Celso Luft assinala como regências de desconfiando as preposições com e de1, apresentando exemplos como os abaixo transcritos:
(1) «Mulher desconfiada com o marido.»
(2) «Estou desconfiadíssima de que a tal arte de não fazer nada não existe» (Cecília Meireles, O que se diz e o que se entende – Crônicas. Nova Fronteira, 1980.)
Uma pesquisa no Corpus do Português, de Mark Davies mostra que, a nível literário, desconfiado tem registos de uso também com as preposições de e com, como se observa por exemplo em:
(3) «Não era inglês, mas lembrou-lhe a outra, que o marido levou para a roça, desconfiado de um inglês, e sentiu crescer-lhe o ódio contra a raça masculina - com exceção, talvez, dos rapazes a cavalo.» (Machado de Assis, Capítulo dos Chapéus.)
(4) «Já não estou desconfiado com a Berlenga.» (Rúben Andresen, Páginas. 1988)
No mesmo corpus, identificamos frases em que desconfiado ocorre com a preposição para, como se exemplifica a seguir:
(5) «Bio olhou desconfiado para um capão, a uns trinta metros da casa.» (Eric Veríssimo, O Tempo e o Vento (Parte 3, Tomo 2). 1961)
(6) «Pára um pouco, olha desconfiado para um lado e para outro, levanta a cabeça para equilibrar o pince-nez no nariz e segue para a escusa entrada do hotel.» (Lima Barreto, Vida Urbana.)
Note-se, todavia, que nestes casos a preposição para não é regida pelo adjetivo desconfiado. Embora surja na mesma frase, a preposição é pedida pelo verbo olhar (o mesmo se verifica nos restantes exemplos registados no Corpus do Português).
Deste modo, confirmamos a construção do adjetivo desconfiado com as preposições de (a construção mais frequente) e com.
Disponha sempre!
1. Celso Luft, Dicionário Prático de Regência Nominal. Editora Ática, 1997.