1. Assinalam-se os 80 anos do fim da 2.ª Guerra Mundial na Europa, acontecimento que não significou mundialmente o termo do conflito, ocorrido meses mais tarde com a rendição do Japão. Os media portugueses, mais focados na campanha para as eleições convocadas em Portugal para 18 de maio, não deixam de dar relevo a cerimónias realizadas, por exemplo, em Londres, no Reino Unido, ou em Moscovo, na Federação Russa, em comemoração do fim do conflito em maio de 1945, conforme visões bastante diferentes da efeméride, para não dizer antagónicas, tendo as hostilidades na Ucrânia como pano de fundo. Mas a grande notícia com interesse internacional foi o conclave que, no Vaticano, pouco depois das 18h00 (hora local) de 8 de maio de 2025, culminou com a eleição de Leão XIV, Robert Prevost de nome próprio. No par de dias que durou o conclave, ganhou especial protagonismo visual a chaminé donde sai o fumo negro, indicativo de a votação não ter sido decisiva, ou o fumo branco, que permite proferir depois a tão desejada frase latina «habemus papam» («temos papa»). Cabe recordar que, em português, a palavra chaminé é galicismo antigo, atestado, pelo menos, desde começos do século XV, de acordo com informação do Dicionário Houaiss. Na sua origem, está, portanto, um vocábulo francês, cheminée, forma que poderia sugerir uma relação com chemin, que tem a mesma etimologia e o mesmo significado que caminho. Não é isso que se verifica, e a investigação histórica revela que cheminée vem do latim medieval, da expressão «(camera) caminata», ou seja, «sala provida de uma chaminé», em que caminata constitui um derivado de camīnus, i, «forno, fornalha», este do grego káminos, ou, com o mesmo significado e de filiação obscura (ibidem).
À volta do nome do novo papa, Leão XIV, veja-se o apontamento de Marco Neves no Instagram e o de Helder Guégués no blogue Linguagista ("A importância de se chamar Prevost", 08/05/2025). Sobre os papas que se sucederam desde 1997, ano da fundação do Ciberdúvidas, leiam-se: "Numeração de reis, papas e séculos, novamente", "Totus tuus", "Antecessor e predecessor", "Benedito ou Bento?", "As palavras do papa", "Da alva ao camauro". Na imagem, a chaminé do telhado do edifício onde se encontra a Capela Sistina, espaço de realização dos conclaves (fonte: "Gaivotas viralizam durante conclave na Capela Sistina", Correio do Povo de Penedo, 09/05/2025). Na foto, veem-se também gaivotas, cuja presença os media e as redes sociais deram especial atenção.
2. Outras preocupações são as de Discurso Académico: Complexidade Teórica e Diversidade Didática, um volume que reúne artigos apresentados no III Encontro Nacional sobre Discurso Académico (ENDA 3) e a que se dedica uma nota em Montra de Livros.
3. Como integrar no ensino básico e secundário o impacto que a Inteligência Artificial (IA) está a ter nas tarefas escolares? Na rubrica Ensino, transcreve-se com a devida vénia a reflexão que a professora, linguista e consultora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques escreveu como editorial do n.º 22 (2025) do Boletim dos Sócios da Associação de Professores de Português.
4. No Brasil, foi publicado o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) de 2024, no qual se revela que, entre os universitários, há graves lacunas no desenvolvimento da leitura crítica, da interpretação de textos e da argumentação. Em Controvérsias, partilham-se as conclusões que o gramático Fernando Pestana tira dos dados do Inaf 2024, para criticar certa definição de «norma culta» (texto publicado no mural do próprio autor no Facebook, em 07/05/2025).
5. No meio de reações ora favoráveis ora adversas, a verdade é que os falantes de português europeu usam brasileirismos e estão cada vez mais em contacto com o português do Brasil, até porque a imigração de cidadãos deste país se faz notar de forma expressiva. Em Lusofonias, divulgam-se as declarações do professor português José Manuel Diogo à jornalista Amanda Lima, em entrevista incluída no DN Brasil em 05/05/2025.
6. Se nenhum já equivale a zero, para quê usar o plural nenhuns? A pergunta faz parte da atualização que integra outras cinco questões: a locução «no ponto» está correta? Junto pode ser advérbio? Um aparte pode conter um comentário? Diz-se "cobranto" ou quebranto? O que se entende por «primo carnal»?
7. Tópicos abordados nos projetos em vídeo do Ciberdúvidas: em Ciberdúvidas Responde (episódio 33), fala-se da função sintática de lhe na frase «pegou-lhe ao colo»; e em O Ciberdúvidas Vai às Escolas (episódio 28, com a participação do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, de Mação) dão-se dicas para distinguir veem de vêm e vem.
8. Foi lançado e apresentado por Teresa Brocardo e Sampaio da Nóvoa no final de 2022, mas problemas de edição levaram infelizmente a retirá-lo do mercado. Chega agora a boa notícia de que o Dicionário da Língua Portuguesa Medieval, elaborado por Malaca Casteleiro, Maria Francisca Xavier e Maria de Lourdes Crispim, se encontra finalmente disponível. Para saber mais sobre esta obra fundamental para os estudos de linguística histórica respeitantes ao português, consulte-se o comentário que a linguista Margarita Correia fez, ainda em 2022, e que se partilha aqui.
9. Temas de dois dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa:
– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 09/05/2025 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a professora Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahia) propõe uma revisão crítica do que significa, nos dias de hoje, com a influência da Inteligência Artificial, ensinar português.
– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 11/05/2025, 12h30*; com repetição no sábado seguinte, 17/05/2025, às 15h30*), celebra-se o Dia Mundial da Língua Portuguesa através da leitura de textos de Luís de Camões, Bernardo Soares, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira e Mia Couto. Este programa conta ainda com a participação da professora Carla Marques, com um comentário acerca do neologismo e da sua importância.
* Hora oficial de Portugal continental.