1. Comemorou-se a 5 de maio o Dia Mundial da Língua Portuguesa, numa altura em que se assumem os desafios de olhar para o crescimento da língua «dando voz à multiplicidade de vozes que a compõe e que constitui um dos seus traços fundamentais» (Camões, Instituto da Cooperação e da Língua). A comprovar este dinamismo da língua e a sua constante evolução, recordamos as declarações da linguista Helena Figueira, do Priberam, à agência Lusa, onde assinalou um aumento do léxico «com forte influência do português do Brasil e um crescente contributo dos PALOP» . Ainda neste apontamento, a linguista destacou o recurso frequente às proposições de e em em usos sintáticos típicos do português do Brasil, o que espelha os fenómenos de contacto em curso entre as variedades de português europeu e a brasileira. As celebrações do Dia Mundial da Língua Portuguesa motivaram, um pouco por todo o lado, uma diversidade de iniciativas unidas pelo intuito de dar à língua portuguesa a relevância que ela merece. Em Portugal, a Universidade de Coimbra e a Universidade Aberta organizaram sessões de conversa/debate em torno de temas relacionados com a língua (aqui e aqui) e a Universidade do Porto promoveu um seminário internacional sobre o ensino do português como língua estrangeira no contexto chinês (dia 6 de maio ─ programa). Por seu turno, o jornal Público, organizou na biblioteca do Palácio Galveias uma conversa que partiu do tema “Quando o livro, a leitura e a escrita deixam de ser só um prazer e passam a ser uma obrigação» (notícia). Também um pouco por todo o mundo lusófono se assinalou este dia da língua. No Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, a programação foi dedicada a saraus, mesas literárias, performances, entre outras atividades. O Camões ─ Instituto da Cooperação e da Língua desenvolveu também atividades em diversos locais, como em Berlim, com a mesa-redonda de bilingues, que deu destaque ao português «como língua identitária e de afeto» (notícia), ou em Praga, que celebrou o dia com a presença da fadista Cristina Branco (notícia). Em Timor, Xanana Gusmão, considerando a língua portuguesa parte da identidade timorense, pediu aos timorenses que incentivassem os seus filhos a aprenderem o português (notícia). O Dia Mundial da Língua Portuguesa foi ainda contexto para o lançamento, pela Direção Geral da Educação, de «três ebooks didáticos, concebidos com o objetivo de promover a aprendizagem e a prática da língua portuguesa de forma autónoma e, também, lúdica» (disponíveis aqui). Também o Plano Nacional de Leitura aproveitou a data para lançar um Guia Didático sobre Leitura. Pluricêntrica, viva e cheia de matizes, a língua portuguesa está viva!
2. O professor e poeta João Pedro Mésseder dedicou à língua portuguesa um belo texto em prosa poética, que motiva uma reflexão sobre o belíssimo património vivo que constitui uma língua, herança de todos nós: «[u]ma língua traz-nos no ventre muitos séculos. Nos últimos nove meses, os da gestação, começamos a escutar o seu timbre, o seu ritmo, a sua métrica. Sem darmos conta, a língua alimenta-nos, agasalha-nos, estamos nela mergulhados, na sua água, no seu calor.» (transcrito, com a devida vénia, do mural de Facebook da Leya Educação).
3. Refletindo sobre a liberdade que as palavras podem conferir e sobre a ação de obras marcantes como as Novas Cartas Portuguesas, de autoria de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, publicadas em 1972, a professora e investigadora Dora Gago defende: «Hoje, acender o poder das palavras veiculadoras de valores de liberdade, de igualdade, de paz, revela-se cada vez mais necessário, perante tantos retrocessos a que assiste, um pouco por todo o mundo, perante a aceitação passiva das maiores barbaridades.» (texto divulgado na rubrica Na 1.ª Pessoa).
4. No Consultório, esclarece-se sobre como proceder para retomar três antecedentes distintos num dado texto. A esta resposta juntam-se outras cinco, que vêm esclarecer dúvidas específicas: «Qual a construção correta «fazer alguém de herói» ou «fazer de alguém herói»?»; «Como traduzir a locução conjuncional francesa bien que?»; «Como analisar a estrutura nominal «a louca da tua mulher»?»; «É possível usar o imperfeito do conjuntivo em lugar do mais-que-perfeito do conjuntivo em condicionais contrafactuais?»; «As construções «estar diretor» e «ser diretor» são possíveis?».