De facto, na frase apresentada – «Viajar é bom, mas nem todos temos dinheiro para isso» –, não é possível substituir nem por não. Não se aceita, portanto, «"não todos" temos dinheiro»1.
Sobre a sequência «nem todos», como negação do quantificador universal todos, observa-se na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, p. 482) que ela só ocorre em posição inicial de frase ou oração: «Nem todos temos dinheiro para isso»; «Viajar é bom, mas nem todos temos dinheiro para isso» (neste caso, nem todos figura logo após a conjunção mas). A gramática em referência acrescenta:
«[Um] constituinte de negação de universalidade com nem [nem todos, nem sempre] só pode surgir em posição não inicial numa oração se outro constituinte for topicalizado, como em o livro, nem todos os estudantes o tinham lido (no caso, o constituinte inicial o livro está deslocado para a posição inicial).
Trata-se de uma construção cuja motivação nem a fonte consultada esclarece cabalmente nem outras gramáticas chegam a registar 2.
1 É, no entanto, possível ocorrer «não todos» como negação com escopo somente sobre o quantificador, antes de uma construção adversativa (geralmente marcada por mas): «Li livros de Eça de Queirós, não todos, mas alguns».
2 Foram também consultadas a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, e a Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara.