Na frase apresentada em (1), está presente um caso de redobro do clítico:
(1) «Os meus pais levavam-me a mim e à minha irmã.»
Dá-se o nome de redobro de clítico a uma construção em que um argumento é duplamente preenchido por um elemento fonologicamente dependente (um pronome clítico) e por um pronome forte, introduzidos pela preposição a, como em (2):
(2) «Escreveram-te a ti.»
Note-se que, em termos sintáticos, tanto o clítico como o pronome de redobro desempenham a mesma função sintática. O constituinte que redobra o clítico recebe um acento prosódico mais forte e permite a existência de uma focalização, o que o clítico, por ser uma forma fraca, não permite.
O redobro do clítico também ocorre nas situações em que existem constituintes coordenados. O clítico não aceita coordenação, como se observa em (3):
(3) «*Eles levam-me e te.»
Por esta razão, para que uma coordenação de constituintes seja possível, recorre-se ao redobro do clítico, tal como acontece na frase (1). A construção aí presente permite a coordenação da estrutura «a mim» com o constituinte «à minha irmã», que não poderia coordenar-se com o pronome clítico me1.
Disponha sempre!
*assinala a inaceitabilidade da construção.
1. Para mais informações, cf., Martins in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 2237-2238.