Analisemos os seguintes enunciados:
(i) Quando o Beto entrar, a Ivone já estará cantando/a cantar.
(ii) Assim que a Ivone chegar, Beto sairá imediatamente.
(iii) Quando o Beto chegar, a Ivone já terá cantado.
(iv) Quando a Ivone tiver cantado, o Beto subirá ao palco.
1. Tempo
O futuro do conjuntivo simples (na subordinada temporal) assinala a posterioridade da acção em relação ao momento em que tem lugar o acto de fala («Quando – amanhã/daqui a nada/daqui a pouco – o Beto entrar...») e coincide com o ponto de perspectiva temporal que permite situar no tempo a acção da subordinante:
• em (i), a acção da subordinante é simultânea relativamente ao ponto de perspectiva temporal/acção da subordinada;
• em (ii), a acção da subordinante é posterior ao ponto de perspectiva temporal/acção da subordinada;
• em (iii), a acção da subordinante é anterior ao ponto de perspectiva temporal/acção da subordinada.
2. Aspecto
O que faz com que haja uma relação de inclusão entre as duas acções [total, como em (i), ou parcial, como em (ii)] ou uma relação de sequencialidade [como em (iii)] não é o futuro do conjuntivo simples (que não tem valor perfectivo), mas sim:
1 – o aspecto lexical: «chegar» é uma acção pontual (uma culminação), e «cantar» é uma acção durativa [uma actividade];
2 – a construção progressiva: «estará cantando/a cantar»;
3 – o advérbio aspectual «já» (que marca incoativamente o processo).
O futuro do indicativo composto «terá cantado» [em (iii)] e o futuro do conjuntivo composto «tiver cantado» [em (iv)] é que têm valor perfectivo: a acção é dada como tendo uma fronteira terminal (admitindo-se um estado resultante). Por isso é que há uma relação de sequencialidade entre as duas acções de cada enunciado – ambas projectadas no futuro.
Nota: o termo aoristo não é comum na terminologia gramatical portuguesa; é algumas vezes usado em lugar do termo perfectivo.