Segundo o Dicionário de Provérbios e Curiosidades (São Paulo, Editora Cultrix), de R. Magalhães Júnior, «voltar à vaca fria» (ou «vaca-fria», como se escreve nesta obra) significa «retomar um assunto interrompido, insistir em questões já debatidas» e terá surgido do seguinte modo (pág. 285): «A vianda fria é um prato com que se iniciam as refeições e ao qual não é costume voltar, depois de servidos os pratos quentes. Em francês há uma expressão equivalente: Retournons à nos moutons (Voltemos aos nossos carneiros), cuja origem é literária.»
Confesso que esta explicação me deixa insatisfeito e que fui obrigado a consultar o que Magalhães Júnior diz acerca do francês «Retournons à nos moutons», que no respectivo verbete aparece como «revenons à nos moutons» (mantenho a ortografia do original):
«Frase francesa que tem significado equivalente ao da nossa locução: Voltemos à vaca fria. Popularizou-se através da Farsa do Advogado Pathelin, ou Maistre Pierre Pathelin, obra anônima do século XV. Revenons à nos moutons (Voltemos a êsses carneiros) diz o juiz quando o advogado começa a fazer longas digressões, que nada têm que ver com a causa, isto é, com os carneiros que foram furtados pelo ladrão que êle defende. Pierre Pathelin é um advogado esperto e trapalhão, que compra fiado uma peça de pano a um mercador, finge-se de doente para iludir o credor, e depois aparece no tribunal, para defender um criado, culpado de furto. Tantas faz, que absolve o criado, apresentando-o como idiota, mas ultimado o julgamento, quando quer receber seus honorários, o ex-réu lhe responde imperturbàvelmente: Bééééé, bééééé... E não há meio de arrancar-lhe um níquel. Revenons à nos moutons é a forma com que a cita Rabelais, em Pantagruel.»
A relação com «voltar à vaca fria» está assim feita, mas, quanto a mim, sem explicar como é que a expressão portuguesa passou do âmbito da comida e da gastronomia para remeter para situação que é ilustrada pela farsa francesa. Resta-me esperar encontrar dados mais esclarecedores.