Notícia da SIC do dia 20-04-2007, com o jornalista em directo, do Porto: «Hoje, ao final da tarde, José Sócrates já falou quando contratou 1000 novos doutorados para investigação».
O tempo verbal usado é o pretérito perfeito do indicativo: contratou.
Os tempos verbais em português, assim como noutras línguas, não servem apenas para localizar a acção no tempo (passado, presente ou futuro), mas trazem consigo significados e valores de extrema relevância no acto de comunicação. A acção referida no pretérito perfeito não diz apenas que a acção é anterior ao tempo em que se está a falar: diz também que a acção está acabada, consumada e que é possível considerar um estado consequente ou um resultado. O pretérito perfeito é o tempo verbal da factualidade, por oposição ao futuro, que é o tempo da eventualidade.
Ora, se o telespectador estivesse atento, percebia, pelo desenvolvimento da peça, que o primeiro-ministro não contratou ninguém, apenas estava a lançar, nesse dia, um concurso para a contratação de doutorados.
Mas se o jornalista tivesse lido o que vem na página da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), teria percebido a diferença que faz um tempo verbal numa frase: aí se indica que «O Concurso Internacional para a Contratação de 1000 doutorados» integra vários concursos e que esses concursos, a atender à forma de futuro usada — serão anunciados — ainda não abriram: «Todos os concursos serão anunciados em conjunto num portal nacional da FCT referenciado na imprensa científica internacional.» (http://www.fct.mctes.pt/ciencia2007/ , consultado a 20-04-07.)
"Sol"
*Artigo publicado no semanário "Sol", de 28 de Abril de 2007