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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Ainda assinalando o 28.º aniversário do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, lançado a 15 de janeiro de 1997, ocorre perguntar que interesse os problemas de gramática e de norma da língua despertam entre falantes de português nascidos à roda desta data, ou seja, a Geração Z*. Que apelo terá um serviço gratuito como Ciberdúvidas, que dá esclarecimentos sobre temas da língua para esta geração nos países de língua portuguesa, nomeadamente, em Portugal? É um inquérito por fazer, mas vale a pena refletir no tema da consciência e competência linguísticas dos jovens adultos lusófonos, que enfrentam enormes incertezas, incluindo as linguísticas. A propósito do trabalho de quase três décadas do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, a consultora Inês Gama reflete em O Nosso Idioma sobre a utilidade deste serviço para os jovens adultos da Geração Z.

*Justifica-se também aqui lembrar que a expressão «Geração Z» faz parte de uma série de denominações, originalmente cunhadas em inglês, que identificam sociologicamente as gerações que se têm sucedido desde finais do século XIX. Três das gerações dos últimos 60 anos são identificadas pelas últimas letras do alfabeto latino e, assim, fala-se de Geração X, nascida entre 1965 e 1980, de Geração Y (ou Mileniais), entre 1981 e 1996 e de Geração Z (ou Zoomers, em inglês), entre 1997 e 2010/2012. Quanto à escrita da palavra geração, não sendo obrigatória a maiúscula inicial, esta é legítima em português quando se pensa no exemplo de Ínclita Geração – isto é, «ilustre geração» –, expressão em que geração tem maiúscula. Observe-se que Ínclita Geração é uma criação de Camões para referir, em Os Lusíadas, os filhos de D. João I, que protagonizaram os destinos do então reino de Portugal nas primeiras décadas do século XV. Crédito da imagem: https://justinsecurity.medium.com/xyz-why-b855970fdd89.

2. Quando o português não parece suficiente, recorremos ao inglês para um appetizer («aperitivo, entrada») ou talvez um pouco de awareness («consciência, perceção»). No Pelourinho, a consultora Sara Mourato dá conta de mais um exemplo de anglicismos escusados num canal televisivo de informação.

3.  Que valor modal tem uma frase como «É admirável e arrepiante a coragem dela»? E o que se entende por modalidade nos estudos linguísticos? São interrogações que configuram uma das oito questões que atualizam o Consultório. Abordam-se também tópicos das áreas da sintaxe – a construção clivada «é... que...», a concordância com «cada um» e a expressão «fazer cirurgia» –, do léxico – a locução «pé de castelo», a formação de adjunção, disjunção e conjunção – e da semântica – a incompatibilidade de suplicar com querer e um caso inesperado de sinonímia entre acerto e asserto.

4. Relativamente às rubricas em vídeo do Ciberdúvidas, dão-se pistas para a identificação das orações subordinadas substantivas em Ciberdúvidas Vai às Escolas (episódio 13, com a colaboração da Escola Secundária Fernando Namora, em Condeixa-a-Nova), enquanto em Ciberdúvidas Responde (episódio 18) fecha-se o ciclo do Natal com um comentário acerca do uso da forma hifenizada Ano-Novo no português do Brasil.

5. «Quando digo língua, digo mar, digo mãe e saboreio o amor de cada sílaba» – lê-se num novo texto da rubrica Antologia. É um poema em prosa da professora e escritora Ana Albuquerque.

6. Refira-se uma apropriação muito interessante, pelo escritor Miguel Esteves Cardoso, da terminologia gramatical, para falar de como se forma um leitor. Num texto intitulado "O sujeito e o predicado" (Público, 09/01/2025; mantém-se a ortografia do original), à volta da frase «ela lê um livro», afirma este autor: «A sequência sujeito-predicado-complemento indica a importância: a pessoa está acima da actividade, e a actividade está acima do objecto.» E acrescenta, provocador: «Para pôr alguém a ler, é preciso conhecer essa pessoa, para descobrir o que interessa: o sujeito vem primeiro. [...] O livro que ela lê – o complemento – é o menos importante, até porque pode sempre trocá-lo por outro.»

7. Outros registos, de eventos e opiniões em torno da língua portuguesa:

– a comemoração do bicentenário do escritor Camilo Castelo Branco (1825-1890), autor de Amor de Perdição (1862), entre muitos outros romances e novelas;

– o programa de Leituras no Mosteiro, uma iniciativa do Teatro Nacional S.João, no Porto, que, em 2025, é dedicada ao teatro em português, encerrando em junho com a leitura das três peças conhecidas de Luís de Camões: as comédias FilodemoAuto chamado dos Enfatriões e Comédia d’El-Rei Seleuco;

– à volta do projeto Amália, um grande modelo de linguagem para o português (em inglês, Large Language Model – LLM), a opinião de linguista Violeta Amélia Magalhães (Público, P 3, 06/01/2025), que considera que «[à] entrada em 2025, seria insensato ignorar que um LLM é uma forma de visibilidade e reconhecimento linguístico»;

– o artigo de opinião  "A língua que ainda está aqui" (Público Brasil, 15/01/2025), no qual o autor, o professor e linguista José Luís Landeira, defende que, «[s]e queremos que a língua portuguesa seja a ponte entre seus muitos milhões de falantes, precisamos pensá-la organicamente, como uma realidade plural e questionadora».

8. Em dois dos programas que, na rádio pública de Portugal, se centram na língua portuguesa, são temas de relevo:

– em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 17/12/2025, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a linguista Sandra Duarte Tavares discute algumas particularidades gramaticais do português. Participa ainda Carlos Rocha, editor executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, para falar de liberdade poética a propósito da expressão «bicos de rouxinóis» num poema de Vinicius de Moraes, O Falso Mendigo;

– uma entrevista a Joana Pimentel, presidente da CATPor (Canadian Association of Teachers of Portuguese – Associação de Professores de Português do Canadá), a propósito do VII Simpósio da CATPor, a decorrer nos dias 1 e 2 de março de 2025, na Missão Santa Cruz, em Montreal, Quebeque, em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 19/01/2025, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 25/01/2025, às 15h30*). O programa incluirá um apontamento gramatical da professora Carla Marques.

* Hora oficial de Portugal continental.

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1. O Ciberdúvidas perfaz 28 anos a 15 de janeiro. O projeto, lançado em 1997, nasceu da vontade dos jornalistas João Carreira Bom e José Mário Costa, que fundaram um espaço ao serviço da missão de «esclarecer, clarificar, facilitar – mas sem substituir, nunca, o que só a Gramática ensina e o Dicionário ou qualquer prontuário podem auxiliar» (nota de abertura de 15/01/97). E foi assim que o Ciberdúvidas deu o primeiro de muitos passos que o levaram a responder a milhares de dúvidas, a divulgar milhares de textos sobre a língua e a dar a conhecer centenas de publicações de interesse para o português. Pelo caminho, com registo nas suas Aberturas, observou a atualidade, acompanhou a espuma dos dias, guerras e eleições, grandes celebrações e uma pandemia. Descreveu como da realidade se fala e apontou incorreções e modismos, gralhas e estrangeirismos. Tudo a bem da língua que defende e dos falantes que a usam. Ao longo deste mais de um quarto de século, o Ciberdúvidas foi evoluindo na sua forma de comunicar e de se adaptar a um público cada vez mais vasto e com interesses diversificados. No sentido de ir ao encontro de leitores mais jovens, o projeto alargou a sua comunicação a diferentes redes sociais (Facebook, Instagram, TikTok) e inovou, criando rubricas como Ciberdúvidas Responde ou Ciberdúvidas vai às Escolas. Passou a acompanhar estudantes, que aprendem a língua, a formar professores, que a ensinam, e, neste percurso, deu início à edição dos seus Cadernos de Língua Portuguesa (1 e 2). E os projetos continuarão enquanto o Ciberdúvidas puder prosseguir na sua missão de serviço público em torno da língua!

2.  No contexto dos 28 anos do Ciberdúvidas, a consultora e professora Carla Marques assinala a data com um texto em torno do ato ilocutório expressivo ao serviço do agradecimento, passando em revista as «inúmeras expressões que mostram como os atos de agradecimento e de reconhecimento se podem espraiar em inúmeras formas linguísticas». Nesta data em que o Ciberdúvidas reforça a sua afirmação como serviço livre e gratuito, que dá sem exigir em troca, recorda-se a importância do agradecimento vindo de quem questiona e consulta: «Todas estas manifestações de gratidão e de reconhecimento são matéria que nos motiva a cada dia e nos faz ter a certeza de que o que fazemos mantém utilidade e continua a fazer sentido porque a língua continua viva e continua a haver quem a queira cuidar ou compreender melhor.»

3. Como acontece em todas as atualizações, o Ciberdúvidas partilha com os seus leitores algumas das respostas que foi apresentando às dúvidas colocadas pelos consulentes. Destacamos os aspetos de natureza histórica relacionados com a evolução da significação do nome gesto ou com a origem dos sufixos -ão e -asco. Partilhamos ainda respostas relacionadas com aspetos sintáticos («Funções associadas ao nome comparação» ou  «Argumentos do verbo perguntar»), com classes de palavras («A contração naquele»), com a ortografia e acentuação («Bem-feito e «bem feito»», «Sóis vs. sois»)) e com os valores das palavras em contexto («Bobo(a) e idiota»). 

4. A consultora Inês Gama dedica a Dúvida da Semana aos uso do advérbio direito, a partir da construção «fazer as coisas direito», uma rubrica divulgada no programa Páginas de Português, da Antena 2.

5. Entre os eventos de relevo para a língua, destacamos:

– As conferências "As traduções de Os Lusíadas", no âmbito do ciclo de conferências dedicado às comemorações camonianas, organizadas pelo CITCEM (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), que contará com os seguintes convidados: José Adriano de Carvalho (Universidade do Porto-CITCEM) – Traduções para Espanhol); Isabel Almeida (Universidade de Lisboa – Centro de Estudos Clássicos) – Traduções para Francês; José Meirinhos (Universidade do Porto – Instituto de Filosofia) – Tradução para Mirandês (evento com lugar 12/01/2025, 15h, na sala DEPER, da Faculdade Letras da Universidade do Porto);

– O programa Mesa para Dois, da Antena 1, que teve como convidado o professor universitário e tradutor Marco Neves 

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1. Destacam-se notícias sobre Donald Trump, que, preparando o seu regresso à presidência dos Estados Unidos da América, manifesta interesse em anexar territórios como a Gronelândia* e o canal do Panamá ou até um país inteiro, como é o caso do Canadá, possibilidade também admitida em linguagem agressiva pelo bilionário Elon Musk*, que integra o elenco governamental. Voltando a atenção para o mundo de língua portuguesa, se em Moçambique continua a contestação dos resultados das eleições de 09/10/2024, ao que parece numa escalada de violência, nada de semelhante ocorre em Portugal, mas uma alegada situação de insegurança pública gera celeuma neste país, tornando recorrente a palavra perceção. Pertencendo à família de palavras do verbo perceber, perceção, cujo significado básico é «ato ou efeito de perceber», tem origem, por via erudita, no latim perceptĭo, ōnis (no sentido de «compreensão, faculdade de perceber» – Dicionário Houaiss). No contexto da atualidade portuguesa, o termo perceção, frequentemente associado a insegurança («perceção de insegurança»), tornou-se ainda mais presente desde uma controversa operação policial na rua do Benformoso em Lisboa ocorrida em 19/12/2024. Entre críticos deste uso, conta-se o historiador e político José Pacheco Pereira, com o seguinte comentário: «Se tivesse que escolher a palavra do ano, essa palavra seria percepções. No plural, em Portugal e na política. Contrariamente ao que é comum, a palavra é um pouco mais sofisticada, ou dito de outro modo, intelectual, do que é costume na linguagem muito pobre das redes sociais e na habitual desertificação do pensamento. No entanto, ela está conforme com um certo psicologismo vulgar que tem outras ramificações no discurso comum e que é muito bem retratado nos reality shows que se sucederam ao Big Brother, como a Casa dos Segredos» (Público, 10/01/2025).

* Gronelândia tem a variante Groenlândia (cf. "Gronelândia...")

** O nome Elon Musk soa como "ílone massk".

Crédito da imagem: capondesign, Pixabay.

2.  De agitação política também se fala no Pelourinho, a propósito da destituição do presidente da República da Coreia do Sul e do uso incorreto da palavra mandato em referência ao mandado de detenção que impende sobre ele. Um apontamento da consultora Sara Mourato.

3. Ainda acerca da quadra natalícia, a consultora Inês Gama explora em O Nosso idioma algumas expressões que existem em português com a palavra rei, a propósito da celebração do Dia de Reis, em 6 de janeiro.

4. Não será néon um estrangeirismo e, como tal, não deveria escrever-se esta palavra em itálico ou entre aspas? A resposta faz parte do conjunto de sete que atualiza o Consultório e abrange outros tópicos, a saber: um caso de pleonasmo com valor estilístico; a expressão «pelas barbas de Neptuno»; a função sintática do adjetivo em «condição financeira»; o uso de fazer-se; e os verbos chegar e colaborar.

5. Quanto às rubricas do Ciberdúvidas que tiveram o seu arranque em 2024:

– ainda relativamente aos festejos do começo de ano, um esclarecimento sobre o galicismo réveillon em Ciberdúvidas Responde;

– em Ciberdúvidas Vai às Escolas, indicam-se estratégias para identificar as funções sintáticas do pronome relativo que (agradece-se a participação de alunos da Escola Secundária Fernando Namora, em  Condeixa-a-Nova).

6. Registos com interesse literário ou linguístico:

– a cerimónia de trasladação dos restos mortais de Eça de Queirós (1846-1900) para o Panteão Nacional, em Lisboa;

– a atribuição do Prémio Vergílio Ferreira à escritora Djaimilia Pereira de Almeida;

– a publicação pelo governo português da resolução (Diário da República ) que determina a criação do modelo de linguagem Amália, o qual, segundo os correspondentes em Portugal e na Galiza da revista digital Brasil Já, terá como um dos seus objetivos «separar variantes da língua, citando nominalmente o português europeu e o português do Brasil».

7. Dos programas que, na rádio pública de Portugal, versam sobre língua portuguesa, salientam-se:

– No programa Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 10/01/2025, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a entrevista ao editor executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, Carlos Rocha, sobre as dúvidas provenientes dos países africanos de língua oficial portuguesa que foram mais recorrentes em 2024 no consultório deste portal;

– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 12/01/2025, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 18/01/2025, às 15h30*), centra-se igualmente nos tópicos mais recorrentes, em 2024, no Consultório do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, numa conversa com o seu editor executivo. Ainda o apontamento gramatical da consultora Inês Gama sobre a classe de palavras de direito.

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1. O lugar de Dúvida do ano de 2024 é partilhado por duas incorreções que se encontram com alguma regularidade em textos escritos. Segundo os leitores e consulentes do Ciberdúvidas, os problemas ortográficos com que mais frequentemente se deparam estão relacionados com o verbo haver (que aparece registado com a forma incorreta *a ver) e com a grafia da 2.ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo das formas verbais (expressas na grafia incorreta do sufixo -te, que surge separado da base verbal por meio de um hífen (com registos como *entras-te ou *ficas-te). Os resultados da votação mostram que há erros que permanecem com uma constância que parece difícil de combater. Em consonância com estes resultados, note-se que a dúvida mais consultada no acervo do Ciberdúvidas está relacionada com a grafia do verbo haverÀ ou há?») e que os vários problemas relacionados com o uso incorreto do hífen nas formas verbais são apontados desde a criação do portal («Assassinos com hífenes», «Amor com hífen», «As formas verbais com sse ou -se», «Sobre os erros morfossintáticos»). Os resultados da Dúvida do Ano mostram que a ortografia continua a ser uma área em que a escola deve insistir ao longo do percurso dos seus alunos, pois o conhecimento das suas regras não parece constituir um assunto resolvido na sociedade portuguesa. A supervisão dos textos divulgados na comunicação social também poderá ajudar a resolver problemas desta natureza. Ciente destes problemas, o Ciberdúvidas continuará a esclarecer problemas desta ordem e a apontar erros identificados. A Palavra do Ano da Porto Editora foi também anunciada: trata-se do nome liberdade, uma escolha que poderá estar relacionada com as várias iniciativas que assinalaram os 50 anos do 25 de Abril.

2. Os restos mortais de Eça de Queirós, autor de obras intemporais como Os Maias ou A ilustre casa de Ramires, serão trasladados para o Panteão Nacional no dia 8 de janeiro de 2025. Depois de um impasse devido à oposição a esta decisão por parte de alguns membros da família, a trasladação do corpo foi finalmente autorizada dando cumprimento à deliberação da Assembleia da República, aprovada por unanimidade, em janeiro de 2021. Os restos mortais de Eça de Queirós, que foram sepultados em 1900 em Lisboa e trasladados em 1989 para o cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião, regressarão a Lisboa, desta feita para ter direito a honras de Panteão, ao lado de escritores como Almeida GarrettAquilino Ribeiro ou Sophia de Mello Breyner Andresen, entre outros. Neste acontecimento, destacam-se os nomes panteão e o verbo trasladar. O primeiro é, neste contexto, um termo da arquitetura, que descreve um monumento nacional onde se depositam os restos mortais de figuras ilustres de uma nação. Não obstante, esta palavra, que vem pelo latim panthĕon, também refere, na área da mitologia, o conjunto de personagens mitológicas de uma religião politeísta. Por seu turno, o verbo trasladar (equivalente da forma transladar) é usado para descrever o ato de mudar os restos mortais de alguém para outra sepultura. Este verbo formou-se com base na forma latina translatus, que significa «procissão, acompanhamento com pompa». 

3. A seleção do género do nome bacanal pode estar associada a sentidos diferentes que vão desde a referência a uma festa da Antiguidade romana ou um evento marcado pela livre prática da atividade sexual, tal como é explicado nesta resposta. Poderão ainda ser consultadas as seguintes respostas novas: «Aquando vs. "aquando de"»; «O complemento de aspeto», «Fardo, quilo e litro com complemento nominal», «"Não saber nada" e "não saber de nada"», «Consolidação vs. solidificação», «Adiar e agradecer». 

4. O verbo dar é típico da época natalícia, em todos os tempos verbais e em todas as pessoas, mas ficará a época reduzida à materialidade expressa pela palavra? O apontamento da professora universitária Sónia Valente Rodrigues aborda estas questões de natureza lexical e humana. 

5. Os trocadilhos que o nome do futebolista Rodrigo Mora permitem nas capas dos jornais desportivos dão matéria ao apontamento do consultor Paulo J. S. Barata para a rubrica O Nosso Idioma

6. A vida literária da poetisa portuguesa Adília Lopes é recordada no texto do professor e presidente da APP João Pedro Aido, a propósito do falecimento da escritora em 30 de dezembro de 2024. 

7. Entre os eventos de relevo, damos destaque a alguns encontros que têm lugar no decurso desta semana:

– O Debate organizado pela Associação de Professores de Português subordinado ao tema «O ensino da literatura: cânone e competências complexas de leitura», no dia 9 de janeiro, entre as 17h30 e as 20h30 (inscrição obrigatória aqui);

– O evento dedicado ao tema «Políticas linguísticas como cuidado: o exemplo do contexto moçambicano», no dia 8 de janeiro, às 18h00, com a presença de Ezra Chambal Nhampoca, Diretora da Escola de Comunicação e Artes-UEM, Moçambique, e investigadora da UFSC, Brasil, e CEL-UTAD, Portugal, realizado em modo híbrido (via Zoom e presencialmente no IENA da FLUC, 6.º piso) e com o apoio do CELGA-ILTEC (mais informações);

– A conferência em linha «Linguagem sensível ao género: perspectivas e desafios», organizado pela Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres e o Centro de Linguística da Universidade NOVA de Lisboa, no dia 9 de janeiro, entre as 16h30 e as 18h (via Zoom, neste endereço).
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1. Como foi anunciado na Abertura de 17/12/2024, reduz-se o ritmo das atualizações do Ciberdúvidas no período do Natal e do Ano Novo, com uma pausa na atividade do Consultório de 18 de dezembro a 6 de janeiro*. No entanto, sempre que o interesse e a atualidade o justifiquem, incluem-se novos artigos nas demais rubricas – O Português na 1.ª Pessoa, Diversidades, Notícias, Montra de Livros –,  além de se renovarem igualmente os vídeos da rubrica Ciberdúvidas Responde, que, com Ciberdúvidas Vai às Escolas, integra os novos projetos lançados em setembro e outubro de 2024. Destas atualizações mais pontuais se dá conta no ponto 4 desta Abertura. Entretanto, mantém-se o acesso livre ao vasto arquivo do Ciberdúvidas, mais de 50 000 artigos, desde respostas a dúvidas até textos mais desenvolvidos, de informação ou reflexão sobre o nosso idioma comum. Para quantos nos acompanham, nos países de língua portuguesa ou em qualquer outra parte do mundo, vão os nossos votos de Festas felizes e um ótimo 2025!

* Para outros assuntos, que não digam respeito a questões da língua, ficam disponíveis os nossos contactos.

2. Decorre até 3 de janeiro a votação para seleção da Dúvida do Ano de 2024. Apresentam-se dez possibilidades, das quais os participantes neste passatempo poderão selecionar aquela que julgam ser a mais corrente. A lista de dez erros frequentes foi mencionada na Abertura de 03/12/2024 e encontra-se no formulário de resposta que se preenche aqui.

3. Importa salientar que os conteúdos deste portal são igualmente disponibilizados nas redes sociais Facebook, Instagram e TikTok, bem como no Youtube.

4. Registo dos conteúdos postos em linha a partir de 18/12/2024:

Ciberdúvidas Vai às Escolas: "Como se distingue o complemento do nome de outros complementos?", episódio 11, com a participação da Escola Secundária Fernando Namora, em Condeixa-a-Nova (18/12/2024).

Ciberdúvidas Responde: "O nome Natal tem plural?", episódio 14 (20/12/2024); "A palavra advento e o nome Belchior/Melchior", episódio 15 (27/12/2024); "Ano Novo e 'ano novo'", episódio 16 (02/01/2025).

O Nosso Idioma: "As palavras Advento e Natal" (18/12/2024); "Athleisure" (19/12/2024).

Notícias: "William Labov (1927-2024)" (18/12/2024); "Agência Lusa e Priberam apresentam as palavras de 2024" (19/12/2024).

Antologia: "Trapologia" (03/01/2025).

5. Assinale-se ainda que, semanalmente, as Notícias registam os temas dos programas de rádio que a Associação Ciberdúvidas produz para a rádio pública de Portugal, ou seja:

Língua de Todos, difundido na RDP África às sextas-feiras, 13h20* e repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*;

Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, aos domingos, às 12h30*, e repetido no sábado seguinte, às 15h30*.

Mencione-se ainda o programa Palavras Cruzadas, que, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, chega ao fim nos derradeiros dias de 2024. Últimos episódios: "Quatro anos de Palavras Cruzadas" (30/12/2024) e "Obrigada" (31/12/2024).

*Hora oficial de Portugal continental, ficando depois ambos os programas disponíveis aqui e aqui.

6. Finalmente, a propósito das palavras amizade e solidariedade, que se tornam mais presentes no que se diz e escreve na quadra natalícia, fica também um poema de Alexandre O'Neill (1924-2024), cujo centenário se celebrou em 19/12/2024:

Amigo

Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!

Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo

Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!

Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.

Amigo é a solidão derrotada!

Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!

in No Reino da Dinamarca, 1958
Fonte: Escritas.org 

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1. As palavras permanecem no centro do nosso quotidiano uma vez que, por meio delas, podemos referir diferentes realidades, materiais ou imateriais. É o seu relevo no espaço público e nas interações humanas que sinaliza, não raro, a importância atribuída às situações. Esta semana, em Portugal, uma das palavras em destaque foi pré-triagem, um neologismo usado para descrever um novo procedimento que será adotado na admissão de mulheres grávidas em hospitais da rede do Serviço Nacional de Saúde. O termo selecionado para designar a nova realidade poderá tanto sugerir uma primeira triagem como veicular uma significação redundante, uma vez que triagem significa «selecionar ou escolher previamente», ao passo que, entre os seus diversos valores, o prefixo pré- significa «anterioridade no tempo». Nesta última linha de interpretação, o prefixo poderia veicular um valor que se sobrepõe ao de anterioridade já incluído em triagem. Deste modo, para referir a medida que visa efetuar uma seleção das grávidas, bastaria recorrer ao termo triagem ou eventualmente à expressão «primeira triagem», deixando em aberto a possibilidade de existência de outras triagens a serem efetuadas no local a que se dirigir a grávida. As palavras são também responsáveis por algumas dúvidas dos falantes, como se pode concluir pela consulta dos termos mais pesquisados no Google em 2024, divulgados pelo Jornal de Notícias, entre os quais encontramos a distinção entre fagulha e faúlha (palavras que poderão ser sinónimas em função do sentido que atualizam, como se explica nesta resposta). Nesta listagem, encontramos ainda a pesquisa que procura identificar a forma correta: «com certeza ou concerteza?» (sendo a última a forma incorreta, o que já se assinalou por diversas vezes). Noutro plano, no cotejo entre as variedades do português, identificamos originalidades em determinados usos, como se verifica nas construções «efeito gargalo», «dar gargalo» ou «fazer gargalo», usadas no português do Brasil com o intuito de descrever uma determinada restrição que cria dificuldades numa etapa do processo, porque não existe capacidade de dar resposta aos pedidos. 

2. No Consultório, explica-se como se deve fazer a abreviatura da palavra número, uma resposta que se faz acompanhar de outras oito, que completam a atualização: «O complemento do nome itinerário», «Locuções inexistentes: «não excluso que» e «incluso que»», «Antiguíssimo e boníssimo», «A expressão «minha autobiografia», «A palavra brasiliano(a)», «Os nomes embalagem e embalo», «A expressão «tocar (ao) de leve»» e «Pertences e pertenças».

3. A divisão de uma palavra nas suas sílabas constitutivas pode gerar dúvidas quando os vocábulos incluem um ditongo ou encontros vocálicos. As palavras história e dia são exemplo das dúvidas que podem ocorrer na identificação das sílabas, o que motiva o apontamento da professora Carla Marques (divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2). 

4. Ricardo Cavalieri, professor universitário aposentado, apresenta um artigo no qual se debruça sobre as consequências do preconceito linguístico e avança possibilidades de inclusão social e linguística (partilhamos, com a devida vénia, a terceira parte do artigo partilhado no mural Língua e Tradição).

5. Numa época marcada por muito eventos, destacamos os seguintes:

– Debate em linha intitulado O ensino da literatura: cânone e competências complexas de leitura, dinamizado pela Associação de Professores de Português, que terá lugar no dia 9 de janeiro de 2025 entre as 17h30 e as 20h30 e cujas inscrições se encontram abertas;

– Exposição O humor unido jamais será vencido – Os cartoons da revolução (1974-1976), a decorrer no Museu Bordalo Pinheiro, em Lisboa;

– A comemoração dos 500 anos da morte do navegador português Vasco da Gama, com várias atividades associadas (notícia).

6. Finalmente, como é hábito na quadra do Natal, coincidindo com a pausa escolar em Portugal, o Ciberdúvidas reduz o volume de conteúdos publicados e encerra o seu serviço de esclarecimento de dúvidas de 18 de dezembro a 6 de janeiro. Para assuntos que não digam respeito a questões da língua, ficam disponíveis os nossos contactos. Sempre que o interesse e a atualidade o justificarem, incluem-se novos artigos nas demais rubricas – O Português na 1.ª Pessoa, Diversidades, Notícias, Montra de Livros. Sobre a atividade deste portal durante os próximos dias, é dada mais informação na abertura de 20 de dezembro.

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1. Falando de futebol, no Ciberdúvidas tem-se dado conta de deslizes cometidos sob a pressão do momento em conferências de imprensa e em transmissões diretas. Compreende-se que assim aconteça, porque o discurso oral espontâneo se presta a lapsos cujos autores frequentemente corrigem logo a seguir. No registo escrito, embora seja hoje muito mais fácil revertê-los, dada a flexibilidade do suporte digital, a verdade é que há erros que ficam perdidos numa ou noutra página eletrónica. É o caso do subtítulo «E que jogos haverão em Portugal?», que se lê (ou lia, porque a correção vem sempre a tempo) numa notícia sobre o anúncio do Campeonato Mundial de Futebol FIFA de 2030, que se realizará em Espanha, Portugal e Marrocos, além de incluir ainda alguns jogos disputados na Argentina, Uruguai e Paraguai (cf. "Já se sabia há algum tempo, mas agora é oficial: Mundial 2030 passa por Portugal, África e América do Sul", Sapo 24, 11/12/2024). Como se sabe, e como tantas vezes se esquece, o verbo haver só se usa na 3.ª pessoa do singular quando tem valor existencial, conforme se lê numa resposta em arquivo. A forma correta do subtítulo em causa é, portanto, «E que jogos haverá em Portugal?».

Crédito da imagem: Pixabay.

2. «Roma e Pavia não se fizeram num dia», «todos os caminhos vão dar a Roma», «quem tem boca vai a Roma» e outros ditos refletem a importância da Cidade Eterna ao longo dos tempos. Em O Nosso Idioma, a consultora Inês Gama explora num apontamento alguns dos provérbios que existem em português com a referência à cidade de Roma. Na mesma rubrica, fala-se de brain rot, que é a expressão escolhida como Palavra do Ano de 2024 pela Oxford University Press e dá o mote para um comentário da consultora Sara Mourato.

3. A linguagem do Padre António Vieira mantém-se atual e, portanto, levanta problemas que são ainda os do português contemporâneo. Por exemplo, como classificar a oração que finaliza a frase «louvai a Deus, enfim, servindo e sustentando ao homem, que é o fim para que vos criou» (Sermão de Santo António aos Peixes)? Trata-se de uma oração coordenada explicativa, conforme se comenta numa das sete novas perguntas disponíveis no Consultório. São também tópicos desta atualização: o topónimo Mualdes (Coimbra); a expressão «segurar nas costas»; o uso preposicional de passante; a comparação «menos seis horas que»; o modificador do nome restritivo em «estrutura satírica»; e a construção «outra coisa que não seja».

4. As orações coordenadas explicativas são também objeto de análise no episódio 10 de Ciberdúvidas Vai às Escolas. A esta rubrica em vídeo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa junta-se Ciberdúvidas Responde, cujo episódio 13 revela como um nome próprio como Natal também permite a formação do diminutivo Natalzinho.

5. Refira-se que tem muito interesse o novo episódio de Palavrões na Ciência, podcast realizado por Marco Neves e Cristina Soares, dedicado ao tema "A tradução automática nas Urgências". São entrevistadas duas especialistas em tradução, Hanna Pięta Cândido (Universidade Nova de Lisboa) e Susana Valdez (Universidade Leiden), a respeito dos problemas encontrados pelos imigrantes no uso de ferramentas de tradução automática no contexto dos cuidados de saúde. Recorde-se que Hanna Pięta e Susana Valdez foram também as convidadas do seminário à distância "Tecnologias e barreiras linguísticas" promovido em 12/12/2024 pelo curso Migrações e Desafios da Integração, do Iscte.

6. Outros registos:

– em 09/12/2024, o falecimento do escritor Dalton Trevisan, que, entre outras distinções, ganhou o Prémio Camões de 2012;

– em 13/12/2024, no Centro de Linguística da Universidade do Porto, a conferência de Pilar Barbosa (Universidade do Minho) intitulada “Interface entre sintaxe e morfologia, Morfologia Distribuída e aplicações ao português”;

– durante a quadra natalícia, o "Calendário de leituras para as festas", uma proposta do Plano Nacional de Leitura;

– em 09/01/2025, a ação de curta duração "O ensino da literatura: cânone e competências complexas de leitura", realizada à distância e promovida pela Associação de Professores de Português (inscrições obrigatórias aqui);

– até 28/02/2025, a mostra bibliográfica "Camões Universal", que a Academia das Ciências de Lisboa tem patente na sua sede.

7. Temas de três dos programas que a rádio pública portuguesa dedica a temas do português:

– Em Língua de Todos, difundido pela RDP África, na sexta-feira, 13/12/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista com a linguista Margarita Correia, professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sobre «Representações políticas e sociais nas definições lexicográficas – do Dicionário da Língua Portuguesa à Infopédia», comunicação de 12/12/2024, em Genebra.

– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 15/12/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 21/12/2024, às 15h30*), a investigadora Elena Lombardo do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa apresenta o projeto "Do pergaminho ao computador: editar manuscritos na era digital", que visa a divulgação da filologia digital. Ainda o apontamento gramatical da professora Carla Marques que discorre sobre a divisão silábica das palavras história e dia.

– Igualmente na Antena 2, mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, de segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*.

* Hora oficial de Portugal continental.

8. Por último, recorda-se que decorre o passatempo A Dúvida do Ano 2024, dedicado nesta edição à ortografia. Para votar, basta clicar aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A queda de Bashar al-Assad, presidente da Síria há quase 24 anos, está a ser interpretada como uma oportunidade que o país encontrou para se reconciliar com a sua história, apesar da ameaça latente dos perigos associados às posições extremistas que poderão ocupar o poder. Esta reviravolta na política síria parece ter colocado um ponto final nos governos da família al-Assad, que ocupou o poder durante mais de meio século. O presidente agora deposto encontra-se exilado na Rússia, país que lhe concedeu o estatuto de asilo humanitário. O termo asilo, que advém do latim asӯlum, tem significados diversos, podendo referir tanto um local onde se albergam pessoas necessitadas (sinónimo de hospício), como um lugar inviolável ou seguro. A palavra asilo pode ainda ser usada como uma referência associada a sentidos imateriais como «acolhimento, proteção, guarida». Usa-se na expressão «dar/pedir asilo (político)», que ativa os valores de proteção dada a pessoa perseguida e também de local de refúgio onde essa guarida é concedida. O nome exílio, do latim exsilĭum, por seu turno, refere a «ação de expulsar alguém da pátria, desterro, deportação». O termo pode igualmente designar o lugar onde alguém se encontra expatriado. Assim, poderemos afirmar que Bashar al-Assad foi exilado do seu país e que se encontra no exílio na Rússia, onde lhe foi concedido asilo político. Não se confunda ainda o verbo asilar («dar ou obter asilo») como o verbo exilar («expulsar do seu país; deslocar-se para lugar distante»).

*Foram consultados os dicionários Priberam e Dicionário da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa.

2. As questões que chegaram mais recentemente ao Consultório incidem na área da sintaxe (com estreitas ligações à semântica) e abordam a classificação de orações que não estão contempladas na classificação escolar tradicional (como é o caso das orações comparativas condicionais). Dão também matéria a diferentes respostas, tal como a compreensão da estrutura sintática na base da construção clivada canónica, a sintaxe do verbo incentivar e a relação entre o complemento circunstancial de companhia (classificação da Nomenclatura gramatical portuguesa) e a função de complemento oblíquo e modificador (classificação presente, por exemplo, no Dicionário Terminológico). Poderão ainda ser consultadas respostas sobre os processos de coesão lexical e a repetição, os verbos anedotizar e "anedotear", os gentílicos malaio e malásio, a expressão «a sorte grande e a terminação» e o encontro da conjunção que com a locução relativa «o que».

3.  No contextos das dúvidas que chegam ao Consultório do Ciberdúvidas, recordamos que está aberta a votação para a seleção da Dúvida do Ano, uma rubrica que permite aos leitores do Ciberdúvidas elegerem a dúvida que mais frequentemente identificam no seu quotidiano. Este ano, as dúvidas selecionadas são de natureza ortográfica, como se explica na notícia. A votação pode ser feita aqui

4.  As expressões «ao invés de» e «em vez de» são, por vezes, interpretadas como equivalentes, o que pode gerar ruído na comunicação. A consultora Inês Gama explica as diferenças e aponta as construções equivalentes no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2. 

5. O gramático e professor de língua portuguesa Fernando Pestana propõe o neologismo "sobreísmo" (um termo da família dos fenómenos de queísmo e dequeísmo, já catalogados no campo da linguística) para descrever a tendência para colocação da preposição sobre em diversas construções, num apontamento que pode ser lido na rubrica O Nosso Idioma

 6. Dora Gago, professora universitária e investigadora, propõe uma reflexão sobre a importância da leitura, colocando a tónica na importância de estimular a leitura junto das crianças, desde muito cedo.

7.  Destacamos o encontro que terá lugar na terça-feira, dia 10 de dezembro, às 14h30 (17h30, hora de Portugal), no Real Gabinete Português de Leitura, do Rio de Janeiro, no qual o professor universitário Carlos Reis proferirá uma comunicação intitulada "As personagens d'Os Lusíadas e as suas representações". O evento terá transmissão ao vivo pelo canal do Youtube, nesta hiperligação.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Entre notícias de agitação social e política, os media portugueses assinalam também uma efeméride: a comemoração em 7 de dezembro do centenário de Mário Soares (1924-2017), figura marcante da democratização desencadeada em Portugal pela revolução de 25 de Abril de 1974 e depois na consolidação do regime, como primeiro-ministro e, mais tarde, como presidente da República. O papel histórico de Soares na sociedade portuguesa encontra-se também documentado em termos e expressões de um passado recente: soarismo, como linha de pensamento e atuação política de Soares (cf. Infopédia); ou o lema «Soares é fixe», popularizado pela campanha para as eleições presidenciais de 1986. E vem a propósito lembrar que o apelido Soares tem configuração bastante frequente na história dos apelidos em Portugal. Com efeito, trata-se de um antigo patronímico que significava «filho de Soeiro», como se explica numa resposta de 1997, da autoria de José Neves Henriques. Os patronímicos eram nomes pessoais do período medieval galego-português, que se formavam geralmente com o sufixo -ez, comum a outras línguas ibero-românicas (leonês, castelhano) e se empregavam para indicar a filiação (ao que parece, só a do pai). Com o andar dos tempos, estes patronímicos tornaram-se apelidos, perdendo o significado e a função originais: além de Soares, há os casos de Fernandes, Rodrigues ou Henriques, e muitos outros, que literalmente significavam «(filho/a) de Fernando», «de Rodrigo» e «de Henrique», respetivamente. Sobre este tipo de apelidos e acerca dos nomes próprios de pessoa (antroponímia), consultem-se os seguintes conteúdos em arquivo: "A formação dos patronímicos", "Patronímicos, apelidos e genealogia", "Nome e apelido", "Origem do apelido Fernandes", "Significado do apelido Lopes", "Henriques", "A origem do nome Rodrigues", "Os apelidos Rodrigues e Roiz".

Ainda relativamente a este tema, mas já no plano dos primeiros nomes (tradicionalmente, «nomes de batismo»), refira-se que, em 2024, os nomes Maria e Francisco continuaram a ser os mais frequentes no registo de crianças em Portugal. Cf. "Maria e Francisco voltaram a ser 'reis' em 2024", Público, 05/12/204. Na imagem, capa da edição fac-similada de Antroponímia Portuguesa (1928), de Leite de Vasconcelos (1858-1941).

2. Em Montra de Livros, apresentam-se duas publicações:

– Estudos em variação linguística nas línguas românicas – 2, que reúne um conjunto de textos cujo objetivo principal é apresentar e discutir questões empíricas, metodológicas e teóricas do estudo da variação e mudança linguística.

Queria? Já não quer?, livro em  que o autor,  o professor universitário, tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves, retoma o tema das ideias falsas sobre a origem e o uso de certas palavras e expressões do português.

3. Falando de mitos, em Portugal continental imagina-se por vezes que a maneira de falar característica dos açorianos se resume ao que se ouve na ilha de São Miguel. A realidade é que os Açores são um arquipélago de nove ilhas, com importante diversidade linguística. Em Diversidades, a consultora Sara Mourato revela como, na ilha Terceira, se detetam especificidades lexicais e fonéticas que reforçam a identidade local.

4. Como é possível que camafeu, que designava principalmente certo tipo de joia, também possa hoje significar «pessoa feia»? No Consultório, esta pergunta faz parte do conjunto de sete novas questões, que também abrangem problemas de sintaxe ("Viver + gerúndio", "Às vezes... outras vezes..."), semântica ("Ir sair"), léxico ("'Com base em' + siglas") e história da língua ("O arcaísmo empós", "A origem do verbo arremessar").

5. Quanto às rubricas em vídeo do Ciberdúvidas:

– No episódio 9 de "Ciberdúvidas Vai às Escolas", uma aluna da Escola Portuguesa de Díli pergunta: que tipos de complemento se associam ao verbo correr em «correr daqui para fora» e «correr os cem metros»?

– O Natal é o mote dos novos episódios de Ciberdúvidas Responde, e o episódio 12 diz respeito ao português do Brasil: qual é o plural de Papai Noel?

6. Registo de um anglicismo da atualidade: a expressão brain rot, livremente traduzida como «podridão cerebral» (por excesso de consumo de conteúdos digitais) e votada como palavra do ano de 2024 pelos lexicógrafos da Oxford University Press.

7. Nos programas que, na rádio pública de Portugal, têm a língua portuguesa por tema, são temas de relevo:

– Em Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 06/12/2024, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a linguista Sandra Duarte Tavares aborda o conceito de comunicação assertiva e a diferença entre o significado das palavras positividade e positivismo, ainda a origem do termo berbicacho e o sinónimo do termo do português de Angola mambo.

– Em Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 08/12/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 14/12/2024, às 15h30*), a professora da Universidade de Lisboa Margarita Correia concede uma entrevista sobre «Representações políticas e sociais nas definições lexicográficas – do Dicionário da Língua Portuguesa à Infopédia», comunicação que proferiu em 12/12/2024, em Genebra, no encontro A Língua que Abril nos Deu. Ainda o apontamento gramatical da consultora do Ciberdúvidas Inês Gama sobre as locuções «em vez de» e «ao invés de».

– Refere-se ainda o programa Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A ortografia é um código desenvolvido por uma comunidade com a finalidade de permitir registos escritos, de vária ordem, que possam ser lidos e compreendidos por todos os que aprenderam as suas regras e dominam a língua que os alimenta. A própria formação da palavra aponta para a normatividade: ortografia vem do grego, resultando da junção de orthós, que significa «correto», e graphê, que significa «escrita». As normas ortográficas são ensinadas no momento da aprendizagem da escrita, o que constitui um processo muito relevante nos primeiros anos de escolaridade. Não obstante, este percurso de aprendizagem da grafia das palavras vai ocorrendo em todas as fases da vida, sempre que o sujeito escrevente se depara com uma palavra nova ou com uma palavra cuja forma desconhecia. É certo também que tanto as dúvidas quanto as aprendizagens erradas são responsáveis por incorreções ortográficas que, com o auge das redes sociais, se vão disseminando, chegando a muitos falantes e, por vezes, instalando a dúvida. Entre os erros, encontramos aqueles que têm uma natureza fonética relacionada com a imagem visual da palavra, de que é exemplo a confusão entre viagem, nome, e viajem, forma verbal. A forma como se perceciona o som de uma palavra dá igualmente origem a erros, pois, em determinados vocábulos, há sons cuja articulação não corresponde ao grafema, o que se ilustra com os seguintes pares que evidenciam, respetivamente, o distanciamento entre a forma como alguns falantes pronunciam a palavra e a grafia desta: "elações" vs. ilações; "iminência" vs. eminência; "riu" vs. rio; "ilegível" vs. elegível ou "pião" vs. peão. Outros problemas ortográficos relacionam-se com uma aprendizagem deficitária da morfologia verbal, tal como ilustra a flutuação muito frequente na grafia da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo: "entras-te" vs. entraste. Encontramos também erros de natureza mais complexa, que estão relacionados com a forma como se identifica a palavra e a sua classe ou função (como acontece na confusão entre haver e «a ver»). Apontamos também dificuldades na individualização lexical, que permite estabelecer a fronteira entre as palavras, o que se observa nas hesitações entre senão e «se não» ou entre enfim e «em fim». As dúvidas no campo da ortografia são diversas e, não raro, ditam a persistência do erro, uma situação que deve ser combatida pelo contributo da consciencialização. Por esta razão, este ano, o Ciberdúvidas decidiu dedicar a rubrica Dúvida do Ano às questões ortográficas. Apresentam-se os 10 erros frequentes analisados atrás e solicita-se aos nossos consulentes e seguidores que procedam à votação para seleção da Dúvida do Ano de 2024, indicando qual o erro com que mais frequentemente se deparam nos textos que leem. A votação decorrerá até ao dia 3 de janeiro e os resultados serão anunciados no dia 7 de janeiro. 

2. Na área lexical, a Porto Editora lança também a votação para a eleição da Palavra do Ano. A palavra de 2024 será escolhida entre os seguintes vocábulos, que se destacaram ao longo do ano: auricular, conflitos, fogos, imigração, inclusão, INEM, jovem, liberdade, polícia e transportes.

3. A natureza do pronome se em construções como «Aqui vive-se bem» oferece, não raro, dúvidas na sua interpretação, as quais poderão tornar-se ainda mais complexas quando se considera a alternância entre «elogia-se os alunos» e «elogiam-se os alunos». Na atualização do Consultório, esta é uma questão que, mais uma vez, se aborda, considerando igualmente a natureza dos verbos intransitivos. Poderão ainda ser consultadas as respostas relacionadas com os seguintes aspetos da gramática: «Verbos pronominais essenciais»; «Substantivo relacionado com insosso»; «Aeroportos e nomes próprios de pessoa»; ««Dar medo», «fazer medo», «meter medo»»; «A sintaxe de «abrir alas»»; «Frases interrogativas e modo nas orações subordinadas» e «Demonstrativos e apresentações».

4.natureza da expressão «ora essa» é o assunto central do apontamento desta semana da professora Carla Marques, uma rubrica divulgada no programa Páginas de Português, na Antena 2 (em 1 de dezembro de 2024).

5. Poderá a Inteligência Artificial influenciar o discurso dos humanos? A questão, que poderia parecer do domínio da ficção científica até há bem pouco tempo, parece ter passado para o domínio da realidade, tal como o comprova a investigação do professor catedrático espanhol  Ezequiel López, que concluiu que os humanos usam palavras que recolheram de textos do ChatGPT, uma pesquisa que adiantou ainda que a «inteligência coletiva, tal como a entendemos, está em perigo se começarmos a usar a IA de forma massificada». Os resultados da investigação poderão ser avaliados no artigo de divulgação científica que, com a devida vénia, traduzimos do espanhol (originalmente publicado no jornal El País). 

6. Entre os acontecimentos de relevo, destacamos:

– A aprovação, pela Assembleia da República, de uma dotação de 500 mil euros para promoção da língua mirandesa;  

– A proposta de Macau para a inclusão de uma dança folclórica portuguesa na Lista do Património Intangível do território, uma lista que, em 2019, passou a incluir o teatro em patuá, o dialeto crioulo da comunidade.