1. Com a chegada do mês de setembro, o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa retoma as suas atividades habituais, fazendo coincidir o seu regresso com o início do ano letivo em Portugal. Este nono mês do calendário gregoriano assiste invariavelmente à proeminência do termo rentrée, que, usado de forma plástica e quase omnipresente, se foi adaptando a realidades muito diversas. Tendo começado por ser usado em contexto escolar para referir o início das atividades letivas, estendeu o seu âmbito a expressões como rentrée política, rentrée judicial ou, inclusive, rentrée televisiva, numa significação que vai oscilando entre a noção de «reabertura» e a de «reinício». Em todos estes casos, o recurso ao galicismo rentrée revela-se um preciosismo desnecessário, uma vez que a língua portuguesa disponibiliza vários lexemas para referir estas situações. No caso particular da realidade escolar, poder-se-á usar com a mesma eficácia a expressão «regresso às aulas», que será sempre preferível ao empréstimo do francês.
No Ciberdúvidas, encontram-se várias respostas relacionadas com a questão do aportuguesamento de galicismos: "À volta da cassete e dos empréstimos", "Detalhe: 'horrível galicismo'"?», "O galicismo rentrée", "O empréstimo chapitô", "A morfologia do nome plataforma", "O galicismo naïf", "O 'evolutível' e outros desnecessários francesismos", "Abat-jour= abajur", "Bouquet" e "A tradução e a origem da expressão francesa Maudit soi qui mal y pense" e o trabalho do linguista brasileiro Hildo Honório Couto, "Contatos entre francês e português, ou influências do primeiro no segundo".
2. A reabertura do Consultório apresenta doze respostas novas, que se distribuem por diferentes áreas linguísticas. Assim, no plano ortográfico, trata-se a questão da grafia da palavra cuba-rim e do termo plafom. Ainda no âmbito das convenções gráficas, clarifica-se a translineação do substantivo diagnóstico e apresenta-se uma explicação para a colocação da vírgula em «Mergulho, há». Já no quadro da formação de palavras, analisa-se a possibilidade de formação do adjetivo comentarístico a partir do nome comentarista. Uma resposta relacionada com a flexão em género equaciona a formação do feminino do substantivo adjunto, a que se junta um esclarecimento sobre o género da palavra asa-delta. No contexto da formação de gentílicos, identifica-se o termo que designa os habitantes de Priscos (freguesia de Braga). De âmbito sintático, é feita a análise das funções na frase «Descobrir o assassino era tarefa para Sherlock.» Por fim, duas questões de natureza sintático-semântica (uma relacionada com a regência na frase «Não acho oportuna a ocasião para zombarias» e outra com a seleção do termo correto em «fatores de produção / produtivos») e uma resposta que procura justificação para a referência ao pinhal da Azambuja na obra Os Maias, de Eça de Queirós.
3. A linguista e professora universitária Margarita Correia reflete criticamente sobre as declarações de uma psicóloga, que defende que o «Brasil está a invadir o vocabulário dos mais novos», na sua crónica intitulada "Linguística para psicólogos»", divulgada no Diário de Notícias (aqui transcrita com a devida vénia).
4. Quando cotejamos as frases «Tenho escrito muitos artigos» e «Tenho escritos muitos artigos», devemos considerar que ambas estão corretas ou que uma delas está errada? É a este tema que o escritor e revisor de textos brasileiro Gabriel Lago dedica um crónica* sobre a possibilidade de transcategorização do particípio em adjetivo e as suas consequências na flexão da palavra.
* in mural do Facebook Língua e Tradição, no dia 5 de setembro de 2021.
5. O termo democracia, os seus significados e a sua força acional, são a pedra de toque da reflexão da professora universitária brasileira Edleise Mendes, numa altura em que no Brasil se vivem momentos de profunda agitação política (crónica lida no programa Páginas de Português, da Antena 2 e aqui transcrita).