1. Além da premência do rastreio e da vacinação contra o coronavírus, tornam-se patentes problemas de outra ordem – da falta de sustento à perda da saúde mental. Valoriza-se, portanto, o gesto de quem, fora dos hospitais, antes e depois deles, se solidariza com os desamparados pela atual crise. Tudo isto documenta o aparecimento de iniciativas como «Vizinhos à Janela», denominação que, com outras vinte, constituem a atualização de "A covid-19 na língua": «apoio alimentar», «cama solidária», «contact tracing», «contentores frigoríficos», «distribuição gratuita», «exaustão extrema»,«fadiga pandémica»,«gig workers», «humidade», «índice de transmissão ( ou de transmissibilidade)», Our World In Data, «severidade (da doença)», «simulador para vacinação», «síndrome de pânico», «SOS Hotelaria», take away, «teorias da conspiração», «testar, testar, testar», «tomada única» e «Vacinas... em falta».
2. Com a presente atualização do Consultório, volta-se às orações com a função de predicativo do sujeito e dão-se pistas sobre o conjuntivo a um estudante da China. Descreve-se a sintaxe da construção «quem (me) dera...» e do nome pejo; depois, distingue-se o pronome se reflexivo do se apassivador, além de se abordar a relação entre as noções de campo lexical e hiperonímia/hiponímia. Finalmente, revisitam-se as expressões idiomáticas, listando as que significam «ter sabor excelente», e regista-se o uso de «ir para baixa da égua» no Nordeste brasileiro.
3. Na rubrica Notícias, assinala-se a realização do webinar «Professor, o que tenho de estudar? Processos de compreensão do texto», que teve lugar no dia 9 de fevereiro de 2021, sob orientação de Carla Marques, professora e consultora permanente do Ciberdúvidas. A sessão, destinada sobretudo a professores de Português, tratou de vários aspetos da compreensão leitora.
4. Na Montra de Livros, apresenta-se A Língua das Cantigas (Vigo, Editorial Galaxia, 2019), uma breve gramática descritiva elaborada pelo filólogo sueco Pär Larson, no intuito de facilitar a leitura e a compreensão da lírica medieval da Galiza e de Portugal.
5. Em O Nosso Idioma, transcrevem-se com a devida vénia dois apontamentos do matutino Público: sobre a banalização do uso de certos termos políticos, "Os direitos das palavras: fascista" (17/11/2018), do jornalista Jorge Almeida Fernandes; e, a propósito de estrangeirismos desnecessários e do vernáculo que anda esquecido, "Importações verbais" (17/02/2021), do escritor Miguel Esteves Cardoso.
6. Em Portugal, o mês de fevereiro vai manifestando a chegada da primavera, como é o caso das míticas amendoeiras em flor do Algarve e do Alto Douro, mas outras plantas há também, mais prosaicas e merecedoras de igual atenção. Na rubrica Diversidades, disponibiliza-se um texto de Miguel Boieiro, vice-presidente da Direcção da Sociedade Portuguesa de Naturalogia, à volta da ervilheira cujos grãos, as ervilhas, têm importante uso culinário.
7. Em situação de pandemia, serviços e comércio procuram conjugar a presença do utente/cliente com um mínimo de contacto físico graças a meios de leitura e registo digitais. Fala-se, portanto, de phygital um neologismo inglês que resulta da amálgama de physical («físico») e digital. O anglicismo começa a ter ocorrências no discurso mediático em português, mas ainda sem aportuguesamento estável à vista. Uma adaptação possível seria "fisigital" (ou "figital"), formas ainda não atestadas que copiam sem dificuldade o espanhol figital e fisigital, propostas pela Fundación para el Español Urgente (Fundéu).
8. Continuando com neologismos, anote-se a ocorrência de amartagem, termo associado à chegada a Marte do rover Perseverance. Sobre maneiras de denotar o ato de pousar numa superfície terrestre ou extraterrestre, consultem-se "Amartar", "Efeito aquaplanagem", "A formação de alunar", "Ainda aterrar, amarar,alunar" e "Aterrar,aterrissar".
9. Assinala-se em 21 de fevereiro o Dia Internacional da Língua Materna. A data é marcada por diferentes eventos nos países de língua portuguesa não só para festejar a língua hegemónica – o português –, mas a diversidade linguística no interior de cada Estado. Ao encontro desta perspetiva, mencione-se o programa de atividades (virtual) que a Câmara Municipal de Barrancos dedica ao idioma local, o barranquenho, interessantísismo resultado raiano do contacto entre populações alentejanas e andaluzas.
10. Da atualidade em que a língua é tema e atividade, salientam-se ainda:
– A aula aberta Contacto linguístico e emergência de novas variedades do português: o caso angolano, pela linguista Liliana Inverno, com organização do CELGA-ILTEC, em 5 de março p. f., das 14h00 às 15h00 (acesso ao Zoom aqui; mais informação em Notícias); e
– A iniciativa "Leituras ao ouvido" da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa.
11. Temas principais dos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa:
– O ensino do português em Moçambique e em S. Tomé e Príncipe, no contexto dos conflitos entre usos prescritos e os usos reais, em análise com a linguista moçambicana Ermelinda Mapasse e o investigador Gabriel Antunes Araújo, em A Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 19 de fevereiro, pelas 13h20*; repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*);
– Um glossário elaborado por alunos do Agrupamento de Escolas de Paredes sobre a pandemia causada pelo SARS-CoV-2, no Páginas de Português (Antena 2, domingo, 21/02/2021, pelas 12h30*), que conta ainda com uma nova crónica da linguista brasileira Edleise Mendes e uma intervenção da professora Sandra Duarte Tavares acerca da palavra agnotologia.
** Hora oficial de Portugal continental.
12. Uma breve referência final ao falecimento da atriz portuguesa Carmen Dolores (1924-2021), cuja voz e dicção configuraram um modelo de excelência para a pronunciação cuidada e expressiva do português europeu do século XX. Muito se escreveu sobre a sua herança artística, e, portanto, pouco haverá a acrescentar a não ser recordar também a sua iniciação e constante presença no teatro radiofónico que se transmitia em Portugal nos anos 40, 50 e 60 do século passado. Deixa-se aqui como pequena homenagem o registo de poemas de Camilo Pessanha e António Nobre ditos por Carmen Dolores: