A propósito da recente Conferência de Madrid para a reconstrução do Iraque, uma consulente quis saber: Conferência dos Doadores ou dos Dadores?
Outro consulente interpelou-nos sobre a pronúncia do s do substantivo subsídio, em Portugal e no Brasil.
E por que motivo – perguntaram-nos do Brasil – cada vez mais brasileiros escrevem «Hum mil reais», como o extenso de R $ 1.000,00?
Um professor de História procurou-nos por não ter encontrado em nenhum dicionário a palavra samana.
E porquê Karina e não Carina?, contestou ainda outro dos nossos tão atentos consulentes, com reservas acrescidas sobre a melhor tradução para a expressão inglesa "case study".
E houve mesmo quem nos questionasse sobre a expressão grande maioria: «Se é maioria, não é já grande?»
Destas e de outras excelentes questões (até houve oportunidade para desfazermos um duplo equívoco à volta do poema "Loucura...", de Mário de Sá-Carneiro, citado num concurso televisivo…) se fez mais uma semana do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
1. Um professor voltou a socorrer-se do Ciberdúvidas para uma dúvida de Português surgida precisamente na sua própria escola [cf. «Lição n.º 2 e 3»]. Para além da dúvida de novo esclarecida, há este facto crescente: cada vez mais professores, e tradutores, e estudantes dos mais diversos graus de ensino, muitos deles procurando apenas aconselhamento bibliográfico para os seus trabalhos académicos, recorrem ao nosso sempre disponível e tão dedicado corpo de consultores. Fora as perguntas a que respondemos pessoalmente. De Portugal, do Brasil, de toda a África lusófona, de pontos tão distantes como da Finlândia à China, do Japão ao México.
Quem nos consulta sabe o que fazemos: verdadeiro serviço público, quantas vezes ultrapassando o âmbito deste projecto, a Língua Portuguesa. Decorrido quase um ano do regresso do Ciberdúvidas, ainda não perdemos a esperança de esse reconhecimento nos chegar, também, do Ministério da Educação, ou do da Cultura, ou de qualquer outra entidade oficial vocacionada precisamente para o apoio ao que se promove e divulga neste sítio único na Internet, em Português...
2. O sê do belíssimo poema Fado Tropical de Chico Buarque (brasileiro) e de Ruy Guerra (moçambicano) mereceu duas excelentes abordagens da Prof.ª Maria Regina Rocha. E, na esteira dos inspirados autores do Fado Tropical, dizemos da nossa parte: «Esta língua ainda vai cumprir seu ideal». Porque bebe vinho tropical, é cantada por lindas mulatas, é rendilhada por cantares alentejanos, come sardinha e mandioca, navega no Tejo e no Amazonas, será uma grande língua mundial, ela que já junta oito pátrias, na expressão do saudoso João Carreira Bom.
3. Sendo feriado em Portugal nesta segunda-feira, dia 8, Ciberdúvidas só regressa às suas actualizações diárias na terça-feira, dia 9.
Devido ao feriado nacional do 1.º de Dezembro, em Portugal, Ciberdúvidas retoma as suas actualizações só na próxima terça-feira, dia 2.
Um consulente quis saber o que escolher, e porquê, entre uma gramática e um prontuário. Óptimo pretexto, este, para a Prof.ª Edite Prada discorrer sobre os dois outros elementos imprescindíveis para o aprofundamento do estudo da língua portuguesa: um bom dicionário, e ler-se, ler-se muito, especialmente os bons autores. Muitos deles, por sinal, temo-los na nossa Antologia, com textos ou poemas escritos, alguns deles especialmente para o Ciberdúvidas, em homenagem a esta nossa mesma língua, «última flor do Lácio, inculta e bela», nos celebrados versos de Olavo Bilac.
E fica tudo o resto de mais uma semana, que até deu para conhecermos a nova e bela palavra alusofonar, inventada algures na Suécia, por quem é obrigado a produzir textos e séries de palavras para a alfabetização conjunta com os seus alunos portugueses/brasileiros/cabo-verdianos de 6-7 anos, «evitando diferenças e optando preferencialmente por semelhanças».
Que melhor exemplo da permanente invenção da língua que nos une por este mundo fora?
Um dia destes recebemos a seguinte mensagem da consulente Cecília Spatz: «Aqui na Alemanha, onde moro há dez anos, leciono português para crianças brasileiras e portuguesas e, para minha grande surpresa, algumas mães portuguesas desmatricularam seus filhos da escola assim que souberam que sou brasileira. Motivo? O Português falado no Brasil seria errado. [Proximamente,] teremos uma reunião de pais e mestre na escola para discutir a questão. Qual a opinião dos senhores em relação a problemas desta natureza?»
Independentemente do desenvolvimento ulterior deste caso(1), o que nos é solicitado encontra-se em linha sob o título O Português que se fala no Brasil. E leia-se, também, o que D’Silvas Filho escreveu em À volta da nossa língua comum, e o texto de Ida Rebelo, no ícone O Português na 1.ª Pessoa, Falar Português bem ou mal.
(1)Permita-se-nos estoutra sugestão: que nessa reunião se dê uma informação suplementar e se ouça um pouco de música. Ou seja:
a) Informem-se as mães dessas crianças portuguesas na Alemanha que, hoje, em Portugal, há já milhares de crianças brasileiras, filhas igualmente de emigrantes como elas, que andam na escola em Portugal, aprendendo com professores portugueses.
b) Depois, deliciem-se todos com uma canção de Chico Buarque ou de Caetano Veloso, escutem em silêncio um fado de Mariza, que é uma fadista portuguesa nascida em Moçambique – e sintam como o Português é um poema feito língua, que nasceu em Portugal e renasce todos os dias em África e no Brasil, ainda mais pujante ...
Nas suas Teses sobre a Lusofonia, que temos em linha na rubrica O Português na 1.ª Pessoa, o reitor da Universidade Lusófona, Fernando dos Santos Neves, centra assim a nossa língua comum nessa sua reflexão sobre Portugal, a Europa e a Comunidade de Povos de Língua Portuguesa:
«Como projecto ou questão de língua, a Lusofonia tem de ser encarada, antes de mais, como a justa avaliação e a consequente valorização da Língua Portuguesa no mundo contemporâneo. Foi, aliás, neste sentido que, na minha Carta Aberta ao Presidente Lula, me permiti chamar a atenção para o facto de o Espaço Lusófono utilizar uma mesma língua, a qual, muito mais que a Última flor do Lácio, inculta e bela, segundo os famosos versos de Olavo Bilac, é hoje, objectivamente e segundo a não menos famosa profecia de Fernando Pessoa, "uma das poucas línguas universais do século XXI" (enquanto língua falada em todos os Continentes e com um grande País, o Brasil, seu falante), podendo tornar-se um instrumento inigualável de comunicação e de desenvolvimento entre os homens.»
E escreve de seguida o Prof. Fernando dos Santos Neves: «Assim entendida, a Língua Portuguesa poderá e deverá tornar-se uma das grandes (senão a maior das) riquezas de todos os Países e Povos da CPLP e todo o investimento na sua cultura e difusão aparece como o investimento mais inteligente e mais rentável.»
Infelizmente, ao contrário do que lucidamente advoga Fernando dos Santos Neves, não tem havido «o mínimo de inteligência (até económica), por parte dos Estados Lusófonos, sequer no assegurar [da] existência de Professores da Língua Portuguesa em todos os Espaços do Espaço Lusófono e no máximo possível de Espaços do Mundo Contemporâneo». Basta atentarmos no que, nesse âmbito, resultaram as recentíssimas viagens a Angola do primeiro-ministro de Portugal, Durão Barroso, e do Presidente do Brasil, Lula da Silva. Nada, confrangedoramente nada...
E – circunscrevendo-nos, apenas e agora, a África – é exactamente em África que ainda não se assumiu de forma plena a importância da Língua Portuguesa. Quer como elemento estruturante das identidades nacionais africanas, quer como factor imprescindível para o desenvolvimento económico (uma vez que o português é a língua do acesso aos saberes e à ciência). E até como agente de democratização dessas sociedades: sendo o português língua da administração pública, o seu desconhecimento constituirá sempre factor de marginalização.
Voltando às 11 Teses ... de Fernando dos Santos Neves: para quando o investimento suficiente e «inteligente» na difusão desta nossa «língua de oito pátrias», principalmente em África?
Por exemplo: qual a percentagem de falantes de português, hoje, na Guiné-Bissau?
Na semana ora finda, fomos solicitados por um jovem consulente dos Açores, por causa de uma dúvida para um exercício que teria de apresentar na sua aula de Português. Outra veio de uma estudante de português como língua estrangeira na Colômbia. Finalmente, alguém no Brasil precisava de sugestões de bibliografia sobre a linguagem oral na aprendizagem.
São só três dos mais recentes casos ilustrativos do serviço público prestado por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa ao idioma de todos nós; ao idioma de Camões, de Machado de Assis e de Mia Couto.
Um serviço que, em circunstâncias como as que ficam atrás descritas, assume até funções de complementaridade do próprio sistema educativo de cada uma das oito pátrias desta nossa língua comum. Dos confins da Amazónia a África, de Timor a Macau. E, até, de algures na Colômbia. Ou de Paris, onde um nosso outro consulente quis saber mais sobre a origem dos sons /tch/ e /dch/ no Brasil.
A Política das Línguas numa Europa Alargada foi a mesa-redonda com que a organização da Expolíngua Portugal assinalou o último dia do 14.º Salão Português de Línguas e Culturas, realizado nos últimos três dias em Lisboa. Não podia ter sido mais oportuno este debate.
Na verdade, o alargamento da União Europeia a 10 novos países, a partir de 1 de Maio de 2004, terá reflexos nas línguas com estatuto oficial, hoje em Bruxelas. Actualmente, a União Europeia tem onze línguas oficiais. Os trabalhos do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, com a parafernália de intérpretes necessários (10 por cada intervenção), produzem já o efeito de uma autêntica Torre de Babel. Muito recentemente chegou-se à conclusão de que um dia de tradução simultânea no Conselho Europeu custa mais de 650 000 €. Com o alargamento para o ano haverá pelo menos 21 línguas oficias. Os custos de tradução e interpretação subirão em flecha. Uma solução possível será a adopção de línguas de trabalho. Se vier vingar esta solução, surgirão várias questões ou dilemas.
Será possível falarmos em democracia quando se excluem das instâncias decisórias algumas línguas (sendo, como se sabe, as línguas um dos mais fortes elementos de identidade nacional das respectivas comunidades)? Mas será possível o bom funcionamento das instituições da União Europeia com 21 idiomas? E que lugar terá o português, se prevalecer a tese do estatuto das línguas de trabalho? E será o português escolhido como língua de trabalho, tanto na futura Comissão Europeia como em Estrasburgo? Dilemas e muitas, muitas questões por apurar ...
Muito recentemente, o constitucionalista português Jorge Miranda, num longo artigo publicado no jornal “Público”, sobre a futura Constituição Europeia, fazia uma referência pertinente ao estatuto da língua portuguesa. Escrevia ele:
«A ‘Constituição’ consagra uma bandeira, um hino, um lema, uma moeda e um dia da União. Nada diz acerca das línguas oficiais e há elementos contraditórios: por um lado, fazem fé os textos do tratado que estabelece a ‘Constituição’ em todas as línguas dos Estados-membros (art. IV 10.º); mas, por outro lado, o Conselho de Ministros adopta, por unanimidade, um regulamento europeu a fixar o regime linguístico das instituições da União (art. III 339.º).»
Podemos então interrogar-nos como o faz Jorge Miranda: estará garantido o estatuto da língua portuguesa na União Europeia que vem aí?
Razões de sobra, pois, para o debate promovido no encerramento da Expolíngua Portugal 2003.
1. A Agência Estado (do jornal “Estado de S. Paulo”, do Brasil) divulgou um estudo sobre a relevância da língua portuguesa hoje nos Estados Unidos. Há mais de meio milhão de falantes de português, sendo o nosso idioma o 12.º mais falado nos EUA. Resta saber, agora, se de Portugal ao Brasil – para nos circunscrevermos, apenas, aos dois países com maiores responsabilidades nesta tão importante comunidade lusófona –, haverá estratégias de apoios apropriados... E acaso haverá, de um lado e de outro do Atlântico, uma política minimamente definida e estruturada para a difusão e promoção da língua portuguesa no estrangeiro?
2. Do Brasil ainda, um consulente interroga-nos sobre a posição do Ciberdúvidas quanto àquilo que designa por uma «oficialização de algumas peculiaridades da sintaxe brasileira», dando exemplos de algumas dessas “peculiaridades”. A resposta está dada nestes já quase seis anos de Ciberdúvidas: há uma língua comum de oito pátrias, sem donos – ou, antes, com múltiplos donos –, enriquecida justamente por essa pluralidade. Somos todos, africanos, brasileiros, portugueses e timorenses. Ou seja – na feliz expressão do nosso consultor D’ Silvas Filho –, somos irmãos na língua. [A este propósito vide, ainda, Ciberdúvidas e as duas grafias oficiais da lingua portuguesa + À volta da nossa língua comum.]
3. Na próxima quinta-feira, dia 23, abre a Expolíngua Portugal 2003, que funcionará, como habitualmente, no Fórum Picoas, em Lisboa. À Expolíngua Portugal 2003 referir-nos-emos com mais pormenor, daqui a uma semana.
1. «Mais que projecto ou questão cultural e até linguístico-literária, a lusofonia é, obviamente, um projecto ou uma questão de língua e, embora talvez menos obviamente, sobretudo um projecto ou uma questão de desenvolvimento economológico e de estratégia geopolítica». A propósito do Congresso Internacional de Literaturas Africanas, que decorreu até este sábado em Coimbra, Fernando Santos Neves, reitor da Universidade Lusófona, volta a discorrer sobre um tema que lhe é (e nos é) tão caro. O texto – notável pelo diagnóstico crítico, mas, também, pelas propostas e caminhos traçados – encontra-se em linha na rubrica O Português na 1.ª Pessoa.
2. De África, que palavras ficaram na linguagem comum dos portugueses, hoje? Como se falou de novo nos Prémios Nobel, lá se ouviu o inevitável /"Nóbel"/, em vez do aconselhável /No-bél/... Já agora: donde veio o nosso biscoito? E qual é o contrário de longiléneo? E como foi a origem da frase feita pintar o sete? Destas e de outras curiosidades do nosso idioma comum se foram dando respostas a quem quer saber mais da língua portuguesa. E, além da querela do apagão, até voltámos à velha questão do a par e passo...
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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