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O nosso idioma // Frases populares

É uma expressão portuguesa, com certeza

Uma centena de frases feitas encadeadas

«(...) Acontece que uma vez em conversa com um amigo ele disse-me "Tiras-me do sério" e eu, sem papas na língua, respondi "Se te tiro do sério, deixo-te a rir, é isso?". Ele, de trombas com os azeites, gritou em plenos pulmões "Esquece, Mafalda, escreves belissimamente mas não conheces nem 1/4 das expressões portuguesas." (...)»

 

 

Antes de ir desta para melhor, vou dar com a língua nos dentes e lavar roupa suja. Com a faca e o queijo na mão, com uma perna às costas e de olhos fechados, vou sacudir a água do capote. Ainda tirei o cavalinho da chuva, tentei este assunto do mapa, mas eu sou uma troca-tintas, uma vira casacas e vou voltar à vaca fria. Andava eu a brincar aqui com os meus botões, a chorar sobre o leite derramado, com bicho carpinteiro e macaquinhos na cabeça, quando decidi procurar uma agulha no palheiro

 
Eu sei, eu não bato bem da bola, mas sentia-me pior que uma lesma e tinha uma pedra no sapato. O problema é que andava a bater com a cabeça nas paredes há algum tempo, com um aperto no coração e uma enorme vontade de arrancar cabelos. Passei muitos dias com cara de caso e com a cabeça nas nuvens como uma barata tonta. Mas eu, que sou armada até aos dentesarregacei as mangas e procurei o arquivo a eito
 
Acontece que uma vez em conversa com um amigo ele disse-me «Tiras-me do sério» e eu, sem papas na língua, respondi «Se te tiro do sério, deixo-te a rir, é isso?». Ele, de trombascom os azeites, gritou em plenos pulmões «Esquece, Mafalda, escreves belissimamente mas não conheces nem 1/4 das expressões portuguesas.» 
 
Só faltou trepar paredes. É preciso ter lata! O primeiro milho é dos pardais. Primeiro pensei ter posto a pata na poça, depois achei que ele tinha acordado com os pés de fora e que estava a fazer uma tempestade num copo d´águatrinta por uma linha. Fiz vista grossa, mas depressa disse Ó tio! Ó tio! Abri-lhe o coração, o jogo e os olhos na esperança de acertar agulhaspôr os pontos nos is. Não lhe ia prometer mundos e fundos nem pregar uma peta, eu estava mesmo a brincar. Era um trocadilho. Pão, pão, queijo, queijo
 
Rebeubéu, pardais ao ninho, fiquei com os pés para a cova, só me apeteceu pendurar as botas e mandá-lo pentear macacosdar uma volta ao bilhar grande ou chatear o Camões. Que balde de água fria! Caraças, levei a peito, aquela resposta era tão sem pés nem cabeça que fui aos arames. Eu sei que dou muitas calinadas, meto os pés pelas mãos e faço tudo à balda. Posso até ser uma cabeça de alho chocho e andar sempre com a cabeça nas nuvens mas não ia meter o rabo entre as pernas nem que a vaca tossisse. Pus a cabeça em água e fiquei a pensar na morte da bezerra
 
 
Fonte

Texto da autoria de Mafalda Saraiva — inserto na plataforma digital de informação La Bohemie com a data de 25 de março de 2014.

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