Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

As siglas têm a grande vantagem de poupar espaço (na folha de papel ou no tempo da elocução). A junção das iniciais de cada palavra de uma expressão abrevia e compacta formulações mais ou menos extensas.

Parece, pois, ser um processo de formação simples e cómodo, mas não é.

«Foram apreendidas cerca de uma tonelada de matérias perigosas.»*

«Foi apreendida cerca de uma tonelada de matérias perigosas»: assim deveria ter sido escrito.

Com efeito, o sujeito da forma verbal «foi apreendida» é «uma tonelada», um termo que está no feminino e no singular. Não importa se a tonelada é «de matérias perigosas» (plural) ou «de peixe» (singular).

Outros exemplos: «Foi apreendida uma tonelada de carapau»; «foram apreendidos quatrocentos quilos de carapau».

«Estão todos convidados – aqueles que estão aí em casa – a virem  até à Praça da Devesa.»*

Foi aqui utilizado o infinitivo flexionado («virem»), mas nesta frase não era necessário flexionar o infinitivo («Estão todos convidados a vir até à Praça da Devesa»), pois esse infinitivo é um complemento do adjectivo verbal «convidados», não havendo alteração de sujeito.
Outros exemplos: «Eles foram convidados a participar»; «eles estão cansados de esperar».

O uso do conjuntivo anda cada vez mais arredado na escrita jornalística. É este o caso:
«A Comissão Técnica das Urgências prometeu estar atenta, mas disse temer que as reformas para evitar mais ocorrências do género podem falhar por falta de meios técnicos e humanos.»1

O verbo temer exige um conjuntivo na oração integrante que se lhe segue, pois trata-se de um verbo que exprime um sentimento.

«Como se tratavam de valores baixos, o suspeito agora detido foi diversificando as agências onde fazia os depósitos, para iludir as autoridades (…)». 1

A construção "tratar-se de" significa «ser o caso de», «estar em causa», e é uma construção impessoal, o que faz com que só se conjugue na terceira pessoa do singular. Exemplos: «Trata-se de muitas pessoas», «tratava-se de várias burlas».
Portanto: «<span style="font-weight...

Primeiro, foi subcomissária da PSP, comentando os incidentes no Estádio da Luz, referindo-se ao local que fora destinado aos adeptos do Futebol Clube do Porto: «Efectivamente aquela posição não é uma posição para voltar a repetir.».

Depois, foi o próprio jornalista, autor da peça: «A PSP não quer que se voltem a repetir situações de violência».1

«As escaramuças verificaram-se quando as claques do Porto (…) chegaram, à zona do Estádio da Luz, pouco passavam das seis e meia da tarde.»1

O verbo passar tem de ficar no singular, pois o termo «das seis e meia da tarde» é apenas um seu complemento, um complemento preposicional. Logo: «As escaramuças verificaram-se quando as claques do Porto aqui chegaram, à zona do Estádio da Luz, pouco passava das seis e meia da tarde.»

O leitor José Rui Amaral escreveu-nos e trouxe para reflexão, neste espaço, o problema da ausência de uma entidade reguladora para a língua portuguesa. Deu como exemplos o uso de facilidades com o significado de serviços - uma tradução inválida do inglês facilities. Apresentou também como exemplo o termo dispensador, equivalente a distribuidor.

«Ficou cumprido o objectivo: no dia da juventude, e para assinalar a data, milhares de jovens aprovaram uma resolução contra a precaridade e pela estabilidade no emprego», referia-se numa peça do Telejornal (RTP 1, 28 de Março p. p.) sobre uma manifestação de milhares de jovens contra as políticas de emprego em Portugal.

«Longe vão os tempos onde as pessoas nasciam em casa.»*

Quando se trata de tempo, deve utilizar-se a preposição em e o relativo que: «O dia em que nasceu»; «o momento em que falou das aparições»; «o tempo em que as crianças andavam sozinhas pelos montes».

Portanto: «Longe vão os tempos em que as pessoas nasciam em casa.»

* Reportagem na RTP 1 sobre o centenário do nascimento da irmã Lúcia.