A análise proposta pelo consulente é adequada.
A questão levantada situa-se na discussão do valor conformativo e do valor desconformativo das orações subordinadas adverbiais conformativas. A ambiguidade da oração introduzida por como, após a subordinante, é, por exemplo, mencionada de forma muito pontual num trabalho de linguística defendido na Universidade de Lisboa1:
«Por fim, resta salientar o curioso caso em que a desconformidade é marcada pela adjunção de uma estrutura conformativa a uma oração subordinante cujo predicado é negado [...]:
(127) O João não teve nota máxima no exame, como eu previ (que acontecesse).
O valor desconformativo é obtido mais indiretamente, através da negação de uma situação do mundo real, contrastando com e.g. a previsão de que isso acontecesse. O complemento do predicado da adjunta equivale à subordinante, excetuado o valor de negação (eu previ [que o João tivesse nota máxima no exame]). Nestes casos, pode surgir uma ambiguidade com a interpretação conformativa – eu previ [que o João não tivesse nota máxima no exame], facto que aqui não explorarei.
(128) «Não será em 1993, como previsto inicialmente, que as empresas comunitárias produtoras de leite poderão fornecer as escolas portuguesas deste complemento alimentar.» (CETEMPúblico, par=ext138454-soc-92b-4) (129)
«Por outro lado, até ao momento não houve alterações nas chefias dos ministérios encarregados da segurança e da ordem pública, como se previa que acontecesse (…)» (CETEMPúblico, par=ext976871-pol-96a-1)»
Note-se, porém, que, fora da área especializada da linguística, não achamos referência a este caso em gramáticas descritivas tradicionais.
1 Ana Rita Vargas Valadas Pereira, Sobre a expressão da Conformidade e da Semelhança no Português, Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2014, p. 37