A Política das Línguas numa Europa Alargada foi a mesa-redonda com que a organização da Expolíngua Portugal assinalou o último dia do 14.º Salão Português de Línguas e Culturas, realizado nos últimos três dias em Lisboa. Não podia ter sido mais oportuno este debate.
Na verdade, o alargamento da União Europeia a 10 novos países, a partir de 1 de Maio de 2004, terá reflexos nas línguas com estatuto oficial, hoje em Bruxelas. Actualmente, a União Europeia tem onze línguas oficiais. Os trabalhos do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, com a parafernália de intérpretes necessários (10 por cada intervenção), produzem já o efeito de uma autêntica Torre de Babel. Muito recentemente chegou-se à conclusão de que um dia de tradução simultânea no Conselho Europeu custa mais de 650 000 €. Com o alargamento para o ano haverá pelo menos 21 línguas oficias. Os custos de tradução e interpretação subirão em flecha. Uma solução possível será a adopção de línguas de trabalho. Se vier vingar esta solução, surgirão várias questões ou dilemas.
Será possível falarmos em democracia quando se excluem das instâncias decisórias algumas línguas (sendo, como se sabe, as línguas um dos mais fortes elementos de identidade nacional das respectivas comunidades)? Mas será possível o bom funcionamento das instituições da União Europeia com 21 idiomas? E que lugar terá o português, se prevalecer a tese do estatuto das línguas de trabalho? E será o português escolhido como língua de trabalho, tanto na futura Comissão Europeia como em Estrasburgo? Dilemas e muitas, muitas questões por apurar ...
Muito recentemente, o constitucionalista português Jorge Miranda, num longo artigo publicado no jornal “Público”, sobre a futura Constituição Europeia, fazia uma referência pertinente ao estatuto da língua portuguesa. Escrevia ele:
«A ‘Constituição’ consagra uma bandeira, um hino, um lema, uma moeda e um dia da União. Nada diz acerca das línguas oficiais e há elementos contraditórios: por um lado, fazem fé os textos do tratado que estabelece a ‘Constituição’ em todas as línguas dos Estados-membros (art. IV 10.º); mas, por outro lado, o Conselho de Ministros adopta, por unanimidade, um regulamento europeu a fixar o regime linguístico das instituições da União (art. III 339.º).»
Podemos então interrogar-nos como o faz Jorge Miranda: estará garantido o estatuto da língua portuguesa na União Europeia que vem aí?
Razões de sobra, pois, para o debate promovido no encerramento da Expolíngua Portugal 2003.
1. A Agência Estado (do jornal “Estado de S. Paulo”, do Brasil) divulgou um estudo sobre a relevância da língua portuguesa hoje nos Estados Unidos. Há mais de meio milhão de falantes de português, sendo o nosso idioma o 12.º mais falado nos EUA. Resta saber, agora, se de Portugal ao Brasil – para nos circunscrevermos, apenas, aos dois países com maiores responsabilidades nesta tão importante comunidade lusófona –, haverá estratégias de apoios apropriados... E acaso haverá, de um lado e de outro do Atlântico, uma política minimamente definida e estruturada para a difusão e promoção da língua portuguesa no estrangeiro?
2. Do Brasil ainda, um consulente interroga-nos sobre a posição do Ciberdúvidas quanto àquilo que designa por uma «oficialização de algumas peculiaridades da sintaxe brasileira», dando exemplos de algumas dessas “peculiaridades”. A resposta está dada nestes já quase seis anos de Ciberdúvidas: há uma língua comum de oito pátrias, sem donos – ou, antes, com múltiplos donos –, enriquecida justamente por essa pluralidade. Somos todos, africanos, brasileiros, portugueses e timorenses. Ou seja – na feliz expressão do nosso consultor D’ Silvas Filho –, somos irmãos na língua. [A este propósito vide, ainda, Ciberdúvidas e as duas grafias oficiais da lingua portuguesa + À volta da nossa língua comum.]
3. Na próxima quinta-feira, dia 23, abre a Expolíngua Portugal 2003, que funcionará, como habitualmente, no Fórum Picoas, em Lisboa. À Expolíngua Portugal 2003 referir-nos-emos com mais pormenor, daqui a uma semana.
1. «Mais que projecto ou questão cultural e até linguístico-literária, a lusofonia é, obviamente, um projecto ou uma questão de língua e, embora talvez menos obviamente, sobretudo um projecto ou uma questão de desenvolvimento economológico e de estratégia geopolítica». A propósito do Congresso Internacional de Literaturas Africanas, que decorreu até este sábado em Coimbra, Fernando Santos Neves, reitor da Universidade Lusófona, volta a discorrer sobre um tema que lhe é (e nos é) tão caro. O texto – notável pelo diagnóstico crítico, mas, também, pelas propostas e caminhos traçados – encontra-se em linha na rubrica O Português na 1.ª Pessoa.
2. De África, que palavras ficaram na linguagem comum dos portugueses, hoje? Como se falou de novo nos Prémios Nobel, lá se ouviu o inevitável /"Nóbel"/, em vez do aconselhável /No-bél/... Já agora: donde veio o nosso biscoito? E qual é o contrário de longiléneo? E como foi a origem da frase feita pintar o sete? Destas e de outras curiosidades do nosso idioma comum se foram dando respostas a quem quer saber mais da língua portuguesa. E, além da querela do apagão, até voltámos à velha questão do a par e passo...
Os neologismos voltaram a ocupar grande parte do fluxo das perguntas e respostas do Ciberdúvidas, nesta semana que ora termina. Provavelmente motivadas pelos dois excelentes textos do jornalista Paulo Querido e da linguista Margarita Correia, em linha nas Controvérsias, foram muitas e excelentes as contribuições que nos chegaram dos nossos consulentes – seja por causa da palavra apagão ou a pretexto de uma notória gralha na publicação oficial do Estado português...
E que melhor reflexão à volta das diferenças ortográficas desta nossa língua comum, como a que escreveu uma das nossas autoridades na matéria, D'Silvas Filho?
Esta semana, como habitualmente, há muitas matérias de interesse no Ciberdúvidas. Que requisitos serão necessários para a elaboração de um bom dicionário? A propósito deste tema, a nossa consultora Maria Celeste Ramilo alude ao excelente Corpus de Referência do Português Contemporâneo feito pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.
Na rubrica Controvérsias, que acolhe o que fundamentalmente contribui para a polémica e a divergência de conceitos e opiniões, surgiram esta semana dois textos sobre os neologismos, publicados recentemente no semanário Expresso. Num deles, a nossa consultora Margarita Correia levanta questões sensíveis, mas pertinentes: «existe por parte da CPLP uma estratégia minimamente concertada para desenvolver o português e o seu uso? Existe alguma instituição oficial encarregada de proceder à normalização da língua portuguesa e, em particular, dos seus neologismos?» Em última análise, até poderemos perguntar, como o faz Margarita Correia: «Existe política de língua? Existe política de planificação linguística?» Responda quem de direito.
A propósito de neologismos, chamamos a atenção para a resposta Apagão. E hoje ainda temos as palavras transdisciplinaridade e desadsorção.
Finalmente, esta curiosidade: qual o feminino de patrono, de paraninfo e de formando?
Ciberdúvidas retomou as suas actualizações diárias, após a interrupção das férias de Verão. Voltamos mais tarde do que projectáramos e, infelizmente, com a reestruturação gráfica e do arquivo ainda em fase de concretização.
Para além de 22 novas respostas a perguntas entretanto chegadas – a uma delas, sobre a origem do termo pé-direito, até nem foi possível uma conclusão segura (pode ser que a encontremos entre os nossos consulentes)... –, ficam em linha desde esta data dez outros novos textos e pistas de reflexão sobre a língua portuguesa. Basta clicar em praticamente todas as áreas temáticas do Ciberdúvidas...
1. Se há complexidade na língua portuguesa, as regras para o uso do hífen são seguramente um caso superlativo. Até pela incoerência entre as centenas de ocorrências, novas e antigas, de prefixação quantas vezes de duvidosa aplicabilidade. Devem ser, por isso, das perguntas que mais vezes nos chegam. Esta semana, voltámos ao tema com a questão à volta do não-governamental. É uma resposta de um dos nossos mais antigos e prestigiados especialistas na matéria, D’ Silvas Filho – cujo regresso à colaboração permanente com o Ciberdúvidas tanto nos apraz registar.
2. Outro dos nossos mais antigos e ilustres consultores, José Neves Henriques, assina entretanto a resposta que mais tempo nos levou a apurar nos últimos tempos; até pela descontextualização da expressão em causa: cabra cabrês.
3. É um problema que se repete frequentemente, este da descontextualização de grande parte das dúvidas de quem nos consulta diariamente. Do mesmo modo, voltamos a lembrar que Ciberdúvidas só responde a consulentes devidamente identificados.
4. Por causa do feriado nacional em Portugal, quinta-feira, dia 19, Ciberdúvidas volta às suas actualizações diárias, na segunda-feira, dia 23. Fica, entretanto, em linha perto de meia centena de novos temas – quatro deles no Correio, por sinal, bem controversos, graças à participação de cinco atentos e activos consulentes deste sítio da língua portuguesa, como não há outro no espaço da lusofonia. Exactamente por isso.
Por que se dirá par de calças, quando o que se veste, homem, mulher ou criança, é só mesmo uma calça? E qual a razão de a omeleta dar, cada vez mais, em omoleta? E estará certo ouvirmos chamar a Sophia de Mello Breyner «um grande poeta», em vez de «uma grande poetisa»? E, afinal, de onde virá a expressão popular «meia bola e força»? E o que é isso do «pormaior»? Destas e de outras particularidades da nossa língua comum se fez o Ciberdúvidas desta semana. Mas há tudo o resto no nosso arquivo de perto de 15 mil respostas e temas diversificadíssimos, à mercê, apenas, do respectivo motor de busca.
Voltamos na segunda-feira, dia 16.
1. A Antologia é hoje enriquecida com um texto e um poema da escritora guineense Odete Semedo. «Em que língua escrever/Contando os feitos das mulheres/E dos homens do meu chão ?/ Como falar dos velhos/ Das passadas e cantigas?/ Falarei em crioulo?/... Ou terei de falar/Nesta língua lusa». Um texto belíssimo, como o de um coração ambivalente...
2. Foi uma semana menos feliz do Ciberdúvidas. Aconteceu a propósito das respostas sobre os idos, as nonas e as calendas, a metanóia “versus” metáfora e a etimologia de gamba. O pior que nos pode suceder é errar; pior ainda só mesmo não assumir o erro. Cumprida também nesse aspecto a tradição de rigor e seriedade que tanto ajudou a cimentar o prestígio do Ciberdúvidas, fica, entretanto, mais uma vez demonstrado o papel decisivo dos seus consulentes.
A singularidade deste sítio da Língua Portuguesa na Internet passa justamente pelos seus consulentes. São eles, e só eles, com as suas perguntas, sugestões, críticas e incentivos, quem nos permite manter de pé um projecto desta natureza e dimensão, a despeito de todas as dificuldades e provações.
3. Sobre as perguntas a que respondemos com especial gosto esta semana, permita-se-nos relevar duas: a do probatório e a do Y: vogal ou consoante?. A primeira, porque relança o debate sobre o que aí vai de atropelos por via das apressadas e más traduções do inglês; a segunda, por nos ter chegado de uma brasileira residente no Japão há 11 anos, preocupada com o melhor ensino da Língua Portuguesa para a filha.
4. Na próxima terça-feira, dia 10 de Junho, é feriado nacional em Portugal. Por isso, Ciberdúvidas só fará actualizações diárias quarta e quinta-feira, interrompendo depois, também, na sexta-feira, 13, feriado municipal em Lisboa.
P.S - A semana até começara luminosamente para as letras em língua portuguesa, com o Prémio Rainha Sofia [de Espanha] atribuído a Sophia de Mello Breyner. Infelizmente, terminámo-la da pior forma: a conselheira para os Assuntos de Educação da Embaixada de Portugal em Paris, a escritora Isabel Barreno, demitiu-se das suas funções em carta dirigida ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Martins da Cruz.
Isabel Barreno exercia estas funções há vários anos, concitando generalizado aplauso pelos esforços que vinha desenvolvendo em prol da Língua Portuguesa em França.
Na carta de demissão, citada pelo jornal “Público”, escreveu: «Considero não existirem condições mínimas para um exercício adequado do cargo, resumindo-se as minhas funções, a curto prazo, à coordenação do improviso e à remediação do atraso».
Será com a gestão do improviso que se promove e difunde a Língua Portuguesa em França e no mundo?
A informática mesclou o português de anglicismos tantas vezes desnecessários. Não seria muito mais fácil, e simples, se disséssemos nome de utilizador em vez de username, e senha em vez de password? A linguista Celeste Ramilo responde a uma questão sobre este assunto, valendo também a pena recordar o que sobre os estrangeirismos aconselhou o Prof. Rodrigues Lapa, na sua celebrada Estilística da Língua Portuguesa.
Nem de propósito: esta semana a CNN desactivou o serviço em língua portuguesa que tinha no sítio www.CNN.com.br.
E é do Brasil que, via Revista Educação, nos chegou esta semana um notável texto, Lula e a língua do povo, que, com a devida vénia, fica em linha na rubrica O Português na 1.ª Pessoa. A propósito do português falado pelo Presidente do Brasil, o autor, Josué Machado, escreve sobre a influência da oralidade no idioma culto e no ensino de gramática nas escolas brasileiras (e, já agora, portuguesas...).
De Bruxelas, Manuel Correia, um dos mais assíduos (e antigos) consulentes de Ciberdúvidas, voltou a questionar-nos sobre o ter que ver/ter a ver. Chamamos a atenção para a excepcional investigação de Edite Prada sobre o tema.
E como temos à porta as férias de Verão em Portugal, aí fica um Pelourinho sobre uma certa Terra Nostra…
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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