Não há notícia de que os falantes dos dialetos galegos tivessem uma visão unitária de uma língua a que a chamassem globalmente galego. O mais que acontecia, pelo menos, até ao século XIV, era os falantes da Galiza ou de Portugal dizerem que falavam «em romanço» ou «em linguagem», normalmente por oposição ao latim (ver Henrique Monteagudo, Historia Social da Lingua Galega, Vigo, Galaxia, 1999, págs. 117-12). No entanto, sabe-se (ibidem) que, em finais do século XII, o trovador catalão Jofre de Foixà já distinguia o galego entre outros romances com projeção internacional (francês, provençal e siciliano). Por outro lado, não se pode esquecer que, em meados do século XV, o marquês de Santillana, ao comentar a importância dos poetas galegos e portugueses, dizia que estes compunham em «lengua gallega o portuguesa» (idem, pág. 121). O termo galego-português aparecerá muito mais tarde, com o estudo filológico da poesia medieval de poetas galegos, portugueses e de outras proveniências, que elaboravam cantigas numa modalidade literária do romance desenvolvido na Galiza e no Norte de Portugal. Conclui-se assim que as populações da Galiza e de Portugal não aplicavam de forma estável, pelo menos, até ao século XIV, um nome à língua que falavam, nem teriam consciência de poderem formar uma única comunidade linguística — situação para a qual terá certamente contribuído a formação precoce de uma fronteira política em meados do século XII.