1. A permeabilidade da língua às intenções dos falantes espelha-se tanto na forma como se organiza a frase como na inovação lexical. As construções clivadas constituem um bom exemplo desta realidade na medida em que são estruturas que visam destacar elementos das frases. Mas, como constatamos no Consultório, estas mesmas estruturas oferecem dúvidas aos falantes: «Foi em agosto que...» ou «Foi em agosto quando...»? Também a criação de novas palavras levanta questões relacionadas com a possibilidade de existência de termos como "cozinhação", "submunicipal" ou motiva a hesitação entre "tricoteiro" e "tricotadeiro". E o que significa a expressão "conversa de pé de orelha"? Nesta secção, ainda uma questão sobre maiúsculas e minúsculas.
2. Para enquadramento do valor patrimonial da língua portuguesa, na sua unidade e diversidade, faça-se referência a uma obra concebida numa perspetiva histórica: trata-se de Roteiro da História da Língua Portuguesa, da autoria de Ana Paula Banza e Maria Filomena Gonçalves e publicada numa parceira da UNESCO e da Universidade de Évora.
3. Ainda uma palavra para a exposição A Língua Portuguesa em Nós, patente no MAAT até 26 de outubro, que, de seguida, rumará até Óbidos. Destaque também para o anúncio da reabertura do Museu de Língua Portuguesa, de São Paulo, em dezembro de 2019.
4. Por Portugal, continuam as comemorações dos 20 anos da atribuição do Prémio Nobel da literatura a José Saramago, com a exposição O «nosso» Prémio: 20 anos do Nobel de José Saramago, com lugar na Biblioteca Nacional, em Lisboa entre 12 de outubro e 29 de dezembro de 2018.
Recordamos algumas publicações do Ciberdúvidas em torno da vida e obra de Saramago: na Abertura, "José Saramago (1922-2011)" (18/06/2010), "Ler e reler Saramago" (27/07/2011), "Nos quinze anos do Nobel de Saramago" (10/10/2013), "Castelhanismos, a propósito de Saramago" (25/06/2014); em O nosso idioma, "Memorial do Convento, 'uma permanente homenagem à língua portuguesa'" (27/07/2011), texto do crítico, ensaísta e dramaturgo Luís Francisco Rebelo (1924-2011); no consultório, "A expressão 'palmo a palmo" no Memorial do Convento de José Saramago" (27/04/2017) e, no Correio, "As palavras de José Saramago sobre a língua portuguesa e o seu ensino" (2008) e "Uma língua que não se defende morre", texto que Saramago escreveu especialmente para o Ciberdúvidas.
5. Entretanto, em Angola, a Academia Angolana de Letras (AAL) em conferência de imprensa realizada em 10/10/2018, divulgou um comunicado em que pede ao Governo de Angola que não ratifique o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (AO). Várias razões apresenta a AAL para rejeitar o atual AO, entre elas (ler notícia no jornal Público de 10/10/2018), «um número elevado de exceções à regra», o qual «não concorre para a unificação da grafia do idioma, não facilita a alfabetização e nem converge para a sua promoção e difusão [em Angola]»; divergências relativamente a normas da Organização Internacional para a Padronização e aos princípios da UNESCO e da Academia Africana de Letras sobre a «cooperação linguístico-cultural com vista à promoção do conhecimento enciclopédico e de paz»; e o não reconhecimento por parte do AO «[d]a importância das línguas nacionais angolanas como factor de identidade nacional», defendendo a AAL que «[a] escrita de vocábulos, cujo étimos provenham de línguas bantu[*], deve ser feita em conformidade com as normas da ortografia dessas línguas, mesmo quando o texto está escrito em português»
[*] Sobre o termo bantu, invariável (forma, também, do inglês e das línguas nacionais angolanas), sublinhe-se que a sua forma aportuguesada está há muito consagrada e é assim que se encontra abonada nos dicionários e nos vocabulários ortográficos atualizados: banto, variável em género (banta) e número (bantos, bantas). A observância dos preceitos ortográficos da língua portuguesa não pode, pois, deixar de ser seguida, neste e noutros casos similares Veiam-se as respostas "Banto/a, bantos/as vs. bantu (invariável)", "O plural de banto" e Uma sigla com nomes de uma língua banta.
6. No programa Língua de Todos, entrevista-se a professora Teresa Lino, investigadora do Grupo de Lexicologia e Terminologia do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa sobre o tema dos neologismos. Passa a RDP África, na sexta-feira, dia 12 de outubro, às 13h15*, com repetição no sábado, 13/10). E no programa Páginas de Português a atenção recai sobre as estratégias adotadas por Camões – Instituto da Cooperação e da Língua para projetar a língua portuguesa. Luís Faro Ramos, presidente deste organismo do Ministério dos Negócios Estrangeiros, fala sobre as ações de promoção do nosso idioma no espaço da sua geografia pluricontinental, da Europa às Américas e da Ásia. Emitido em direto na Antena 2, no domingo, 14 de outubro, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, 20/10, pelas 15h30.
* Os programas Língua de Todos, e Páginas de Português ficam disponíveis posteriormente aqui e aqui. Hora oficial de Portugal continental.