O pretérito mais-que-perfeito composto (do indicativo) é um tempo verbal que descreve uma situação concluída, localizada no passado1. Assim, a forma auxiliar aspetual «tinha tentado» é télica, uma vez que implica uma situação com um fim inerente: «tinha tentado negociar» implica que já não «tenta negociar».
O complexo verbal «tinha tentado negociar» é, não obstante, dúbio quanto à sua duração inerente. Não fica claro na frase apresentada pelo consulente se se trata de uma situação pontual, ou seja, que teve lugar uma vez num intervalo de tempo passado, ou de uma situação durativa, ou seja, que se prolongou durante algum tempo num intervalo de tempo passado, o que implica uma série de tentativas.
Sem mais contexto ou sem acesso à intenção do locutor, torna-se difícil identificar o valor aspetual do complexo verbal.
Para além disso, o verbo tentar é ele próprio ambíguo porque «tentar negociar» não significa que alguma vez a negociação entre as partes tenha efetivamente tido lugar, pois tentar significa “fazer esforço ou tratar de conseguir atingir um objetivo; usar meios para chegar a um resultado; mostrar o intento ou a vontade de”. Os valores do verbo apontam apenas para uma intenção e não para uma concretização.
Deste modo, podemos concluir que a formulação «tinha tentado negociar» expressa uma significação ambígua e mesmo difusa, o que poderá, de alguma forma, ser esclarecedor relativamente às intenções do locutor que poderá ter a intenção de não se comprometer com a declaração de realização efetiva de uma situação.
1. Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 530-531.