De facto, não é fácil distinguir um valor aspetual do outro, mas é possível definir critérios para os distinguir.
Com efeito, a gramática Domínios, de Zacarias Santos Nascimento e Maria do Céu Vieira Lopes, publicada em 2011 (Lisboa, Plátano Editora), observa o seguinte sobre estes dois valores aspetuais:
«4. Aspeto habitual – a situação é apresentada como sendo recorrente num período de tempo [sic] ilimitado:
Costumamos ir à praia.
Almoçam fora todos os domingos.
Notas: 1. Os tempos verbais mais associados ao aspeto habitual são o presente do indicativo e o pretérito imperfeito do indicativo. 2. O aspeto habitual tem frequentes coincidências com o aspeto iterativo.
5. Aspeto iterativo – a situação é apresentada em repetição regular num período de tempo [sic], delimitado ou não:
O João tem almoçado fora.
O João espirrou durante toda a tarde. (Os espirros repetiram-se durante uma tarde específica.)
Nota: O pretérito perfeito composto apresenta habitualmente valor iterativo, com eventos.»
Tudo isto permite afirmar que o aspeto iterativo tende a delimitar o intervalo de tempo que enquadra a repetição do evento. O aspeto habitual está associado a um intervalo de tempo com limites menos precisos.
Observação: Sem querer pôr em causa a qualidade científica da fonte citada, verifico que na passagem transcrita ocorre uma expressão a evitar, «período de tempo», a qual, pelo seu caráter redundante, deve ser evitada e substituída por «intervalo de tempo».