
«(...) Acontece que uma vez em conversa com um amigo ele disse-me "Tiras-me do sério" e eu, sem papas na língua, respondi "Se te tiro do sério, deixo-te a rir, é isso?". Ele, de trombas e com os azeites, gritou em plenos pulmões "Esquece, Mafalda, escreves belissimamente mas não conheces nem 1/4 das expressões portuguesas." (...)»
Antes de ir desta para melhor, vou dar com a língua nos dentes e lavar roupa suja. Com a faca e o queijo na mão, com uma perna às costas e de olhos fechados, vou sacudir a água do capote. Ainda tirei o cavalinho da chuva, tentei este assunto do mapa, mas eu sou uma troca-tintas, uma vira casacas e vou voltar à vaca fria. Andava eu a brincar aqui com os meus botões, a chorar sobre o leite derramado, com bicho carpinteiro e macaquinhos na cabeça, quando decidi procurar uma agulha no palheiro.
Rebeubéu, pardais ao ninho, fiquei com os pés para a cova, só me apeteceu pendurar as botas e mandá-lo pentear macacos, dar uma volta ao bilhar grande ou chatear o Camões. Que balde de água fria! Caraças, levei a peito, aquela resposta era tão sem pés nem cabeça que fui aos arames. Eu sei que dou muitas calinadas, meto os pés pelas mãos e faço tudo à balda. Posso até ser uma cabeça de alho chocho e andar sempre com a cabeça nas nuvens mas não ia meter o rabo entre as pernas nem que a vaca tossisse. Pus a cabeça em água e fiquei a pensar na morte da bezerra. Texto da autoria de Mafalda Saraiva — inserto na plataforma digital de informação La Bohemie com a data de 25 de março de 2014.


