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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.
Pina Moura (mal) refogado

Nenhum reparo ao conteúdo do artigo1 que se transcreve a seguir; muito pelo contrário. Só foi pena Pina Moura ter ficado tão mal refogado2

1in Diário de Notícias de  24 de Abril de 2007

2 do particípio passado do verbo refogar [re + fogo + sufixo -ar] de refugar [«pôr de lado»; do latim refugare, «pôr em fuga»]

 

SIM, ESCOLHER PINA MOURA É UMA POUCA-VERGONHA

João Miguel Tavares

Jornalista

Ao contrário do que continua a ver-se*, a palavra juiz não leva acento na vogal i.

A regra é a seguinte: tem acento gráfico a vogal i em posição tónica, quando precedida de vogal que com ela não forma ditongo, mas exceptuam-se as situações em que esse i é seguido de consoante (diferente de s) que com ele forma sílaba ou seguido do grupo consonântico nh.

Simultaneidade, e não “simultaniedade”*, muito menos “simultanidade”, como também se vai ouvindo e lendo por aí.

Simultaneidade – palavra derivada de simultâneo: simultâneo + -i- + -dade.


* Como se ouviu na notícia do <span style="font-style:...

«Passavam pouco das 22 horas, quando o agente de guarda ao bairro deu o alerta para a central da PSP», escrevia-se numa notícia do jornal 24 Horas de 23 de Abril p. p.

Escreveu-se mal: o verbo passar tem de ficar na terceira pessoa do singular, concordando com o seu sujeito («pouco»): «pouco passava das 22 horas», «passava pouco das 22 horas»: Outro exemplo: «Quando ele chegou, já passava muito das 8 horas.»

Pergunta da repórter da RTP 1*, sobre o estado de saúde de Eusébio: «E quanto à possibilidade de [Eusébio] sair dos cuidados intensivos para o piso de medicina, após os exames que ainda faltam fazer, poderá equacionar-se essa possibilidade?»

«Após os exames que ainda falta fazer»: assim deveria ter sido dito. Com efeito, o sujeito do verbo faltar é «fazer os exames», um sujeito oracional que leva o verbo para o singular: «Ainda falta fazer os exames», «após os exames que ainda falta fazer».

«O militar de Pombal estava encarregue de garantir a segurança do público», escrevia-se numa notícia do jornal 24 Horas, de 22 de Abril, sobre um graduado da PSP que foi colhido por um carro de rali.

Antena 1, noticiário das nove da manhã de sexta-feira (13-04-07): «Portugal poderá ter de rever em alta as contas do défice público, tudo por causa das engenharias financeiras de Manuela Ferreira Leite.»

Este enunciado é pouco informativo e marcado subjectivamente.

No Telejornal (RTP 1) de segunda-feira (16 de Abril), numa reportagem sobre o facto de mais de 60 Câmaras Municipais não terem entregado os planos de defesa da floresta contra os incêndios, o ministro da Agricultura de Portugal, Jaime Silva, referiu o seguinte: «Depois desta démarche da autoridade florestal, desta última tentativa de termos todos os planos municipais concluídos, (…) aplica-se a legislação.»

Perpetrar, e não “prepetrar”, como se ouviu numa notícia do Jornal da Tarde, da RTP 1 (16 de Abril): «Os atentados prepetados por cinco bombeiros suicidas (…) deixaram os habitantes de Casablanca em estado de choque.»

Perpetrados, particípio passado do verbo perpetrar, que significa praticar, realizar, cometer. Provém do latim perpetrare (= «fazer completamente»).

O leitor Vítor Gonçalves propõe para tratamento nesta crónica a questão da contracção ou não contracção da preposição com o artigo.

É um problema miúdo, pouco visível e, no entanto, revelador do grau do conhecimento (ou sensibilidade) que o falante tem em relação à estrutura da língua.

Todos sabemos que, em português, as preposições se contraem com os artigos: de (do, dum, desse, dele, daqui); em (no, num, nesse, nele); por (per + o = pelo).