Como já aqui se disse, «pagar com língua de palmo» é uma expressão popular que significa «saldar uma dívida com grande sacrifício» e «ser castigado com grande severidade e rigor» (ver também António Nogueira Santos, Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas – Português, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 2006). Já «palmo a palmo» significa «gradualmente, pouco a pouco, com grande esforço, com persistência» (idem, ibidem).
Como convém contextualizar o uso das expressões idiomáticas, transcreva-se a passagem onde elas figuram e se entendem melhor:
«[...] de mercadores falamos, que nunca mandam vir eles próprios as mercadorias das outras nações, antes se contentam com comprá-las aqui aos estrangeiros que se forram da nossa simplicidade e forram com ela os cofres, comprando a preços que nem sabemos e vendendo a outros que sabemos bem de mais porque os pagamos com língua de palmo e a vida palmo a palmo.»
Trata-se de uma crítica do narrador de Memorial do Convento (capítulo VI) ao comportamento dos mercadores da Lisboa do século XVIII, que vendiam mercadorias de primeira necessidade a preços proibitivos («... pagamos com língua de palmo...»), a ponto de reduzirem a capacidade de subsistência da população [«(pagamos com) a vida palmo a palmo»].