1. Velha, a querela à volta da conversão para português de expressões de medida – como, por exemplo: «dois litros» vs. «dois litro» ou «dezenas de milhares» vs. «dezenas de milhar» – é, de novo, retomada, agora a propósito do texto do jornalista Wilton Fonseca, "Zero: com (ou sem) plural". Publicado na sua crónica semanal no diário português i, e que fica disponível na rubrica O Nosso Idioma, é ele próprio uma reabordagem a práticas consagradas de forma diferente em Portugal e no Brasil.
2. No Brasil, «zero indica singular sempre: zero grau, zero-quilômetro. Zero hora» – vide a lista dos Os cem erros mais comuns disponibilizada no Manual de Estilo e Redação do “Estado S. Paulo”, recomendada em anterior Abertura. Em Portugal, é exatamente o contrário, como se clarificou em anteriores respostas (aqui e aqui). E (re)leia-se, ainda, o que escreveram João Andrade Peres e Telmo Móia sobre «a prática consagrada de adopção do plural mesmo quando o número inteiro é o “0”» (in Áreas Críticas da Língua Portuguesa, ed. Caminho/Leya, págs. 518-524).
3. Usos distintos da língua comum, de um lado e do outro do Atlântico, colhem-se, de resto, em vários outros «erros» apontados na lista dos “Cem mais…” atrás referida. É o caso mais conhecido do «Por que você foi?» («por que», separado, no português consagrado no Brasil) versus «Porque você foi?» (porque, advérbio interrogativo, em Portugal). Ou na não recomendação, no Brasil, de um frase como «Vou consigo» – porque, no Brasil, «”consigo” só tem um valor reflexivo (“pensou consigo mesmo”)» –, ao contrário do que se estipula em Portugal («Posso ir consigo?»).
4. «Batatinha, quando nasce, "esparrama" pelo chão». Que dizer desta frase? Por que razão o Dicionário Terminológico não contempla qualquer definição da categoria gramatical «modalidade apreciativa»? E qual é o significado de jinns, vocábulo utilizado no conto "A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho", do escritor português Mário de Carvalho? Três consultas chegadas ao Ciberdúvidas, cujas respostas ficam em linha, desde esta data.
5. E como serão os usos do português cada vez mais procurado na China, como trampolim para os seus crescentes interesses em Angola e no espaço lusófono em geral? E qual é a resposta do Estado português a esta realidade? – é o tema de fundo dos programas Língua de Todos, de sexta-feira, 29 de novembro (às 13h45*, na RDP África; repetição no dia seguinte, depois do noticiário das 9h00*), e Páginas de Português, de domingo, 1 de dezembro (às 17h00*, na Antena 2).
* Hora de Portugal continental.
6. Pelas razões já expostas anteriormente, está em risco a continuação do serviço prestado pelo Ciberdúvidas das Língua Portuguesa, gracioso e sem fins lucrativos. Sem quaisquer outros apoios – e a despeito de todos os pedidos e solicitações nesse sentido – só nos resta, como derradeiro recurso, este apelo que aqui se renova: SOS Ciberdúvidas.