Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

Comentário de António Vitorino1, sobre a Declaração de Berlim, proferida no âmbito das comemorações dos 50 anos do Tratado de Roma: «O texto tem muito do que é típico nos textos europeus, que se costuma chamar “a árvore de Natal”: cada um pôs lá aquilo que gosta mais. Ficou uma coisa sem hierarquia, sem critério.» (...)

«Cinco meses sem nada, a dispensa vazia, os miúdos sem ténis novos.»*

Despensa não tem nada que ver com dispensa.

Despensa significa «pequeno compartimento onde normalmente se guardam produtos alimentares», enquanto dispensa significa «licença para não se fazer algo a que se está obrigado», «permissão para não cumprir algo estabelecido», «isenção», «acto ou efeito de dispensar ou de ser dispensado».


* Júlia Pinheiro, na coluna Luz Negra, no jornal 24 Horas de 26 de Março de 2007

Na final do concurso Grandes Portugueses (RTP 1, 25 de Março p. p.), a apresentadora Maria Elisa utilizou por várias vezes o agradecimento «obrigado!» em vez de obrigada!. Tratando-se de uma pessoa do sexo feminino, a exclamação devia assumir a marca do feminino, pois significa «agradecido», «grato». A apresentadora estava agradecida, grata; por isso, deveria ter exclamado: «Obrigada!»

O ministro da Economia, Manuel Pinho, promove e paga – 6 milhões de euros – uma campanha publicitária turística do Algarve, assente nesta ideia: «para vender melhor» o Algarve aos estrangeiros, o nome Algarve passou a ser... "Allgarve". (...)

Iva Domingues, a apresentadora do concurso da TVI A Bela e o Mestre, para uma das concorrentes:«É bom para levantar a moral, Liliana!» Fugiu a boca para a verdade de um programa que não prima propriamente pela moral

«É óbvio que os políticos têm de ser melhor remunerados.»1

Deve usar-se sempre mais bem em vez de melhor, quando o advérbio modifica o particípio passado de um verbo, um adjectivo verbal, como, no caso, remunerados (particípio passado de remunerar).

Portanto: «É óbvio que os políticos têm de ser mais bem remunerados

 

1Notícia do jornal 24 Horas de 25 de Março de 2007, citando uma gestora municipal visada num relatório do Tribunal de Contas

«Já houve 62 multinacionais, em cinco anos, ou seja, todos os meses, cada mês, há uma empresa multinacional, das mais ricas do mundo, que saem de Portugal.»1

Nesta frase, o verbo sair deve ficar no singular, pois concorda com o seu sujeito (que, relativo a «uma empresa multinacional»). Logo: «(…) cada mês, há uma empresa multinacional, das mais ricas do mundo, que sai de Portugal.»

A nova marca "Allgarve", apresentada pelo ministro Manuel Pinho, no passado dia 16, é uma ofensa aos algarvios, a todos os portugueses, a todos os que falam português e a todo o ser vivo pensante.

Ensina-se nas nossas escolas que os árabes entraram na Península Ibérica em 711 e aqui permaneceram cerca de cinco séculos, ocupando a faixa centro-sul. Por isso é que a presença de palavras de origem árabe é extremamente marcante no português actual.

Notícia do jornal 24 Horas, de 21 de Março p. p., sobre a preparação do Futebol Clude do Porto para o jogo com o Benfica: «Tomo Sokota regressou este mês ao Dínamo Zagreb e criou um vazio num dos grandes “fetiches” do FC Porto (…): ir buscar jogadores ao Benfica.»

Paulo Portas, a seguir ao tumultuso Conselho Nacional do CDS-PP, em declarações via Jornal da Tarde da RTP 1, de 19 de Março p. p.: «Lamento profundamente que a direcção do CDS tenha mau perder. Perdeu uma vez, perdeu duas vezes, perdeu três vezes e, quando percebeu que perdeu, bateu com a porta e foi-se embora.»