Um conjunto de jovens à volta de uma cassete, tentando desesperadamente enrolar a fita, levando-a de volta para o interior daquele mecanismo. Esta é uma imagem digna de uma fotografia de museu. Um museu onde estaria o próprio objeto cassete e a respetiva palavra que o diz. Tudo entidades do passado que as novas gerações praticamente desconhecem.
O falecimento de Lou Ottens, o inventor da cassete, trouxe-me à memória estas vivências e com elas a palavra cassete, um galicismo que rapidamente se acomodou à língua portuguesa, deixando para trás um dos seus originais (cassette).
Esta é uma palavra que perdeu quase toda a vitalidade porque refere um objeto que praticamente desapareceu. Mas outros galicismos há que entraram, de forma mais ou menos discreta, na língua e foram ficando: champanhe, camioneta, charme, boné, envelope, etapa, equipa (equipe, no Brasil), desporto e tantos, tantos outros são disso exemplo. Aos poucos, estas palavras foram perdendo as marcas gráficas e fonológicas que trouxeram da língua de origem e, no momento presente, quem se lembra de que eram estrangeirismos?
Numa época em que tocar piano e falar francês era sinónimo de elegância, os galicismos abundavam. Porém, nos dias que correm, o fenómeno virou-se para outras latitudes e pede emprestadas ao inglês as palavras de que necessita. E a língua portuguesa vai-se enchendo de anglicismos, de tal forma que já há quem preveja o seu fim. Serão estas profecias um vislumbre do futuro? «Maybe not», ou, como se diz em bom português, «Olhe que não!».