Tendo em conta que a língua portuguesa define um espaço onde a comunicação é também partilha do que nos une e distingue, vem a propósito aqui referir notícias que fazem eco de experiências de intercâmbio e cooperação. Fale-se, por exemplo, do Brasil, que parece manifestar interesse pelo legado cultural de Portugal e chama a si a iniciativa de o divulgar junto da população. Tal é o propósito do Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, que se prepara para organizar uma exposição interativa em homenagem a Eça de Queirós, provavelmente em 2015, segundo declarações do diretor da referida instituição, Antonio Carlos Sartini, em entrevista concedida ao jornal português Público. Enquanto isso, em Angola, no âmbito do programa CPLP nas Escolas e com o apoio da Universidade de Aveiro, lançou-se em 12/06/2014 uma plataforma eletrónica destinada a aprofundar o conhecimento dos países de língua portuguesa por parte de professores e alunos. Com a nova plataforma visa-se igualmente incentivar o trabalho colaborativo no tratamento de temas estudados em comum.
Assinalando os oito séculos do primeiro documento oficial em português – o testamento de D. Afonso II, datado de 27 de junho de 1214 –, o Movimento 2014, que tem como principal promotor o deputado José Ribeiro e Castro, lança um manifesto e uma lista de subscritores convidados em cerimónia de pré-apresentação que se realiza neste dia, na Feira do Livro de Lisboa. O texto está aberto à subscrição do público até 15 de junho e tem apresentação oficial no dia da efeméride, a 27 de junho, num evento organizado no Padrão dos Descobrimentos, na capital portuguesa. A iniciativa, que não ignora o debate à volta da identificação dos primeiros textos em português1, pretende tão-só, como se afirma no próprio manifesto, centrar-se simbolicamente «nesse dia e ao longo de um ano, para festejar com o mundo inteiro esta nossa língua: a terceira língua europeia global e a terceira também das Américas, uma língua em crescimento em todos os continentes, a quarta mais falada do mundo, a língua mais usada no hemisfério sul».
1Considera-se atualmente que as primeiras atestações do uso escrito do português são, além do Testamento de D. Afonso II, a Notícia de Fiadores, datada de 1175, o Pacto de Gomes Pais e Ramiro Pais, talvez à volta da mesma data, e a Notícia de Torto , provavelmente anterior a 1214 (cf. Ivo Castro, "Formação da Língua Portuguesa", in Gramática do Português, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, pp. 11).
A Copa Brasil 2014, como se usa no país-anfitrião – Campeonato do Mundo da FIFA Brasil 2014, como se diz em Portugal e nos demais países lusófonos –, decorre de 12 de junho a 13 de julho; e, durante todos estes dias, o mundo toma inevitavelmente contacto, de modo ora fugaz, ora mais prolongado, com a palavra falada ou escrita em língua portuguesa. Do ponto de vista de quem assiste aos jogos em Portugal, convém, ainda assim, estar avisado das diferenças que o vocabulário futebolístico revela no português brasileiro. Por isso, em O Nosso Idioma, fica em linha um apontamento assinado por José Mário Costa e o ex-jornalista de "A Bola" João Matias, à volta de alguns exemplos de variação que o chamado futebolês regista nos dois lados do Atlântico. Por exemplo, que significará artilheiro? E juiz? E o que é uma coletiva?
Mais clássica é já a perplexidade do brasileiro que visita ou se instala em Portugal e tem de se afazer ao falar lusitano. Recapitulemos, portanto, alguns lusismos com a ajuda de uma crónica intitulada Onde o bumbum é rabinho, da autoria do brasileiro Paulo Affonso Grisolli (1934-2004), autor de um conjunto de textos sobre Portugal e a língua como aqui se fala – Portugal para principiantes –, que se encontram disponíveis no sítio do Observatório de Imprensa brasileiro.
Voltando às questões, mas já no consultório: qual é a origem do substantivo família? E que tradução pode ter o latim «ne aequo»? Saroto – o que é? Estará correto fazer rimar bem com mãe? E diz-se «a disputa das eleições», ou a «disputa pelas eleições»?
Há cinquenta anos, um jovem britânico, estudante de latim e grego, era surpreendido na sua primeira visita a Portugal não pelo clima mas pelo... infinitivo pessoal. Tal é a situação descrita por Thomas F. Earle, professor jubilado da Universidade de Oxford e conhecido especialista da literatura portuguesa do Renascimento, evocando os primórdios da sua experiência como falante de português, num artigo que passa a estar disponível na rubrica Ensino. Neste trabalho, da autoria da jornalista e investigadora Raquel Ribeiro, passa-se em revista o percurso do professor Earle, que, ainda a propósito do idiossincrático infinitivo pessoal, acrescenta com ironia: «Eu estava maravilhado com os portugueses: eles ousaram inventar um tempo verbal que não estava no latim. “Infinitivo pessoal” era “uma espécie de rebelião da língua"; foi essa pequena rebeldia que me levou a estudar português.»
No consultório, ficam em linha quatro novas respostas sobre sintaxe, léxico, terminologia e ortografia.
Não obstante o peso demográfico da língua portuguesa no mundo, o reconhecimento desta realidade por parte da comunidade internacional tem ficado por vezes entre a condescendência e a desatenção. Paulatinamente, porém, onde o português não tem estatuto oficial, há sinais de um enorme interesse, certamente relacionado com o potencial económico de países como o Brasil, Angola ou Moçambique. Para dar um exemplo concreto, refira-se a Universidade do Botsuana, que passou a incluir o português na sua oferta. Noutro ponto do globo, na Venezuela, promete-se a integração do português como língua opcional no sistema de ensino. No plano diplomático, são vários os países – entre eles, Marrocos, a Turquia, o Senegal, a Namíbia, o Peru e o Japão – que já apresentaram ou vão apresentar a sua candidatura a observadores associados à CPLP. Afinal, o português também se globaliza?
Cabo Verde aplica a partir de 2014 o novo acordo ortográfico (AO) no 1.º e 2.º anos de escolaridade. A notícia foi dada na videoconferência que reuniu, em 28/05/2014, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e o Ministério do Ensino Superior, Ciência e Inovação de Cabo Verde, com a finalidade de apresentar os projetos Vocabulário Ortográfico Comum (VOC) e o Portal do Professor de Português Língua Estrangeira (PPPLE) aos professores da Universidade de Cabo Verde, do Instituto Universitário da Educação e da Universidade Piaget, bem como à Secretaria da Educação do Governo de Cabo Verde e outro público interessado. No encontro, foi também anunciada a intenção de Cabo Verde integrar o seu Vocabulário Ortográfico Nacional na primeira versão da plataforma do Vocabulário Ortográfico Comum a lançar em julho de 2014, por ocasião da cimeira dos chefes de Estado da CPLP que se realiza em Díli.
Sobre o andamento do processo de aplicação do AO no conjunto dos países de língua portuguesa, consultem-se as notícias e os artigos reunidos na rubrica Acordo Ortográfico, bem como as várias aberturas que aqui têm sido dedicadas a este tema. Uma chamada de atenção, ainda, para um trabalho publicado em 15/05/2014 no Jornal de Letras, no qual se entrevista o diretor executivo do IILP, Gilvan Müller de Oliveira.
«Um novo modo de gestão da língua» é como o diretor-executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), Gilvan Müller de Oliveira, numa peça publicada no jornal português i de 2/06/2014, vê a plataforma que acolhe o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC). Entre outras considerações, o linguista brasileiro anuncia o lançamento do resultado final do VOC em 23/07/2014, durante a cimeira de chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em Díli, e sublinha o papel fundamental deste recurso na criação dos vocabulários ortográficos nacionais (VON) de Moçambique, Timor-Leste, São Tomé e Príncipe e Cabo e Verde, países onde é a primeira vez que se realizam trabalhos de tal dimensão e exigência científica. Presta também declarações Margarita Correia, linguista portuguesa e membro da equipa coordenadora do projeto, para explicar como o VOC, partindo de uma plataforma digital que juntava o vocabulário de Portugal e do Brasil, veio posteriormente a integrar os novos VON. O artigo aqui em referência fica também disponível na rubrica Acordo Ortográfico-Notícias (ler também a abertura de 12/05/2014).
Nos media dos dois lados do Atlântico, o acordo ortográfico (AO) continua a ser tema:
– Em Portugal, o professor universitário e ensaísta Miguel Tamen, em texto saído no jornal Observador, acha o AO «uma má ideia», mas nas posições que o antagonizam tanto vê bons como maus argumentos. Noutro quadrante, a professora Lúcia Vaz Pedro, por ocasião do lançamento do seu livro Português Atual, declara ao Jornal de Notícias que «o AO permitiu unificar a língua portuguesa» – não obstante muita opinião publicada, a favor ou contra, relegar essa perspetiva para o plano do equívoco.
– No Brasil, em defesa do AO, o linguista Aldo Bizzocchi retoma na revista Língua Portuguesa o ponto de vista de Jaime Pinsky (em artigo também disponível na rubrica Acordo Ortográfico – Controvérsias), para mostrar que certos movimentos brasileiros, reivindicando uma simplificação ortográfica radical, ignoram os limites de uma questão fundamental: será que ortografia é escrever como se fala?
Vale também a pena aqui recordar que a generalização do AO a toda a comunidade lusófona teve avanços importantes em maio de 2014, sobretudo com a disponibilização, por parte do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, de uma plataforma informática que acolhe o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa. A elaboração deste recurso, assinale-se, levou Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste a produzirem pela primeira vez os seus próprios vocabulários nacionais.
Durante os meses de abril e maio de 2014, no âmbito das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril em Portugal, o Centro de Linguística da Universidade Nova (CLUNL) organizou em escolas do ensino básico e secundário um conjunto de ações de formação sob o título genérico O plural da norma. O intuito destas sessões foi sensibilizar professores de português e de outras disciplinas para a legitimidade das diferentes variedades do português. O programa de rádio Páginas de Português fez a cobertura da iniciativa, e entrevistou três membros do CLUNL, a saber: Maria António Coutinho, para falar sobre esta experiência com as escolas; Maria Lobo, acerca do convívio das variedades linguísticas no espaço escolar; e Teresa Brocardo, para acentuar como a noção de norma permanece fundamental, apesar da diversidade pluricontinental do português. Os depoimentos destas especialistas podem ser ouvidos no referido programa, na emissão de domingo, 1 de junho (às 17h00*, na Antena 2).
Assinale-se, entretanto, no programa Língua de Todos de sexta-feira, 31 de maio (às 13h15* na RDP África, com repetição aos sábados, depois do noticiário das 9h00*), uma conversa com o professor José Paulo Esperança, a respeito do potencial da língua portuguesa e das estratégias adotadas para a sua expansão.
* Hora de Portugal continental.
Interroga-se um consulente: que sentido tem chamar pintarroxo a um pássaro que, afinal, é vermelho? A razão é histórica, como se observa numa nova resposta do consultório. Outra questão: se século significa «cem anos», porque não se há de escrever com c inicial como cem? A explicação lembra que a ortografia do português também tem critérios etimológicos. Quanto às expressões idiomáticas «uma pedrada no charco» e «de uma vez por todas», é possível saber a sua origem? Finalmente, regressando à velha questão dos nomes de lugar com ou sem artigo definido, a presente atualização aborda ainda os topónimos Pedrógão e Jaçanã – este último famoso por causa da popular canção O trem das Onze (1964), de Adoniran Barbosa (1910-1982), recordada no vídeo que se segue:
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
Se pretende receber notificações de cada vez que um conteúdo do Ciberdúvidas é atualizado, subscreva as notificações clicando no botão Subscrever notificações