alerta-se ainda para o facto de que devem ser salvaguardadas as questões relativas à garantia» —, em que se verifica a ocorrência do indicativo (no auxiliar da locução verbal — «devem ser salvaguardadas»), o modo verbal previsto pelas completivas selecionadas como argumento interno pelo nome facto (cf. Mira Mateus et al., ob. cit., p. 600), nome este «semanticamente factivo, [que] pode seleccionar como argumento completivas finitas introduzidas por de» (idem, p. 616).
1 A legitimidade do infinitivo flexionado deve-se à necessidade da concordância com o sujeito com realização lexical — «as questões relativas à garantia» — que, nesta frase, ocorre em posição pós-verbal.