Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

No programa «Se a manhã se despenteia», da rádio pública portuguesa Antena 1, da última segunda-feira (16.6.1997), o entrevistado de Simone de Oliveira, José Nuno Martins, afirmava que a palavra destino só aparece na Língua Portuguesa depois das invasões francesas.

Acrescentava que Camões nunca utilizou a palavra destino.
Mas, se alguém consultar «Os Lusíadas» no Canto IV, estrofe 46, lá está a palavra. Destinos...

Os sacos de plástico oferecidos na Feira do Livro de Lisboa durante a edição deste ano trazem o seguinte apelo: «Feira do Livro, Benvindo - BCI, Banco Oficial da Feira do Livro».
   Será o Benvindo o autor do texto? Terá o Benvindo de ir à Feira do Livro ou seremos nós bem-vindos à Feira do Livro de Lisboa?
   Cravado a branco está uma das mais habituais calinadas na língua portuguesa, de tal forma grave que até os sacos coraram com as cores do patrocinador....

Outro caso de tantas vezes mal dito, e repetido, ainda por cima na televisão, é o substantivo rubrica. /Ru-brí-ca/, pronunciado assim mesmo, como palavra grave. Mas, na RTP, por causa da Assembleia-Geral do Benfica de sábado passado, lá voltou a ouvir-se "rúbrica", como se fosse uma palavra esdrúxula.
     É verdade que as contas do Benfica, como voltou a ver-se na final perdida da Taça de Portugal, na terça-feira, andam mais que gatadas. Mas para quê ar...

 Idem (o mesmo, também) e ibidem (no mesmo lugar, na mesma passagem) são expressões latinas, adjectivo a primeira e advérbio a segunda, muito utilizadas nas citações bibliográficas para se evitar a repetição do que acaba de se escrever. Nas citações bibliográficas e, por analogia, naquelas secções de jornais, por sinal muito lidas, tipo "Diz-se".
     Só que, nalguns jornais, quem o faz não sabe o elementar. E um erro várias vezes repetido, já se sa...

O sr. Presidente também não faria mal, no entanto, se deixasse de dizer /acórdos/ e passasse a dizer /acôrdos/. Não é por nada, mas - mesmo não sendo da Beira Baixa e não pronunciando as terminações masculinas em e - ainda corre o risco de nos levar a imaginar que nos está a dar música, ou seja, acordes.

Geração rasca chamam-lhe. À dos estudantes que, nas universidades portugueses, baixaram ao nível mais pimba as bandeiras das suas reclamações. Mas se eles são de geração rasca, que dizer de quem, por sinal de uma geração anterior, falando deles e do autismo dessa sua luta contra a propina única, diz na rádio que "o PSD acha que 'devem' haver propinas"?

Que dizer de quem diz assim o verbo haver, se ele se trata de um deputado, o deputado Carlos Coelho, que até foi secretário de Estado do Ensi...

Faz parte das regras do jornalismo: as pessoas, todas as pessoas, têm tratamento idêntico. Idêntico no respeito individual de cada um, independentemente do seu estatuto, condição social, cultural, económica, política ou qualquer outra. Por isso, na imprensa, está há muito fora do uso a anteposição dos cargos ou dos títulos académicos, salvo em circunstâncias especiais - e nunca por razões de reverência.

Mas o contrário também é regra. Ninguém deve ser tratado de forma depreciativa ou de algum ...

1 - Frederico Leal nunca disse, de facto, que era tradutor. "Mea culpa", extensível aos tradutores - que, até por razões de ofício, sabem que nesta questão da equivalência do bilião toda a prudência é devida. Precisamente porque lidam todos as dias com o divergente sentido das duas ordenações, mesmo em países como em Portugal onde o bilião é = 1 milhão de milhões, isto é, 10 elevado a 12.

Há quem critique, e bem, a falta de cuidado no ensino da Língua Portuguesa. Diria mesmo ser assunto cómodo para conversas de circunstância - mas só até ao momento em que alguém comete a imprudência de apresentar exemplos. Aí, cuidado!

O corrector pode acabar corrigido.

Exemplos de efeito seguro são o «quêiramos», o «póssamos», o «supônhamos». Com eles, não há finaço doutor que não faça boa figura. São vícios ...

Se dizemos dezenas de mortos (ou de vivos, ou de feridos, ou de deslocados, ou de qualquer outra unidade, do que quer que seja), por que razão se há-de enunciar o milhar só no singular, quando o milhar tem plural? Dezenas de "milhar" de mortos em vez de milhares, porquê? O numeral cardinal milhar não funciona, aqui, como adjectivo (tal como em milhares de outras frases de semelhante analogia, fale-se de pessoas, de laranjas ou de carneiros)?