1. Por proposta do Presidente da República e aprovado pela Assembleia da República no dia 25 de março de 2021, foi renovado em Portugal o estado de emergência (o 14.º), em vigor entre as 00h00 de 1 de abril e as 23h59 de 15 de abril. As disposições tomadas incluem, além de medidas já aplicadas, as que visam evitar a especulação de preços e o açambarcamento de testes à covid-19 e outro material médico-sanitário. A Páscoa 2021 fica, assim, marcada, à semelhança do ano anterior, por medidas de restrição um pouco por toda a Europa, não sendo Portugal exceção, com a proibição de circular entre concelhos acompanhada do dever de confinamento. Entretanto, prossegue a diferentes ritmos, entre avanços, atrasos, polémicas e até inércia, o processo de vacinação em diferentes países. É este, em traços breves, o quadro refletido com mais pormenor nas 14 novas entradas de "A covid-19 na língua": ameaça global, antiviral oral, estado de emergência XIV, fado covid, ingenuidade, juiz anticonfinamento, 300 mil, 900 mil, multas antiférias, recém-vacinados, rendimento social de inserção, Semana Santa restritiva, tripanofobia, taxa de mortalidade (e não de "mortandade"), vacinódromo. A pretexto da estratégia de testagem em massa da população com lugar a partir de abril de 2021, foram também atualizadas as entradas de sem-abrigo e migrantes.
2. As terminologias técnicas e científicas têm, por vezes, desígnios que escapam à gramática de uma língua – assim ocorre dizer quando se descobre que a unidade denominada "pascal" tem como plural a forma "pascals" (e não "pascais")*. Para saber porquê, leia-se uma das novas respostas do Consultório, que aborda também os seguintes tópicos: o aspeto habitual associado a uma frase; a classificação de «cada um»; a enigmática frase «matou a charada com tirocínio certeiro»; a negação «nem todas»; as possíveis origens do apelido (sobrenome) Paulos; o uso do adjetivo criterial; e o acento tónico de certas palavras provenientes do grego (prólogo e problema).
* O nome da unidade vem do do matemático e filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662). Pascal é a forma francesa de Pascoal, nome próprio português com origem no adjetivo pascoal, «relativo à Páscoa». Note-se que pascal é também forma adjetival portuguesa, sinónima de pascoal.
3. Os dicionários podem ganhar pó por preguiça de os consultar, mas são um instrumento fundamental para desenvolver o domínio da língua, como realça o tradutor e revisor de textos William Cruz em texto transcrito, com a devida vénia, do mural Língua e Tradição (Facebook, 21/02/2021) para a rubrica O Nosso Idioma.
4. Sabe-se que o português marmelada passou a várias línguas, mas não para ser aplicado ao mesmo tipo de doce. Nas Diversidades, um apontamento de Miguel Boieiro reúne uma série de curiosidades científicas e terapêuticas do fruto com que se faz marmelada, o marmelo.
5. Nas Notícias, regista-se a morte da escritora angolana Maria Alexandre Dáskalos em Luanda, em 20 de março p. p. Também se dá conta do plano que, em 25 de março, um grupo de economistas apresentou com vista à recuperação das aprendizagens por alunos do ensino básico (sobre o impacto da covid-19 na população escolar, consultar a rubrica Ensino).
6. Entre os temas de programas de rádio dedicados à língua portuguesa, salientam-se:
– O projeto do Dicionário do Português de Moçambique (DiPoMo), em A Língua de Todos* (RDP África, sexta-feira, 26 de março, pelas 13h20**; repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00**).
– O I Simpósio de Dialetologia e Sócio-Geolinguística, a decorrer de 24 de março a 28 de abril e organizado pelo Grupo de Pesquisa em Dialetologia, no Páginas de Português* (Antena 2, domingo, 28 de março, pelas 12h30**; com repetição no sábado seguinte, 3 de abril, às 15h30**).
– A religião, a linguagem da alimentação, a literatura gastronómica, a doçaria de Páscoa e os rituais de fé católica, em Palavras Cruzadas** (Antena 2, semana de 29 de março a 3 de abril de 2021, segunda a sexta, às 09h50 e às 18h20).
* Programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa.
** Hora oficial de Portugal continental.
8. Comemorações deste e dos dias a seguir:
– Em 26 de março, o Dia do Livro Português, assinalado por numerosos eventos em Portugal, agora que as livrarias reabriram (finalmente). Na mesma data, o Dia Nacional do Utente de Saúde.
– Em 27 de março o Dia Mundial do Teatro, uma das áreas culturais mais afetadas com a pandemia, o qual é preenchido com uma série de espetáculos em linha como se pode confirmar pela revista Visão (26/03/2021) e aqui.
À volta do teatro, sugere-se a leitura das seguintes perguntas e artigos em arquivo: "Teatro", "Teatro português", "Performatividade + representar/representação, dramaturgia", "Levar à cena", "Os conceitos de hiperonímia e de hiponímia em arte, cinema, teatro, pintura e escultura", "Aderecista, caracterizador e maquilhador, profissionais da máscara (teatro)", "A origem da palavra coxia","Fosso (de orquestra)", "O significado de estásimo e de párodo (teatro)", "Forrobodó, farrobodó e farrabadó", "Diga? ", "A Geringonça, mas a da 'Esopaida' de António José da Silva".
– Em 28 de março, o Dia Nacional dos Centros Históricos.
A propósito de património, consulte-se: "Matrimónio / património", "O radical das palavras património, apadrinhar, padronizar e padroeiro" e "A língua como património comum".
– E, em 29 de março de 1911, o governo da I República alargava o ensino infantil, primário e normal a ambos os sexos.
9. No calendário litúrgico e tradicional do mundo cristão, celebra-se a Semana Santa, que decorre de 27 de março a 5 de abril, geralmente coincidindo com uma celebração essencial a outra tradição religiosa, a Pessach judaica (literalmente «passagem»). Durante este período, o Ciberdúvidas faz uma pausa, para depois retomar as atualizações regulares em 9 de abril. Ao longo dos próximos dias, a funcionalidade para envio de dúvidas não vai estar ativa, mas relativamente a assuntos que não envolvam temas gramaticais continuamos disponíveis através dos contactos habituais (aqui ou em ciberduvidasdalinguaportuguesa@gmail.com).
Entretanto, um poema de Eugénio de Andrade (1923-2005), do livro As Mãos e os Frutos (1948), como forma de ir lembrando que, por aqui, com confinamento ou (gradualmente) sem ele, é de novo primavera lá fora:
Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás nas mãos de quem te espera.
Na imagem, Primavera (c.1917), de José Maria Veloso Salgado (Museu Abade de Baçal,Bragança).