1. No dia 15 de janeiro completa o Ciberdúvidas 27 anos de funcionamento. É já um longo percurso faseado por períodos bons e outros preocupantemente críticos. Mas as numerosas questões e comentários enviados todos os dias diretamente a este portal ou através das redes sociais (Facebook e Instagram) são sinal de que vale a pena prosseguir, tantas são as palavras de incentivo vindas de Angola, do Brasil, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de Macau, de Moçambique, de Portugal, de São Tomé e Príncipe, de Timor-Leste – ou de qualquer outro ponto onde se fale e escreva português. No sentido de alargar o contacto com o público já conquistado, que, socioprofissionalmente, vai da área do ensino ao jornalismo, levaram-se a cabo várias iniciativas, como sejam a Dúvida da Semana (no Facebook), os Cadernos de Língua Portuguesa, os podcasts realizados conjuntamente com o Laboratório de Competências Transversais (LCT) do Iscte-Instituto Universitário de Lisboa. Tarda, no entanto, a prometida renovação gráfica e estrutural destas páginas, que são o núcleo da ação do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, desde a sua fundação em 1997 pelos jornalistas João Carreira Bom e José Mário Costa. Conserva o Ciberdúvidas também como principal propósito a divulgação de conteúdos à volta das regras e dos usos da língua portuguesa, sem descurar a sua diversidade mesmo no plano da norma, nos vários países onde tem estatuto oficial. Não sendo fácil defender a perspetiva e o apelo da unidade da língua, o objetivo do Ciberdúvidas é, pois, ambicioso mas não irrealista, como bem demonstra Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, em O Nosso Idioma, fazendo um balanço de mais um ano de intensa atividade neste espaço de acesso livre e gratuito, dedicado ao esclarecimento, reflexão e debate de temas do idioma que nos é comum.
Na imagem, cartografia da língua portuguesa na atualidade, numa imagem da revista Gerador, n.º 42, pp. 128-129.
2. A oralidade ocupa lugar importante na disciplina de Português, mas há ainda muito por investigar e por fazer na prática pedagógica. Na Montra de Livros, apresenta-se o número 60-61 da revista Palavras, da Associação de Professores de Português, editado por Carla Marques e precisamente dedicado ao ensino da oralidade.
3. O impacto das questões de género, identidade e inclusão nas línguas naturais, entre elas, o português, continua na ordem do dia. Ao encontro desta discussão, a consultora Sara Mourato comenta, em O Nosso Idioma, o uso de termos como não binariedade e bigeneridade conforme aparecem num trabalho da Sic Notícias.
4. Diz-se «o mais brevemente possível» ou «o mais breve possível»? Esta é uma das seis perguntas da atualização do Consultório, onde se responde a dúvidas sobre redobro pronominal, o nome correspondente ao verbo volver, atos ilocutórios e intenção perlocutória, o uso de escapada e o verbo deflagrar.
5. Um apontamento à volta de «felizmente que ele chegou», publicado em O Nosso Idioma em 21/11/20023, motivou um diálogo cujo interesse está no confronto (pacífico) de diferentes posições quanto à classificação da palavra que, exibida pela referida frase. Na rubrica Ensino, registam-se três apontamentos sobre este tópico, um da linguista Carla Marques, outro do gramático brasileiro Fernando Pestana e um terceiro, da consultora Brígida Trindade, também professora dos ensinos básico e secundário em Portugal.
6. As palavras também estão sujeitas a modas, umas tornando-se clichês e outras caindo quase no esquecimento. No Pelourinho, transcreve-se com a devida vénia um apontamento do escritor brasileiro Eduardo Affonso, que no mural Língua e Tradição (Facebook, 08/01/2024), aborda o tema do apego e do desapego a certos vocábulos.
7. Duas observações sobre palavras recorrentes na recente comunicação mediática:
– A respeito das eleições presidenciais que se realizam em Taiwan, observe-se que este é o nome por que atualmente é oficialmente conhecido o Estado que tem por território a ilha tradicionalmente chamada Formosa. O nome pátrio respetivo é taiwanês, e o nome da capital recomendado é Taipé (e não Taipei). Consulte-se o Código Interinstitucional do português nas instituições europeias e Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves.
– Relativamente à forma houthi, que tem ocorrido na escrita jornalística em Portugal, refira-se que denomina os seguidores de um movimento político-religioso surgido no Iémen há pouco mais de três décadas. Observe-se que é nome que se adapta sem dificuldade ao português, havendo já registo da grafia huti (ver Infopédia).
8. A crise do Global Media Group ameaça a existência de periódicos centenários como o Jornal de Notícias (JN) e o Diário de Notícias, além do jornal desportivo O Jogo e da rádio de notícias TSF, no panorama da comunicação sopcial em Portugal. Justifica-se, portanto, uma chamada de atenção para a crónica que o escritor português Afonso Reis Cabral escreveu a respeito da greve dos trabalhadores do JN e outros jornais em 10/01/2024 – texto publicado nas páginas digitais do próprio JN.
Sobre este assunto vide, ainda: Carta se amor ao JN + Os passos perdidos da Global Media + Quem comprou o grupo Global Media?
8. Entre os programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:
– Língua de Todos (RDP África, na sexta-feira, 12/01/2023 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), onde se entrevista o linguista Carlos Rogério Silva, do Centro de Linguística da Universidade do Porto, sobre o CreoPhonPT, projeto que pretende estudar de forma profunda todos os crioulos de base lexical portuguesa.
– Páginas de Português (Antena 2 no domingo, 14/01/2023, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 20/01/2023 às 15h30*), conversa-se o professor José Eduardo Franco sobre a legislação que impôs maior uniformidade cultural à então colónia do Brasil, proibindo a utilização do nheengatu, a língua geral (uma mistura das línguas nativas com o português, falada por bandeirantes e índios) e tornando obrigatório o uso do idioma português.
– Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido igualmente na Antena 2 (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*), cujas emissões de 15 a 19/01/2024 têm como temas a interferência da língua árabe na língua portuguesa e a convivência desta com a língua polaca.
* Hora oficial de Portugal continental.
9. Por último, registe-se que o 27.º aniversário do Ciberdúvidas fica também marcado, até 15 de janeiro, por um passatempo para sorteio de quatro livros relacionados com a língua portuguesa (ver Instagram). Quanto à Dúvida do Ano, a escolha dos consulentes é revelada no próximo dia 15 de janeiro e aqui, na Abertura, de 16 de janeiro.