Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

Além da Serenella Andrade, o que há de estranho na extracção da lotaria? Resposta: a patusca invenção das "dezenas de milhar", apensa a uma das redomas do sorteio. Apesar de a ninguém lembrar dizer "dúzias de ovo" ou "centenas de ano", a coisa anda por todo o lado: em acórdãos de tribunais, documentos de universidades, discursos presidenciais, entradas da Wikipedia, etc. E neste «etc.» até cabem blogues por norma bem-falantes. Ele há epidemias bem esquisitas.

Dois erros recorrentes

 São dois erros que continuam a ler-se e a ouvir-se muito por aí:
     1.. «Cumpre informar que se tratam de matérias do foro interno da PSP (…).»
     A construção tratar-se de no sentido de «dizer respeito a», «estar em causa», «ser o caso de», «ser» é impessoal, utilizando-se, pois, apenas na 3.ª pessoa do singular: trata-se de matérias, trata-se de condições inaceitáveis, trata-se de sit...

Homens-a-dias e não
Diarista e mensalista, no Brasil

Uma interessante reportagem, exibida há dias no Telejornal da RTP-1, deu a conhecer uma empresa de homens que vão a casa de quem os chame, limpam, lavam a loiça, como as empregadas de limpeza. Como as mulheres-a-dias, como em Portugal se lhes chama, vulgarmente’.
Erradamente, o autor da reportagem e quem a apresentou nesse dia na RTP-1 chamaram-lhes "maridos-a-dias" um termo obviamente inadequado.

¹ Diarista é como, no Brasil, se designa quem, mulher ou homem, trabalha em limpezas ao domicílio, com o salário calculado por dia. Mensalista, se trabalhar em apenas uma residência e recebe o pagamento por mês.

Ao contrário do que continua a ouvir-se na televisão e na rádio portuguesas, Telecom – do nome da empresa Portugal Telecom – deve pronunciar-se com a terminação em som nasal: Telec[õ]. Errado continua, pois, entre outros, o presidente da PT, Miguel Horta e Costa, quando diz a palavra com "o" aberto ("Telecóme").
      Deverá pronunciar-se Telecom com a terminação em "õ"...

No programa "Prós e Contras" da RTP-1, à volta das reacções no mundo muçulmano aos cartunes publicados na Dinamarca sobre Maomé, participou o xeique Munir como representante da comunidade muçulmana em Portugal.

A palavra xeique...

1. É traiçoeira a língua, sim, e até os grandes comunicadores têm os seus lapsos. No concurso "A Herança", da RTP-1, de [03/02/2006], José Carlos Malato empregou a expressão «se o número corresponder com o que eu tenho aqui».
     Ora, o verbo corresponder no sentido de «estar em conformidade com», «condizer», deve utilizar-se com a preposição a.
     Por outro lad...

«Seja o próximo testemunho Actimel!» – vê-se, e lê-se, em painéis publicitários pelas ruas de Lisboa.

Este discurso apelativo que nos convida a participar na publicidade a um produto – o Actimel – chama, de facto, a nossa atenção! A mim, provocou-me, de imediato, uma sensação de estranheza e de natural desconfiança. Ser um testemunho? Como é que alguém se pode tornar num depoimento? Será que não confundiram este termo com o outro que, aparentemente, só difere no género?

Um modismo do (mau) futebolês

A cultura (qualquer cultura) de um povo (qualquer povo) tem uma força de resistência extraordinária. Um termo estrangeiro para entrar no falar de uma população precisa ser de grande utilidade ou não existir no quotidiano local.

A terminologia informática mantém a origem inglesa por não haver equivalentes no linguajar indígena. Os novos desportos alienígenas, que estão sempre a aparecer, impõem as suas expressões originais, sendo depois incorporadas pelo process...

O "Piquete de Polícia" do [jornal português] "24horas" [de 23 de Janeiro de 2006] informou-nos de que "Um cinquentenário foi detido em... Vila do Conde..."

Esta notícia não corresponde à verdade, porque um cinquentenário (dia da celebração do quinquagésimo aniversário de qualquer pessoa ou acontecimento) não pode ser detido. Ninguém consegue deter o tempo...

É, no entanto, admissível que a polícia tenh...

No melhor pano cai a nódoa e nem se pode dizer que tenha sido um deslize, uma vez que houve reincidência em dias e situações diferentes.
     Aconteceu com um muito conhecido comentador de um canal de televisão português e, mesmo que de lapsos se trate, é inaceitável que diga "absteram-se" por abstiveram-se e "obteram" em vez de obtiveram.
     É certo que são comuns os erros associados a verbos conjugados como aqueles que l...