Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Português na 1.ª pessoa Pelourinho
Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

«O militar de Pombal estava encarregue de garantir a segurança do público», escrevia-se numa notícia do jornal 24 Horas, de 22 de Abril, sobre um graduado da PSP que foi colhido por um carro de rali.

Antena 1, noticiário das nove da manhã de sexta-feira (13-04-07): «Portugal poderá ter de rever em alta as contas do défice público, tudo por causa das engenharias financeiras de Manuela Ferreira Leite.»

Este enunciado é pouco informativo e marcado subjectivamente.

No Telejornal (RTP 1) de segunda-feira (16 de Abril), numa reportagem sobre o facto de mais de 60 Câmaras Municipais não terem entregado os planos de defesa da floresta contra os incêndios, o ministro da Agricultura de Portugal, Jaime Silva, referiu o seguinte: «Depois desta démarche da autoridade florestal, desta última tentativa de termos todos os planos municipais concluídos, (…) aplica-se a legislação.»

Perpetrar, e não “prepetrar”, como se ouviu numa notícia do Jornal da Tarde, da RTP 1 (16 de Abril): «Os atentados prepetados por cinco bombeiros suicidas (…) deixaram os habitantes de Casablanca em estado de choque.»

Perpetrados, particípio passado do verbo perpetrar, que significa praticar, realizar, cometer. Provém do latim perpetrare (= «fazer completamente»).

O leitor Vítor Gonçalves propõe para tratamento nesta crónica a questão da contracção ou não contracção da preposição com o artigo.

É um problema miúdo, pouco visível e, no entanto, revelador do grau do conhecimento (ou sensibilidade) que o falante tem em relação à estrutura da língua.

Todos sabemos que, em português, as preposições se contraem com os artigos: de (do, dum, desse, dele, daqui); em (no, num, nesse, nele); por (per + o = pelo).

«Alguém que se tenta passar por aquilo que não é não está a cometer um lapso, está a ter uma falta de carácter, que mina a credibilidade e afecta a sua autoridade (…).»

Nesta frase*, o pronome se está a mais. O verbo tentar – que significa «fazer um esforço para», «experimentar», «aventurar-se a», «empregar meios para conseguir» – não se usa reflexamente.

Além da confusão no emprego do aonde e do onde, temos também o mesmo sobre a diferença entre o onde e o em que. Foi o que se ouviu a António Vitorino*, referindo-se à instabilidade em Timor-Leste.

<i>De encontro a</i> ≠ <i>ao encontro de</i>

Mais uma confusão no emprego do «ir de encontro a» e do «ir ao encontro de»:

«O que não vem entre aspas faz parte do texto do jornalista. E este tem liberdade de escrever como bem entender, desde que respeite as normas jornalísticas e vá de encontro ao sentido do texto que está a escrever. O que aconteceu neste caso.»

(...)

«É um assunto para depois do intervalo — anunciou o apresentador do "Jornal da Tarde" * —, onde vamos conhecer também o último trabalho de Paulo Gonzo. Até já.»

Onde emprega-se a respeito de espaço, lugar, sítio, terra: «A terra onde ele viveu»; «a cidade onde casou»; «a casa onde mora».

Notícia do "Telejornal", na RTP 1, 8 de Abril p.p., sobre um assalto à mão armada, numa gasolineira, em Benavente: «O crime verificou-se pelas 9 horas da noite, quando a única funcionária da bomba, acompanhada pela filha, fechava a estação de serviço. Nessa altura é abordada por homens encapuçados e armados com caçadeiras.»