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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Há topónimos cuja escrita escapa totalmente ao controlo da norma nacional por questões de identidade e política regionais. Em Portugal, ficou famoso o caso de Rans, antes Rãs, freguesia de Penafiel, no distrito do Porto, recuperando uma forma anterior à implantação da República, à revelia da ortografia mais recente. E no Brasil? Há casos muito mais notáveis, sendo um deles Bahia: o Formulário Ortográfico de 1943 abria uma exceção para esta grafia, que, mesmo hoje, continua a ser usada oficialmente. É, pois, neste contexto que uma das novas respostas discute a legitimidade da forma escrita de outro topónimo brasileiro: trata-se de Paraty, que deveria ser Parati, mas guarda ciosamente o particularismo desse y como toque de distinção em terras de Vera Cruz. Ainda no consultório, retomam-se os temas das maiúsculas iniciais e da boa formação de palavras.

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A expressão mass media, normalmente reduzida a media, provém do inglês norte-americano, onde surgiu com base no latim media (neutro plural de medius, a, um) para designar os meios de comunicação de massas (Dicionário Houaiss). No Brasil, impôs-se o aportuguesamento ortográfico mídia (singular feminino: «a mídia») como reprodução aproximada da pronúncia anglófona, que se enraizou «graças ao seu maciço poder de cultura, comércio e finanças, manifestos em particular, no caso brasileiro, nas agências de propaganda comerciais» (idem).

Em Portugal, a situação é diferente: há quem proponha média, que desencadeia a concordância no masculino plural («os média»), mas, não se enquadrando esta forma nas regras de formação do plural do português, opta-se geralmente por aconselhar o uso da própria palavra latina media («os media») em itálico e pronunciada "média". É, pois, com estranheza que se ouve novamente "mídia" como leitura de media, na notícia da realização pela Rádio e Televisão de Portugal (RTP) da conferência Um Novo Paradigma para o Serviço Público de Media em Portugal, no Centro Cultural de Belém, no dia 20 de novembro. É que basta consultar o Prontuário Sonoro que a própria RTP disponibiliza, para saber que a pronúncia recomendada é "média", e não "mídia".

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O governo da República de Cabo Verde decidiu que o nome do país não será traduzido na correspondência que envie em língua estrangeira, o que significa, por exemplo, que Cape Verde ou Cap-Vert sejam sempre Cabo Verde nos textos oficiais cabo-verdianos elaborados em inglês ou francês. Esta prática não é imposta à diplomacia internacional, mas, pelo mundo fora, há casos de radicalismo em matéria da definição dos nomes nacionais. Lembremos a Costa do Marfim, que, de modo a pôr cobro à proliferação de traduções literais (Costa de Marfil, Ivory Coast, Elfenbeinküste, etc.), reclama internacionalmente a expressão francesa Côte d´Ivoire, sem hipótese de em cada idioma se empregar a forma vernácula.

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Otário será o macho da otária? Ou é antes o mesmo que «(um indivíduo) tolo, bronco»? Ainda acerca de histórias de palavras, assinalamos um artigo de J. R. Guzzo publicado na revista Veja, no qual, tecendo considerações críticas sobre o Brasil, o autor se refere à importância do lunfardo, isto é, da gíria (ou do calão) de Buenos Aires, como fonte de empréstimos que viajaram até àquele país. Entre tais palavras, muitas delas transferidas para outras variedades do idioma, encontra-se precisamente otário, que, segundo o Dicionário Houaiss, proviria do espanhol argentino otario, igualmente interpretável como «tolo, ingénuo», mas inicialmente um derivado de otaria (otária em português) e empregado como designação dos machos desta espécie, vistos – certamente com injustiça– como animais pesados e estúpidos. Note-se, por último, que otário, como substantivo e adjetivo de sentido pejorativo, admite o feminino otária.

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Esquecemo-nos frequentemente de que as palavras do português têm histórias díspares que são, afinal, o reflexo do percurso das nações que o usam. A herança linguística dos Romanos explica, por exemplo, que o vocábulo urso compartilhe a mesma raiz com o arménio arj, idioma também pertencente à família indo-europeia. Mas foi o contacto direto com a China que levou os Portugueses de Quinhentos a dizer chá, em vez de algo mais parecido com o espanhol ou o tea inglês. Para estas e outras curiosidades remete uma página sobre áreas etimológicas na Europa e no Mediterrâneo, a qual, apesar de escrita em inglês, é suficientemente acessível para a recomendarmos como um primeiro contacto com as origens do léxico do português.

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Palavras como história, área ou vário, que têm encontros vocálicos átonos em posição final, têm um acento gráfico que as torna aparentemente esdrúxulas (ou proparoxítonas), mas a verdade é que podem ser encaradas como graves (ou paroxítonas), e daí chamar-se-lhes «falsas esdrúxulas». A esta particularidade alude uma das novas respostas do consultório, onde se esclarecem ainda dúvidas sobre o uso do particípio passado sujeito e a locução «devido a». Na rubrica Pelourinho, divulga-se um texto proveniente de Angola mas que diz respeito aos falantes de português em geral, porque foca um vício que afeta o rigor de expressão – o pleonasmo sem função expressiva.*

* A leitura deste artigo requer alguma cautela, porque nem todos os casos aí mencionados são verdadeiros erros. Com efeito, alguns pleonasmos, pela sua expressividade, são legítimos em certos registos de língua, sobretudo os de grande informalidade; outros fixaram-se no uso e deixaram de ter uma interpretação literal («já agora»). Mesmo assim, trata-se de uma curiosa chamada de atenção para os cuidados a ter com as muitas redundâncias que atrapalham o próprio pensamento.

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Neste dia, a rubrica O Nosso Idioma divulga um artigo de Fernando Venâncio, professor universitário, crítico literário e escritor português, que mostra como a necessidade expressiva e a criatividade foram fatores decisivos na construção dos muitos derivados do substantivo posse (texto original publicado no número de outubro de 2013 da revista Ler). No Pelourinho, Paulo J. S. Barata assinala, no entanto, os limites dessa inventividade com um caso de confusão entre os prefixos de- e des-. No consultório, também o enfoque vai para a relevância de um neologismo, "descendencial", ao mesmo tempo que se discutem problemas de terminologia e classificação gramaticais.

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 De Angola chegam ecos de uma "intochicação" generalizada nas escolas, de tal maneira, que é urgente lembrar a pronúncia mais adequada deste substantivo: into[ks]icação. É este o erro em foco numa nova crónica de Edno Pimentel, disponibilizada em O Nosso Idioma (texto original publicado na coluna Professor Ferrão do semanário angolano Nova Gazeta, em 7/11/2013). Equívocos sobre pronúncia e ortografia também assaltam o consultório: orografia não é "ourografia"; e Cupido, para ser sincero, não deve ser cúpido. E, quanto à boa formação das palavras, que fazer com coadjuvância, se já se regista coadjuvação?

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Adorada ou odiada, quem diria que a sopa dá alimento à criatividade linguística? Enumeremos rapidamente algumas expressões idiomáticas que lhe fazem alusão:

– em Portugal, «levar sopa» significa «ser mal sucedido», sobretudo quando se trata de planos amorosos, mas no Brasil «dar sopa» pode encorajar certos avanços;

– muito triste é «estar às sopas de alguém», porque se vive da (incerta) caridade dessa pessoa;

– já a expressão «cair como sopa no mel» tem franca conotação positiva, aplicando-se a acontecimentos ocorridos de acordo com os nossos desejos.

E «molhar a sopa», que quererá dizer esta locução? A resposta é dada no consultório, cuja atualização inclui ainda tópicos à volta da sintaxe e da pontuação.

Estes e outros conteúdos estão igualmente disponíveis numa aplicação para smartphones.

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Pode afirmar-se que a maneira de pronunciar as vogais em sílaba não acentuada (átona) é factor de contraste no mundo de língua portuguesa. Atualmente, distinguem-se dois padrões: o brasileiro, de vocalismo normalmente bem audível, apesar de variações regionais; e o europeu, cujas vogais nessa posição parecem sussurradas por efeito da sua neutralização, padrão este que, de forma mais ou menos aproximada, tem sido seguido noutros países onde o idioma tem estatuto oficial. Assinale-se, portanto, o caso dos topónimos moçambicanos Sofala e Matola, os quais, projetados por acontecimentos infelizes para os noticiários ouvidos em Portugal, agora soam como "Sòfala" e "Màtola", com vogais abertas pré-tónicas. No português europeu, as características desta variedade e a sua história não justificam tais vogais abertas (há exceções), pelo que se recomenda dizer-se "Sufala", com o som "u" de mural, e "Mâtóla", com o som "a" da última sílaba de chora.