1. Em Portugal, a abertura do novo escolar marcou a semana, pois, apesar da pandemia de covid-19, as atividades decorrerão presencialmente conforme orientações do Ministério da Educação. Procurando a harmonia (possível?) com as normas da Direção-Geral de Saúde, alunos e professores reencontram-se de máscara, mas nas salas de aula, lado a lado, ao contrário, portanto, do que ocorreu nos últimos meses do ano letivo transato, em que o confinamento impôs o ensino à distância.
2. Em "A covid-19 na língua" (O nosso idioma), cinco novas entradas fazem eco da inquietação decorrente desta e doutras situações: o anglicismo cyberbullying, que lembra aos incautos os perigos da navegação em linha; os nomes escravidão e fome, que denotam as ameaças da presente crise; e o termo pós-pandemia que, com o verbo voltar, marca o sonho de fuga desta sinistra "nova normalidade".
3. No Consultório, os problemas são outros, mas bem mais benignos. Voltam as questões de classificação gramatical e análise sintática, uma preocupação constante da população escolar e não só: analisa-se, pois, uma frase que envolve a regência do adjetivo grato; e fala-se da classe de palavras de quando. Também o regresso às aulas em Portugal motiva outra dúvida, sobre a boa pronúncia das palavras, a chamada ortoépia: o o final do elemento físico- no nome da disciplina de Físico-Química, é mesmo aberto? E há ainda mais uma pergunta, relativa a tipos de conta bancária: porque é que se diz e escreve «à ordem», com a contração à, e não «a ordem», visto existir «a prazo», sem essa contração? Finalmente, uma incursão na antroponímia: qual é a origem do apelido Cristino?
4. Tempos agitados estes, cuja desarmonia evoca períodos paralelos no passado. Em crónica publicada em 16 de setembro de 2020, no jornal Público, o historiador e político português Rui Tavares propõe o neologismo mundicordioso numa reflexão à volta do latinismo mundicordes, vocábulo usado por Santo Agostinho, em época extremamente conturbada. Na rubrica O nosso idioma, transcreve-se, com a devida vénia, este artigo escrito igualmente a propósito da 75.ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, que começou a 16 de setembro de 2020 e se realizou pela primeira vez em modo virtual, por causa da pandemia de covid-19.
5. Memórias e recordações de gente e eventos passados ficam associadas a nomes de ruas e lugares (topónimos), que, por sua vez, precisam, por exemplo, de placas toponímicas para adiar o implacável esquecimento do tempo. É este o tópico geral de um artigo publicado em 16 de setembro de 2020 na página Get Lisbon e dedicado às placas toponímicas mais originais, daquelas que quebram regras.
6. Quem não pensou já na possibilidade de vida extraterrestre? O tema voltou a ser notícia porque uma equipa internacional de cientistas, incluindo uma portuguesa, anunciou a descoberta de moléculas de fosfina na atmosfera de Vénus, o que sugere já ter existido vida neste planeta. O termo fosfina, da área da química, é definido pelo Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa como «fosfeto de hidrogénio (PH3) ou qualquer derivado resultante da substituição de um ou mais átomos de hidrogénio por radicais alquilo», e, segundo a mesma fonte, tem fosfamina por sinónimo.
Refira-se, a propósito, que no espanhol já se usou a forma homóloga fosfina, mas hoje o termo correto é fosfano, de acordo com uma recomendação da Fundación para el Español Urgente (Fundéu). Para o português, não parece haver alteração, mantendo-se, portanto, correto o uso de fosfina (ver também O Linguagista, de Helder Guégués).
7. Regista-se o lançamento em 22/09/2020, pela editora Guerra & Paz, do novo livro do professor universitário e tradutor Marco Neves: Pontuação em Português: Guia Prático para Escrever Melhor. Do mesmo autor, no blogue Certas Palavras, sugira-se a leitura de "O português é uma língua estranha?", um extrato do primeiro capítulo do seu livro Dicionário de Erros Falsos e Mitos do Português.
8. A RTP 2, que tem estado a emitir aos fins de semana, em repetição, alguns episódios da 10.ª e última série do magazine Cuidado com a Língua!, passa neste domingo, dia 20 de setembro, às 20h25*, o programa sobre a ilha da Madeira.
* Hora oficial de Portugal continental, ficando o programa disponivel também na RTP Play, depois de passar também na RTP Internacional nos dias 21 e 28 p.f.
8. Relativamente aos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, recordem-se os destaques: as confusões geradas pelo uso de palavras parónimas, no Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, 18 de setembro, pelas 13h20*; e um comentário da professora de Português Lúcia Vaz Pedro sobre os desafios da pandemia na abertura do ano letivo em Portugal, no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 20 de setembro, pelas 12h30*. Neste último programa, é ainda abordado o ensino à distância nos contextos português e brasileiro, pela professora brasileira Rosângela Pimenta; e a linguista Carla Marques dedica um apontamento à palavra medo.
* O Língua de Todos é repetido no sábado, dia 19 de setembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português, no sábado, dia 26 de setembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.